Um “cisne negro” abriu as suas asas sobre a economia e a sociedade
Por José António Rousseau, consultor e investigador da UNIDCOM/IADE/IPAM
A ameaça caiu sobre a humanidade, gerando consequências devastadoras na economia e na sociedade em geral, não discriminando género, raça, idade, nacionalidade ou posição social. Provocou a quebra nas exportações e importações, o encerramento e/ou quebra de produção nas fábricas, a redução da oferta e a paralisação de muitas cadeias de abastecimento, gerando, muito provavelmente, um aumento generalizado dos preços.
Este “cisne negro” surgiu numa região da China, mas rapidamente se espalhou como fogo em palha seca por todo o mundo, lançando o pânico e a percepção de medo por parte dos consumidores. Em Portugal, assistimos, nos últimos dias, à corrida aos supermercados, que originou rupturas nos lineares, aumento das vendas das empresas retalhistas de produtos alimentares, quer offline, quer online.
A procura foi desenfreada, muito embora desnecessária, uma vez que nunca esteve em causa a falta de abastecimento de quaisquer produtos alimentares ou não alimentares, pois, as empresas de distribuição trabalham hoje com cadeias de reaprovisionamento inteligentes que reportam automática e diariamente os produtos em falta, pelo que as rupturas de stock, a acontecerem, serão apenas momentâneas e circunscritas a alguns produtos.
Por outro lado, não podemos esquecer que a crise traz oportunidades e as circunstâncias relacionadas com esta pandemia, tanto na China, em Itália, como noutros países, já impulsionaram o crescimento de compras à distância, por força do receio de frequentar espaços públicos.
Na verdade, o retalho online tem vindo a fidelizar cada vez mais consumidores não só em Portugal, mas um pouco por todo o mundo, aperfeiçoando a sua experiência de compra e aumentando a sua quota de mercado relativamente ao offline.
Em Portugal, 85% dos e-shoppers regulares portugueses avalia positivamente as suas últimas experiências de compra. Um recente estudo em Portugal do DPDgroup e-shopper 2019, realizado em conjunto com a GfK, concluiu que cerca de 33% dos e-shoppers regulares compra online mensalmente, gerando 81% do volume deste tipo de compras, ainda que o e-commerce represente apenas 9,8% do total de compras no país, valor inferior à média europeia, situada em 13,5%.
Este surto do Covid-19 registou também um pico de procura dos sistemas de compras online dos retalhistas alimentares, pois os consumidores portugueses seguiram as recomendações da Direcção-Geral de Saúde, preferindo efectuar as suas compras de supermercado online, resguardando-se em casa.
Esta procura crescente e inesperada fez com que tivessem surgido sistemas de filas de espera nos sites das cadeias de distribuição, que tiveram de dilatar o prazo de entrega do serviço.
O acompanhamento e a avaliação da evolução da cadeia de abastecimento nos sectores agroalimentar e do retalho foram assegurados pelo Ministério da Economia e da Transição Digital e do Ministério da Agricultura, que como prevenção determinaram a criação de um Grupo com o objectivo de antecipar situações de perturbação no abastecimento regular ou comportamentos individuais desproporcionados. Visa fazer face às necessidades efectivas dos cidadãos e delinear, em caso de necessidade, medidas preventivas ou correctivas para manter as normais condições de abastecimento.
Decretado o Estado de Emergência, os estabelecimentos comerciais não alimentares irão encerrar e os que permaneceram abertos tiveram de adoptar medidas, que assegurem uma distância mínima de dois metros entre pessoas, assim como a permanência condicionada do público pelo tempo estritamente necessário à aquisição dos produtos e proibido o consumo de produtos no seu interior. A prestação do serviço e o transporte de produtos também obedecem a regras de higiene e sanitárias definidas pelas autoridades de saúde.
Esta situação atípica a todos atinge, pelo que devemos esperar que todos, sem excepção, sejamos responsáveis, individual e colectivamente, durante todo o tempo que durar esta crise, pois temos de conseguir superá-la, com as menores baixas e danos económicos possíveis, para cidadãos, comunidades e países.