Web Summit: Como o Facebook quer revolucionar a banca

A maior rede social do mundo está a desenvolver uma carteira digital que, num futuro próximo, permitirá enviar dinheiro, de forma gratuita, através do Messenger e WhatsApp. No palco central do Web Summit, Kevin Weil, vice-presidente de Produto na Calibra (subsidiária do Facebook), explicou que o objectivo passa por democratizar o acesso ao sistema bancário, eliminando as taxas: «Há 1,7 mil milhões de pessoas no mundo que não têm conta bancária e são obrigadas a guardar as suas poupanças em dinheiro vivo. Se pudermos dar a qualquer pessoa com um telemóvel as mesmas possibilidade que nós temos de acesso ao sistema bancário, estaremos a fazer algo de muito positivo e significante.»

A carteira digital do Facebook será baseada na Libra, a criptomoeda criada pela empresa liderada por Mark Zuckerberg. Em Lisboa, Kevin Weil explicou a ambição que o Facebook tem para esta plataforma encriptada, que pretende eliminar todo o tipo de intermediação nas transferências de dinheiro. «A melhor analogia para explicar a Libra é a evolução da própria Internet. Há 30 anos, tínhamos de pagar muito dinheiro para enviar mensagens de texto ou fazer chamadas, porque havia poucas empresas no ecossistema das telecomunicações. Depois veio a Internet, que fez com que as barreiras de entrada no mercado se tornassem muito menores, e passou a ser gratuito fazer chamadas. Com o sistema bancário acontece o mesmo. Para nós, a questão é se conseguimos fazer ao dinheiro o que a Internet fez ao sector das telecomunicações. Se tivermos uma plataforma descentralizada, podemos baixar drasticamente os custos das transacções», argumentou. «O sistema financeiro pode e deve ser muito melhor do que é», reiterou.

Além de enviar dinheiro pelo Messenger e WhatsApp, o Facebook pretende que a sua carteira digital, a Calibra, seja compatível com outras carteiras digitais existentes, para que enviar dinheiro seja «tão fácil como enviar um e-mail». Razão pela qual tem vindo a estabelecer acordos com parceiros na área dos pagamentos. Neste momento, a Libra Association (que supervisiona a criptomoeda Libra) conta com 21 parceiros, mas já viu alguns players importantes abandonar o projecto, como a PayPal, Visa e Mastercard, devido às dúvidas que têm sido levantadas ao nível regulatório. «Apenas vamos lançar a wallet Calibra quando tivermos aprovação regulatória. Isto é algo com o qual estamos completamente comprometidos», garantiu Kevin Weil.

O responsável de Produto da Calibra deixou ainda a garantia de que os dados de utilização da carteira digital do Facebook serão separados dos dados recolhidos através das redes sociais. Por outras palavras, não vamos receber publicidade personalizada no Facebook ou Instagram com base na nossa actividade na wallet, assegurou. «Haverá pessoas que não se sentirão confortáveis a usar um produto bancário criado pelo Facebook, e isso não tem problema! É um produto diferente de tudo o que já fizemos até hoje e queremos ter a garantia que criamos uma plataforma segura», explanou. «A Libra não vai viralizar como uma rede social. Vai demorar alguns anos a consolidar, porque o processo de onboarding é mais demorado e nem toda a gente está familiarizada com as criptomoedas», concluiu.

Texto de Daniel Almeida

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