Um Avião contra o Racismo
Já lá vão mais de 15 anos, mas está tão actual como no dia em que foi para o ar. Trata-se do filme Avião que tem na sua ficha técnica nomes como Marcelo Lourenço, Pedro Bexiga, Alexandre Montenegro (produtor executivo) e João Carlos Pelote (realizador). Duas actrizes bem conhecidas dos portugueses – Lourdes Norberto e Margarida Marinho – dominam uma conversa que tem como alvo o passageiro sentado ao lado de uma delas no avião. Em causa, a discriminação de que um passageiro é alvo por ser negro.
Hoje, Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial, lembramos o filme criado para a Comissão Portuguesa para os Direitos Humanos, no âmbito dos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Um filme que no YouTube conta mais de três milhões de visualizações e que foi inclusive partilhado pelo músico Gilberto Gil, quando era ministro da Cultura no Brasil. «Deve ser o viral mais bem-sucedido da história da publicidade portuguesa», diz Marcelo Lourenço que assinou a criatividade e direcção criativa com Pedro Bexiga quando estavam na Lowe.
«A campanha continua, infelizmente, muito actual. Há, claro, muitos avanços em todos os sectores – na sociedade civil e na esfera governamental. Tenho a certeza de que a atitude da senhora racista retratada no voo não seria vista com bons olhos por quase ninguém. Ou pelo menos ninguém teria coragem de concordar com ela abertamente. Mas o racismo ainda está muito presente – basta dar uma olhada a página de comentários do filme “Despicable” no Youtube que já conta com milhares de comentários tão racistas que fariam um nazi ficar boquiaberto», assegura Marcelo Lourenço.
E o seu dupla de há longos anos, Pedro Bexiga, acrescenta: «Aqui estamos a falar de brancos e negros, mas poderíamos estar a falar da Europa e do Médio Oriente, de cristãos e muçulmanos, entre outros. Actualmente há um extremar no discurso e no comportamento contra o que é diferente, seja fisicamente ou em termos de ideais. Basta ver o discurso inflamado e racista do candidato republicano que mais que provavelmente disputará as eleições presidenciais norte americanas. A intolerância infelizmente continua presente. Cabe a cada um de nós fazer o possível para combatê-la e foi isso que fizemos com este filme.»
Uma opinião, de resto, corroborada por Alexandre Montenegro que acredita que «o sucesso intemporal desse filme é apenas e só a confirmação de uma grande verdade: o racismo existe e infelizmente pouco mudou desde a altura de sua produção para os dias de hoje». O profissional de origem brasileira (tal como Marcelo Lourenço) lembra que vem de um País multirracial: «Tenho sangue de várias origens a correr nas minhas veias e não consigo conceber a ideia de alguém ser julgado simplesmente pela sua cor de pele. Talvez o upgrade possível para os dias actuais fosse a inclusão da opção religiosa de cada uma das personagens.»
Ou seja, um filme que não passou à história. Neste Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial Alexandre Montenegro acredita que nunca foi tão importante como agora «divulgarmos filmes como esse, mensagens como essas, para que gota a gota, like a like, possamos tocar a consciência de cada um. Tarefa árdua, eu sei, mas fundamental para a construção de um mundo mais tolerante».
Texto de Maria João Lima
Reveja o filme: