“Tremors vs. Tremors” transforma tremores em música num projecto do UCL com assinatura de portugueses
Chama-se “Tremors vs. Tremors” e é o primeiro álbum criado com tremores de pacientes, com o objectivo de ajudar a combater a doença de Parkinson e os seus múltiplos sintomas. O álbum é composto por cinco músicas, criadas exclusivamente para cinco pessoas que sofrem da doença. Os tremores de cada paciente foram transformados em elementos musicais, como componente central de cada canção. Um projecto que junta música e ciência para virar Parkinson’s contra Parkinson’s.
O projecto pioneiro no tratamento e investigação de Parkinson’s é hoje lançado pela University College London (UCL), em colaboração com a agência criativa Innocean Berlin, a produtora de áudio DaHouse e a Parkinson’s UK, no âmbito da Brain Awareness Week (que se assinala entre 11 e 17 de Março).
O objectivo de “Tremors vs. Tremors” – projecto liderado pelo neurologista Christian Lambert, investigador na UCL – é aumentar a notoriedade sobre a variabilidade na doença de Parkinson, ao mesmo tempo que destaca a importância de uma abordagem holística para a gestão dos sintomas. Com o projecto pretende-se dar a conhecer que mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com Parkinson, um número que deverá duplicar nos próximos vinte anos. O projecto “Tremors vs. Tremors” centra-se na natureza individual da doença de Parkinson e como esta afecta cada pessoa de forma diferente. Em comunicado é explicado que existem mais de 40 sintomas da doença, muitos deles ocultos, como ansiedade, depressão, distúrbios do sono e apatia, que têm um grande impacto na vida quotidiana de um indivíduo e podem tornar a doença mais difícil de tratar.
Para além do álbum, que estará disponível nas principais plataformas de streaming de música e numa edição limitada em vinil, o projecto inclui ainda um website (www.tremorsvstremors.com), onde é possível saber tudo sobre o processo de criação de cada música, para além do enquadramento científico do projecto.
“Tremors vs. Tremors” conta com vários portugueses nos créditos, nomeadamente Joana Leitão, Communications and Engagement Officer na UCL, José Filipe Gomes e Pedro Lourenço, directores criativos na Innocean Berlin.
Pedro Lourenço e José Filipe Gomes conhecem-se desde a faculdade e começaram a trabalhar na mesma agência em Lisboa (na McCann), antes de várias outras experiências em Portugal (JWT, Lowe, Strat, entre outras) e de se aventurarem além-fronteiras. José Filipe Gomes passou por Barcelona, onde trabalhou quatro anos, com algumas interrupções pelo meio entre Lisboa e Hamburgo, e Pedro Lourenço esteve em Amesterdão. Estão em Berlim há uma década tendo formado dupla na DDB. Em 2018, saíram juntos para formar a equipa que abriu a Innocean Berlim. No âmbito do projecto “Tremors vs. Tremors” conversaram com a Marketeer.
Como é que se viram envolvidos neste projecto? E de que maneira estiveram envolvidos?
Estivemos envolvidos em todas as fases do projecto – desde a concepção até ao lançamento. Foi um projecto que demorou muito tempo a ser feito porque trata um tema muito sensível, envolve pacientes que têm uma doença crónica e sem cura à vista, e porque combina ciência e música de uma forma que nunca foi feita até hoje, com uma das instituições mais respeitadas na área da neurologia.
Estivemos sempre a liderar o projecto do lado da agência, e coordenámos uma enorme equipa de cientistas, médicos, músicos, criativos, produtores, entre outros, que se juntaram em volta desta causa durante quase dois anos.
O que mais vos entusiasmou neste projecto em específico?
É um projecto muito especial para nós. Primeiro porque sentimos que contribuímos de forma real para ajudar pessoas com Parkinson e que este projecto teve impacto nos seus sintomas. Depois pela ideia em si: usar o elemento mais visível de Parkinson para combater a própria doença. É quase um hack. Achámos isso muito interessante e muito forte. E finalmente, porque é uma ideia que pode ser “escalada” e implementada para outros pacientes, noutros países, e abre a porta a tratamentos alternativos. O facto de uma dada doença não ter cura – pelo menos para já – não significa que os sintomas não possam ser tratados ou de certa forma minimizados. E isso nem sempre acontece através de medicação tradicional. Existem outras formas de o fazer e que podem ter um impacto considerável na qualidade de vida dos pacientes.
Os criativos não trabalham para prémios, mas estes sabem sempre bem. Acreditam no potencial deste case para conquistar prémios?
Acreditamos em ideias, não tanto em prémios. As boas ideias duram para sempre e os prémios acabam esquecidos numa prateleira. Para além de que os prémios dependem de uma série de factores que fogem ao nosso controlo. Por isso, preferimos focar-nos nas ideias em que acreditamos e em fazê-las o melhor possível.
Neste caso, estamos muito orgulhosos de ter conseguido levar este projecto até ao fim de uma forma que ajudou a melhorar um bocadinho a vida dos participantes que tão gentilmente se juntaram a nós e esperamos que, daqui para a frente, possa ter um impacto na forma como as pessoas veem a doença e pensam na forma de a tratar. Isso é mais importante do que qualquer prémio que possamos vir a ganhar.
Veja o teaser de lançamento do projecto.
E veja o documentário.
Texto de Maria João Lima