Web Summit: Governo é solução para as fake news

O aumento do número de fake news continua a ser um problema não só dos media como da sociedade. Num dos debates do Web Summit, uma das soluções para este tema passa por uma maior responsabilidade dos governos, que devem alocar mais tempo e investimento a este assunto.

Num debate moderado por Matthew Garrahan, editor de media do Financial Times, David Pemsel, CEO do The Guardian Media Group refere que os governos devem assumir um papel preponderante para combater este assunto. «Antigamente não tínhamos plataformas com milhares de milhões de utilizadores, nem tecnologias como Inteligência Artificial ou Machine Learning. Com a evolução tecnológica, as fake news são hoje mais facilmente distribuídas. Na realidade, pegou-se na temática das fake news tardiamente. Já deveriam existir outros mecanismos para resolver este problema. Não acredito que seja difícil encontrar uma solução para definir o que são boas e más notícias», afirma.

David Pemsel vinca que existe um modelo de negócio muito proveitoso, assente na viralidade e na sua monetização. Mas a viralidade nem sempre está associada à qualidade dos conteúdos. O CEO explica que, num mundo que está cada vez mais fracturante, fruto de assuntos como o Brexit ou as crises políticas na Europa, o número de notícias é cada vez maior. E, consequentemente, aumentam também as fake news. «Cabe aos governos actuarem acerca das notícias que são publicadas sobre si. São necessários mais esclarecimentos e eles têm o poder de esclarecer e divulgar as informações correctas para atenuar o problema das fake news», refere David Pemsel.

Mitchell Baker, presidente executiva e co-fundadora da Mozilla, reforça a ideia de que é necessária uma verdadeira aposta dos governos para lidar com esta situação. E realça que as fake news também podem ser atenuadas com uma maior consciências dos utilizadores da Internet. «Para haver mudança, temos de entender aquilo que gostamos de fazer e as consequências das nossas acções. Às vezes somos manipulados por determinados assuntos e acabamos por partilhar fake news por se tratarem de temas do nosso agrado», explica, acrescentando que é fundamental prestar mais atenção às fontes de informação e apurar se são, ou não, fidedignas.

Do lado dos governos, Ana Brnabic, primeira-ministra da Sérvia, concorda com a responsabilidade atribuída aos governos para lidar com este tema. «As fake news descredibilizam a política, especialmente junto dos jovens, que acabam por formar um pensamento de que não há forma de mudar o mundo. Os governos têm de repensar a forma como comunicam com as pessoas. Devem ser mais transparentes e partilhar informações correctas e precisas com os habitantes», refere.

Todavia, a primeira-ministra realça que demasiada regulação não será bom para a democracia, defendendo uma abordagem distinta, começando pela educação. «Temos de ir ao início, ensinar as crianças a forma como devem pensar e não naquilo que devem pensar, para que possam questionar a autoridade e pensar de forma criativa», afirma.

Texto de Rafael Paiva Reis
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