Urgente é a poesia
As inscrições para a XVII edição do Festival do Clube Criativos de Portugal estão abertas. Com elas abre a época da poesia. Não vale a pena passarmos o tempo a desvalorizar a importância dos festivais. Eles existem em todas as indústrias e são essenciais para que a dinâmica competitiva se estabeleça e para estimular o talento.
Vale é a pena valorizar um clube que se tem valorizado. Um clube que nestes dois anos conseguiu voltar reunir a classe e a dar vantagens aos sócios e à comunidade. Um clube que conseguiu estabelecer um território de partilha que ultrapassa as fronteiras das agências e que conquista um espaço de expressão próprio e com cada vez mais alcance e influência.
Esta era uma das grandes missões desta direcção. Colocar o clube e a classe lado a lado, de braço dado, a trabalhar em conjunto para fazer coisas para que todos possam desfrutar delas. Parece uma utopia lamechas, mas foi isso que fez com que milhares de pessoas se movimentassem para criar e participar nas actividades promovidas ao longo dos últimos dois anos.
Também a nossa colaboração com a CML e a nossa recente cooperação com a MOP, para aproximar o CCP aos Cannes Lions, são a prova de um clube que, para além de ter arrumado a casa, está agora em condições de ser um parceiro relevante em tudo o que envolva a criatividade em Portugal.
Vale a pena valorizar um clube que não se esquece do seu papel pedagógico e de falar daquilo que considera importante para que a indústria criativa não facilite, e se mantenha exigente na procura da qualidade e da consideração do talento.
É por isso que o XVII Festival do CCP começa com uma provocação.
É fácil ser criativo quando gostamos do que fazemos, e ainda por cima temos acesso a tudo aquilo que nos alimenta a alma – informação de qualidade, pessoas interessantes, marcas de culto, dias pouco rotineiros, um certo sentimento de fazer uma coisa especial, etc.
A verdade é que tudo isso permite ao criativo concentrar-se naquilo que é mais importante, no acto de criação, na construção de histórias, e na descoberta de formas de elevar o trabalho a uma forma de arte. Essa é a nossa poesia.
Entretanto e em substituição de tudo isto apareceu a Urgência.
E a Urgência, qual ambulância que transporta os endémicos casos de histeria corporativa, arrasa a razoabilidade.
A Urgência passa por cima do método e atropela a originalidade. A Urgência dá a ideia que está a criar valor, que é muito ocupada e competente, mas a única coisa que faz é fazer de conta que resolve. A Urgência despreza a informação, o conhecimento, a organização, a opinião sustentada. A Urgência não traz bons resultados, porque se sacrifica o valor do trabalho criativo e o transforma numa commodity. Urgente é a poesia, porque a procura do belo e do inédito é o que nos leva a elevar o nível.
Urgente é a poesia, porque sem poesia descem os níveis de produtividade. Urgente é a poesia, porque para fazer urgente não é preciso que seja bem. Este é um grito de um clube que sabe do que a indústria precisa para continuar a evoluir. É também um grito de um clube que precisa dos seus sócios para continuar a existir.
Urgente é não deixar o CCP morrer. Simpatizar não chega. É preciso dizer presente e alimentar um clube que só poderá funcionar se tiver sócios. Urgente é que todos no mercado, criativos e agências queiram fazer parte efectiva desta realidade, e que possam contribuir para a manutenção de uma organização que é de todos e que sobrevive para lá de direcções ou de pessoas.
Urgente é não deixar morrer a poesia que ainda nos inspira.
Texto Pedro Pires
Fotografia Paulo Alexandrino