Are you ready to Reset?
Por Joana Garoupa,
Directora de Marketing e Comunicação da Galp
Vivemos um período único. Mesmo que seja ainda impossível antecipar a dimensão final do impacto da pandemia, há um facto já inquestionável: não temos memória de tamanha disrupção no nosso modelo de vida, de sociedade e de economia a nível global.
O desafio impõe respeito. Sobretudo porque, ao projectar o futuro, a visibilidade sobre o curto e médio prazo continua limitada pelo desconhecido. Um desconhecimento científico, em primeira instância, que condiciona tudo o resto. A vida de cada um, a reacção dos decisores e as estratégias das empresas.
Há uma máxima atribuída a Einstein que sugere que nas dificuldades também surgem oportunidades. Um cliché, admito. Mas se os clichés existem é porque traduzem de forma popular matrizes dominantes. Esta é uma delas: os períodos de grande adversidade são, por natureza, indutores de respostas que podem (ou devem) transformar a realidade. Este é, inegavelmente, um desses momentos.
Não terá sido em vão que o World Economic Forum decidiu cunhar a oportunidade que temos pela frente como o “Great Reset”. Se o caminho até aqui estava a revelar-se complexo, podemos agora deixar para a História um legado sobre a capacidade de reinvenção da nossa sociedade.
É neste plano que as empresas e as marcas se revelam, colocando ao serviço da comunidade os valores, o propósito e os princípios que as tornam relevantes.
Mesmo que não consigamos ainda vislumbrar onde estaremos dentro de um ano, ou mesmo seis meses, temos já um manancial tremendo de informação sobre as necessidades, os interesses, as preocupações e as tendências que a pandemia espoletou nos consumidores. E as marcas não podem ignorar aquilo que as pessoas estão a dizer-nos (ou a gritar-nos, nalguns casos). Quando percebemos que as vendas online crescem 52% temos de acompanhar essa aceleração. Se há uma mudança estrutural na restauração e o take away explode, devemos endereçar esta tendência. Se as estatísticas confirmam uma disrupção na mobilidade urbana, precisamos de repensar as soluções para esse ecossistema. Se as pessoas anseiam pela vida ao ar livre, temos de ser capazes de criar experiências que as marquem nesse território.
Para nós, que gerimos marcas, o parágrafo anterior cruza com outro ensinamento que advém desta pandemia: este não é o tempo dos soundbytes ou das campanhas giras; é o tempo de responder à crise, primeiro, e depois agir, experimentar e entregar. Só assim reforçaremos os laços de proximidade e de confiança com as pessoas.
Depois de na Galp não olharmos a meios para apoiarmos a causa da prevenção da Covid- 19, com acções de suporte à comunidade médica, sistema de saúde e emergências sociais, estamos agora muito atentos a ouvir este novo consumidor. Daqui saíram já projectos como a parceria das nossas lojas com a Glovo e a Uber Eats; o mini cookspot (mini-grelhador a gás para varandas); o projecto piloto de carregadores portáteis para veículos eléctricos no Algarve; ou o “Dog Wash”, em Oeiras, um espaço para que os donos de cães possam lavar os seus fiéis amigos com uma maior comodidade.
Sabemos que os tempos são difíceis, mas não podemos cair no erro de reagir com medo, cortes cegos ou inacção. Só a ousadia e a inteligência na interpretação dos sinais que a sociedade nos transmite permitirão que estejamos preparados para resistirmos a esta fase. Porque o futuro só será incerto para quem tem medo de fazer “reset”.
Artigo publicado na Revista Marketeer n.º 290 de Setembro de 2020