Tudo começa na representatividade
Por Francelina Ferreira do Amaral, directora-geral do InterContinental Cascais-Estoril
Portugal tem menos de 14% das funções de direcção-geral exercidas por mulheres. Os números tornam-se ainda mais preocupantes, quanto maior for a empresa: apenas 9% das grandes empresas são dirigidas por mulheres.
Desde muito cedo que sempre ouvi dizer que havia cargos para homens e cargos para mulheres, e os de direcção estariam reservados ao sexo masculino, segundo a sociedade, por motivos óbvios.
Nunca me deixei intimidar por estas crenças e acredito que, junto com a minha determinação e paixão por aquilo que faço, consegui mostrar que tudo é possível. Na minha carreira, tive a sorte de me cruzar com mulheres líderes que, de alguma forma, me inspiraram e me mostraram este leque de possibilidades do qual não abri mão.
Quando me tornei directora-geral, senti um grande peso, pois sentia que fazia parte de uma minoria, mas nunca ao ponto de deixar de acreditar que este era o caminho. Acredito, genuinamente, que, apesar de vivermos numa realidade ainda muito distante do que sonhamos, ocupar os lugares para inspirar é uma das chaves para a mudança, no que toca à desigualdade de género no mundo profissional. Quantas mais mulheres se sentirem representadas e entenderem que é possível chegar onde querem, maior será a determinação e essa fará a diferença e começará a mudar paradigmas.
Porém, é também certo que não se pode deixar tudo nas mãos da determinação das mulheres – é necessário que esta seja uma batalha de toda a sociedade. É preciso falar sobre a questão, é preciso tomar medidas e celebrar o Dia da Mulher para relembrarmos e homenagearmos aquelas que, um dia, perderam a vida a lutar pelos seus e nossos direitos. Mais de 100 anos depois de aparecerem os primeiros movimentos feministas e mesmo depois de serem instauradas leis contra a desigualdade entre homens e mulheres, é importante não baixar os braços.
Felizmente, na cadeia hoteleira em que trabalho, a realidade é cada vez mais a que procuramos, e temos a sorte de ter organismos e ferramentas e mesmo core values que são muito claros em relação à nossa posição com estes temas. Posso orgulhosamente dizer que no InterContinental Cascais-Estoril, temos 50% de representação feminina entre os nossos colaboradores e sinto que somos um exemplo vivo de que, quanto mais mulheres exercerem papéis de liderança, mais mulheres serão vistas nas empresas e terão a oportunidade de crescimento profissional, chegando, elas também, a cargos de poder e assim sucessivamente. A inspiração é uma das fortes ferramentas de mudança.
O caminho é longo, mas quanto mais lugares ocuparmos, mais mulheres inspiramos e mais tangível tornamos esta realidade. Tudo começa na representatividade.