Portugal não sai de moda

Por Gonçalo Rebelo de Almeida
Administrador da Vila Galé Hotéis

Desde que comecei a acompanhar o sector do Turismo na década de 90, este é o terceiro ciclo positivo que registo. O primeiro aconteceu no período “Expo 98” e perdurou até 2001, o segundo foi no período pré-crise de 2006 a 2008 e o terceiro está neste momento a acontecer, desde 2015.

Diferente do que sucedeu nos anteriores, estes últimos ciclos são mais longos e mais profundos e, depois de um período muito negativo de cinco anos (2009-2014), estamos há cinco a viver um momento positivo do ponto de vista turístico.

Muitos apontam de forma simplista que este momento positivo se deve exclusivamente à instabilidade vivida em destinos concorrentes, desvalorizando um conjunto importante de factores e muito trabalho e esforço de entidades públicas e privadas na estruturação do produto e na promoção do destino e da marca Portugal.

Na verdade, foram captadas novas ligações aéreas low cost e tradicionais, assistimos a uma requalifi cação e aparecimento de novas unidades hoteleiras e alojamento local, aumentou a oferta de espectáculos e actividades culturais, várias cidades viram zonas históricas renovadas e requalifi cadas, os agentes de viagens desenvolveram novos programas e circuitos, assistimos a um “boom” de empresas de animação turística com uma oferta diversifi cada e adaptada a vários públicos e interesses, criámos fundos de captação de eventos e congressos, mantivemos a simpatia dos nossos profissionais reforçando as suas competências técnicas e foi todo este investimento que garantiu que a qualidade melhorasse substancialmente.

Mas, para além do produto, a comunicação também foi alvo de atenção e renovação por parte do Turismo de Portugal, associações de promoção, entidades regionais e todos os players privados. Participámos em mais feiras e eventos internacionais, foram feitas mais viagens de promoção, melhorámos os conteúdos de vídeo e imagem, reforçámos as campanhas em meios digitais, trouxemos opinion leaders e decision makers a conhecer o destino, reforçámos parcerias com operadores e distribuidores e diversificámos mercados emissores (EUA, Canadá, Ásia e América do Sul), diminuindo a histórica dependência dos mercados europeus.

Muitos questionam se Portugal já passou de moda e se o ciclo está a terminar. Sendo por natureza optimista, não vejo sinais de nenhuma crise profunda, mas o regresso de alguns destinos, a falência de companhias áreas e alguns operadores importantes, a instabilidade em alguns países da União Europeia, as limitações das infra-estruturas aeroportuárias, obrigam-nos a estar atentos e a fazer mais e melhor para conseguir manter o ritmo de crescimento.

Promover novos destinos no País, desenvolver novos produtos de natureza, equestres, desportivos, criar eventos e actividades de animação e reforçar a comunicação com os clientes finais, será absolutamente crucial para sustentar o nosso crescimento, diminuindo a pressão nos grandes pólos, promovendo a coesão territorial e captando novos públicos e segmentos.

Para que Portugal não saia então de moda, temos, por isso, de continuar a lançar novas “colecções”.

Artigo publicado na Revista Marketeer n.º 282 de Janeiro de 2020

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