«A COVID-19 acelerou a adopção da tecnologia na Saúde»
A pandemia do novo coronavírus veio acelerar a transformação digital nas empresas e nas vidas de todos nós. E o sector da Saúde não é excepção. «A COVID-19 é um estímulo que vai provocar uma série de mudanças institucionais que vão resultar numa adopção mais rápida da tecnologia na Saúde, nos próximos três a cinco anos. Eventualmente íamos chegar lá à mesma, mas a pandemia veio acelerar esta tendência», afirma Kaveh Safavi, responsável mundial da área de Saúde da Accenture.
O gestor norte-americano foi o keanote speaker do CEO Health Forum, um evento promovido pela Accenture para debater o futuro da Saúde em Portugal, e abordou as principais tendências globais neste sector.
Segundo Kaveh Safavi, podemos dividir o «problema fundamental» da Saúde em três grandes tendências:
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- O número de pessoas que prestam cuidados de saúde está a crescer de forma insuficiente, e isto acontece porque a população está a envelhecer – a OMS estima que em 2030 haverá 15 milhões de profissionais de saúde em falta;
- Os custos relacionados com saúde estão a crescer acima (entre 1 a 3%) do crescimento do PIB dos países (independentemente de terem um sistema público ou privado);
- As expectativas sobre o sistema de saúde estão a mudar, porque as pessoas esperam que a saúde esteja ao nível de outros serviços presentes nas suas vidas. «Esta é uma oportunidade para as empresas do sector mas também um desafio, porque vão enfrentar cada vez mais concorrência e mais regulamentação», argumenta.
Ora, de acordo com o responsável mundial da área de Saúde da Accenture, a tecnologia é a chave para resolver todos estes desafios. «Daqui para a frente, devemos pensar em como tornar o sistema de saúde mais produtivo e personalizado. Isto requer a utilização de tecnologias, como a Inteligência Artificial, que nos dão a capacidade de substituir algumas tarefas básicas, não rotineiras, dos profissionais de saúde», explana Kaveh Safavi. «A única solução passa por sabermos utilizar a tecnologia para baixar custos e criar uma plataforma de acessibilidade», reitera.
Segundo um estudo recente da Accenture, a transformação tecnológica na área da Saúde está a acelerar sobretudo nas seguintes áreas: experiência do utente; automação e Inteligência Artificial (70% dos organismos de saúde ja usam IA); robótica (já era utilizada ao nível da cirurgia, nas farmácias com dispensadores de medicamentos, entre outros locais, mas com a COVID-19 passámos a ter robots que realizam tarefas como entregas de medicamentos ou esterilização de salas); e dispositivos inteligentes (dispositivos de telemonitorização, como smartwatches).
«A tecnologia deixou de ser uma opção, para passar a ser uma obrigatoriedade. Os sistemas de saúde são resistente à mudança, estão organizados dessa forma para se manterem seguros. No entanto, este tipo de organizações acabam sempre por reagir a estímulos do exterior. E não poderia haver estímulo maior do que enfrentar a grande pandemia do último século», reforça Kaveh Safavi.
Desfazer o “triângulo de ferro”
Segundo Kaveh Safavi, antes da disseminação das tecnologias digitais, as três prioridades de qualquer sistema de saúde (acesso, acessibilidade de preços e eficácia) formavam um “triângulo de ferro” de dependência, que não podia ser melhorado simultaneamente. Quer isto dizer que sempre que se procurava melhorar o acesso ao sistema de saúde, os custos aumentavam; quando se melhorava a eficácia, os preços também subiam; por outro lado, sempre que os custos reduziam, sacrificava-se o acesso ou a eficácia.
Agora, tecnologias como a Inteligência Artificial ou a robótica permitem resolver este dilema e melhorar as três dimensões em simultâneo. «Pela primeira vez, temos à disposição um conjunto de tecnologias que nos permite ter seres humanos a trabalharem em conjunto com máquinas, resolvendo os problemas do acesso [ao sistema de saúde] e da acessibilidade de custos», defende o responsável mundial da área de Saúde da Accenture.
Recorde-se que o evento CEO Health Forum incluiu ainda uma mesa-redonda com alguns dos principais responsáveis da área da Saúde em Portugal.
Texto de Daniel Almeida