Um exemplo de ESG no futebol português?

Por Sandro Rego, consultor de comunicação

Recentemente, deparei-me com a notícia de que o Estoril Praia anunciou uma iniciativa inspiradora: a reutilização dos equipamentos da época passada para esta temporada. Esta atitude inovadora quebra paradigmas nos negócios do futebol, pois a venda de novas camisolas costuma contribuir para o aumento do facturamento, tanto do clube quanto da empresa fornecedora do material esportivo, neste caso, a italiana Kappa.

Esta opção foi justificada por Guilherme Muller, CEO da SAD do Estoril, que demonstrou preocupação ecológica e o desejo de preservar matérias-primas ao promover um intencional “consumo responsável”. Ele enfatizou que nos últimos anos o consumo de roupas cresceu exponencialmente, e a indústria do desporto profissional também compartilha a responsabilidade nesse cenário. Assim, a empresa dá vida aos 3Rs: a camisola é feita de material 𝗥eciclado, o clube quer 𝗥eduzir o consumo e vai 𝗥eutilizar a camisola da última época.

A decisão deixou-me intrigado sobre se esta medida seria apenas “mais uma acção de marketing” ou se fazia parte de uma estratégia mais ampla de sustentabilidade. Ao pesquisar a fundo, descobri que a segunda opção é a verdadeira realidade. Posso afirmar que o Estoril Praia está a investir fortemente para ser um dos clubes mais sustentáveis do mundo. Em Portugal, certamente já o é.

O clube foi o primeiro do mundo a aderir à Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, apresentando 20 medidas concretas que abrangem diversos temas, como igualdade de género, educação, saúde, ambiente e paz. O seu plano de sustentabilidade é abrangente, e o clube está comprometido em implementar estas medidas a longo prazo, estando aberto a novas ideias e parcerias para promover a sustentabilidade. Abaixo, compartilho algumas das medidas a que o clube se comprometeu a implementar quando aderiu à Agenda 2030:

  • Promover a igualdade de género, apostando no futebol feminino e na academia de futebol feminina (dos 8 aos 12 anos), além de comprometer-se a triplicar o número de mulheres nos órgãos sociais do clube.
  • Combater a pobreza e a fome, engajando os atletas em ações de voluntariado junto da comunidade e doando alimentos excedentes dos jogos em casa a instituições de solidariedade social.
  • Garantir uma educação de qualidade, promovendo o sucesso escolar dos jovens atletas e oferecendo bolsas de estudo para os mais necessitados.
  • Assegurar uma saúde de qualidade, realizando rastreios médicos gratuitos para sócios e adeptos e sensibilizando para a prevenção de doenças.
  • Promover o crescimento económico sustentado, criando empregos e valorizando os recursos humanos do clube.
  • Reduzir as desigualdades, promovendo a inclusão social e combatendo a discriminação em todas as formas.
  • Proteger o ambiente, utilizando energias renováveis e comprometendo-se a reduzir em 30% as emissões de CO2 do clube.
  • Preservar a vida marinha, participando de iniciativas de limpeza das praias e valorizando as modalidades náuticas.
  • Promover a paz e a justiça, defendendo valores éticos e desportivos e combatendo a violência e a corrupção no desporto.

O clube pode melhorar a comunicação de sua estratégia para a sociedade. Uma medida simples que poderia ser adoptada é a divulgação das ações implementadas, sempre se referindo ao guarda-chuva ESG, relacionando com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as metas que estão definidas, por exemplo. Além disso, outras acções de comunicação e relacionamento poderiam ser adoptadas para fortalecer ainda mais esse posicionamento, e não só em Portugal.

O Estoril Praia é um exemplo brilhante de como os clubes de futebol podem contribuir para a sustentabilidade. O seu compromisso com a Agenda 2030 demonstra que o desporto pode ser um agente de mudança positiva e inspiração para outros clubes e organizações.

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