Um copo meio-cheio de crowdsourcing,se faz favor

susanaalbuquerque2A minha amiga Isabel diz que eu vejo o copo sempre meio-vazio, mas nas últimas semanas as notícias sobre o crowdsourcing aplicado à publicidade sucederam-se e, por muito que eu aplique a minha visão pessimista sobre o assunto, continuo a ver o copo meio-cheio. Eu explico.

Um dos episódios mais comentados foi o despedimento da Lowe inglesa pela Peperami da Unilever (uma marca de snacks feitos de carne), e a sua substituição pela ideabounty.com, uma plataforma sul-africana de crowdsourcing, que possibilita a criativos do mundo inteiro poderem concorrer online com as suas ideias e verem a melhor solução ser contratada. Entretanto, mais de 1000 ideias foram submetidas no ideabounty.com em resposta a este briefing para ganhar 10 mil dólares da Unilever mais a oportunidade de ver a ideia veiculada globalmente, sucesso este que aumentou o tom da discussão e o número de vozes incendiadas. O que me leva a querer responder a algumas faqs que coloquei a mim própria.

1. Criativos, porquê depender de um único emprego quando podem passar a ter vários trabalhos?

Para um criativo, já não é fundamental viver sentado em frente a um computador nove horas por dia num mesmo escritório, trabalhando para uma única empresa. Quando há talento para vender, quando há marcas a querer comprá-lo, e quando há banda-larga disponível, já podemos ter ideias e produzir trabalho em qualquer parte do mundo, e depois vendê-lo online a quem o quiser comprar. O que hoje parece uma revolução, acredito que em breve será uma banalidade.

2. Agências, porquê ter dez criativos quando podem ter 2500?

Na minha opinião, uma estrutura fixa assegura e deverá continuar a assegurar serviços e talentos de continuidade e de consistência para as marcas, mas cada vez mais é fácil e rotineiro recorrer a talentos externos, que só contratamos quando se justifica, e apenas quando o projecto nos bate à porta e o exige, estejam esses talentos em Braga, em Barcelona ou em Beijing.

3. Mas o crowdsourcing não é o fim da nossa indústria? As agências de publicidade não vivem das ideias que vendem?

Sim e não. A indústria de publicidade vive da geração de ideias e da sua venda, mas também da sua gestão: refinamentos, adequação a briefings, budgets e timings, da sua produção e implementação, e da sua declinação para outras áreas e meios. Abrir a janela da geração de ideias e execuções, a talentos que vivem.

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