TIP on Energy

Pensar no País como uma start-up foi a ideia que Miguel Gonçalves agarrou para iniciar a terceira TIP Talk da Marketeer.

Psicólogo, orador motivacional e fundador da agência Spark, Miguel Gonçalves foi o orador convidado de uma TIP Talk que teve “Energy” como tema e que contou ainda com Alberto da Ponte, presidente da Central de Cervejas, enquanto moderador.

«O ser ou não start-up não radica no tamanho de uma organização, mas no ecossistema onde ela opera e nos recursos que tem disponíveis para crescer. O importante numa start-up é o sentido de propriedade que cada um tem do negócio», defendeu Miguel Gonçalves, para quem esta é a era do CEO de si próprio, do “Eu SA”. «Numa start-up o sucesso dependerá do envolvimento de cada um por aquele ecossistema», disse ainda perante uma plateia de gestores e responsáveis máximos de algumas empresas portuguesas.

«Quando se pergunta qual a solução para este País, eu sei a resposta: é cada um ser CEO de si próprio. Não na lógica de cada um montar os seus negócios, mas de cada um ter um sentimento de propriedade para com as empresas onde trabalha, de cada um fazer tudo o que está ao seu alcance e não deixar nada para o dia seguinte. É isto que a nova geração tem que ter em relação a Portugal», defendeu ainda.

Miguel Gonçalves aproveitou ainda o palco da TIP Talk para voltar a sublinhar que «precisamos de olhar cada vez mais para nós próprios. Porque a resposta pode não ser a nível macro, mas micro. Uma pessoa que está constantemente a projectar nunca vai conseguir fazer».

E partilhou ainda uma ideia para quem quer lançar negócios, a dos três F: Friends, family e fools. «Não podemos passar muito tempo a equacionar o futuro. É preciso é trabalhar hoje o que tem que ser feito agora.» Porque importante é ter um sonho e seguir em frente. Arriscar e fazer.

Se não, veja-se o caso do Twitter, que falhou cinco anos consecutivos, ou Angry Bird, ou da Pandora. «Sorte é o que acontece quando tu trabalhas como se não houvesse amanhã. Digam aos vossos miúdos para pagarem as propinas deles, para trabalhar. As vitórias começam na cabeça de cada homem e cada mulher. (…) O maior falhanço na vida é não tentar», disse ainda Miguel Gonçalves, que trouxe à TIP Talk mais algumas ideias que costuma defender nos encontros e conferências onde participa.

«Uma pessoa não pode ir a uma entrevista de trabalho, chegar a meio e dizer “olhe, eu confesso que já mandei tantos currículos, que já não sei bem em que empresa estou”. Isto é o mainstream no mercado. O mainstream é um miúdo acabar uma licenciatura em Economia, ir para casa e enviar 70, 80, 100 CV [Curriculum Vitae] por email por semana, absolutamente indiferenciados a dizer “Exmº Sr. Director de RH [Recursos Humanos]”. Porque nunca ninguém lhe disse que ele pode experimentar algo de uma rasgada ousadia como ir a uma empresa, chegar lá e dizer “olhe eu sou o Miguel, gostava de colaborar convosco uma semana. É oportuno? Se for, vemos, se não, vou-me embora, mas ganhei algo com isto”. Nas palestras nas universidades costuma dizer aos alunos que «uma pessoa que acaba um curso aos 22 anos deve ir atrás das competências, não do dinheiro (…), porque se a pessoa for mesmo boa em alguma coisa, o dinheiro é a primeira consequência resultante disso.

Andamos à procura de ideias de negócio quando na verdade devíamos andar à procura de pessoas de negócios. É isso que se está fazer há 15 anos. Até não precisamos de ter uma ideia de negócio, mas com o framework certo, no ecossistema certo durante duas semanas, conseguimos produzir alguma coisa que vai ao mercado, que tem um MVP (Minimum Viable Product), e ver se de facto o mercado se interessa por aquele produto, se tem algum potencial.»

Marketeer: O Miguel dá conselhos para jovens. E aos gestores, não há conselhos a dar? O mercado mudou, os parâmetros com que se recebem as pessoas nas empresas também devem ter sido alterados…

Miguel Gonçalves: As pessoas – sobretudo as novas – não vão ficar amarradas às empresas só porque lhes pagam. As pessoas vão começar a seguir os sonhos delas, porque cada vez mais pessoas como eu percebem que é preferível ganhar menos dinheiro, mas viver o dia todo com o coração a correr, do que andar a trabalhar num trabalho unmeaningful, simplesmente porque pagam. Isso acabou. Se querem as vossas equipas com fibra, com força, façam como elas, trabalhem como elas, só que mais. Sejam os que mais trabalham, os que mais se esforçam, os que têm o maior brilho nos olhos. Para um líder nunca há problemas, para um líder só há respostas.

O Filipe Vilanova, fundador da Salsa, ensinou-me uma coisa brutal. Se o líder está bem, a empresa está bem. Se o líder não está bem, e é uma pessoa mesquinha, conflituosa, que anda sempre à caça dos cifrões, isso vai-se reflectir na totalidade da organização. Portanto, uma coisa que o líder tem que ter é de ir trabalhar todos os dias com o coração aberto, saber quem é e para onde vai. E os outros vão com ele.

João Tovar, director Restart: É um bocadinho exagerado, um bocadinho cliché, dizer que os miúdos mandavam uma data de CV para os directores de Recursos Humanos. Eu já recebo muitos CV de gente nova, com cartas de intenção já escritas e personalizadas. De há uns anos para cá, a geração MTV achava que os mais velhos estavam a ficar para trás. Acho que o equilíbrio entre as pessoas com mais sabedoria e a juventude dá energia, faz coisas interessantes!

Miguel Gonçalves: Há que começar a pôr a mão na massa e é no trabalho duro que se descobre a paixão. Não dá para descobrir anteriormente. Em parceria, as empresas crescem mais.

Alberto da Ponte, presidente Central de Cervejas: Um dos nossos problemas é não saber celebrar os pequenos sonhos que temos. Se temos uma pequena vitória, temos que celebrar. O grande sonho não pode ser também a soma de pequenos sonhos?

Miguel Gonçalves: Eu digo a mim próprio todos os dias que o sucesso é chegar todos os dias a casa, à noite, exausto e dizer “Potente!” Um dia de cada vez!

Álvaro de Mendonça, responsável Novos Negócios Cofina: As ideias, em Portugal, quando vêm de uma pessoa com 25 anos, ainda valem pouco. E depois quando vêm de uma pessoa com 50 passam de repente a valer imenso. Nos Estados Unidos da América, uma pessoa com 25 anos tem financiamento, instalações, todo o apoio. Mesmo que vá à falência uma vez, ninguém o acusa. Em Portugal as ideias dos de 25 anos não vingam. As pessoas são muito conservadoras.

Miguel Gonçalves: A maior parte das pessoas têm que ver para crer. O secretário de Estado do Empreendedorismo tem 35 ou 36 anos. Se calhar é a primeira vez que gente tão nova ocupa cargos tão importantes. À medida que estas pessoas novas vão fazendo um trabalho de referência, começa a disseminar-se esta ideia de que gente nova também pode fazer coisas boas. Enquanto não existirem referências prévias, acho que vai ser sempre difícil mudar as mentes de quem quer que seja. Nós precisamos de referências. Se aconteceu com um pode acontecer com vários. Referência a referência vamos fazendo crescer esta ideia de que gente nova pode produzir conteúdo.

Os EUA são o país do Zuckerberg, do Bill Gates. O Bill Gates tinha 13 anos e andava na única escola do mundo onde havia um computador. Dos 13 aos 20 tinha as 10 mil horas de programação dele, por isso desistiu da faculdade. Já tinha aprendido. Há um conjunto de personagens que conseguiram em 68/70 e 75/80, nos EUA, aquilo que em Portugal se começou a conseguir agora há pouquíssimo tempo. Lá lidam com miúdos a fazerem milhões há 20 ou 30 anos. É fácil para eles acreditarem que pessoas de 20 anos conseguem produzir riquezas inquantificáveis porque já o viram acontecer há muito tempo. Aqui aconteceu com pouca gente ainda.

Manuel Faria, director-geral Indigo: O segredo é a alma do negócio, mas hoje em dia a partilha não é a alma do negócio? Ando a trabalhar numa ideia há dois anos, que tem a ver com telemóveis e pessoas. Eu não percebo nada de telemóveis, por isso tive que andar pelo mundo inteiro a perguntar como é que se desenvolve, desde Hong Kong até Kiev… Tive sempre que partilhar a ideia e sempre a partilhei com gosto. Cada vez que mostro a ideia a alguém sinto-me mais seguro. Porque vivemos uma época em que falarmos abertamente sobre as coisas torna-nos mais fortes e faz-nos acreditar mais.

Alberto da Ponte: Com a evolução da sociedade passámos de uma cultura hierárquica para uma cultura funcional e estamos a viver uma cultura de network. A partilha é o elemento enriquecedor. A noção de que o segredo é a alma do negócio já não é verdade, porque o network é fundamental para se ser bem sucedido.

Miguel Gonçalves: Acredito cada vez mais em make meaning not money. Prefiro trabalhar com aqueles que não estão com segredos. Que estão aqui para trabalhar. A alma é o segredo do negócio. Uma ideia extraordinária não é de uma pessoa. É de centenas de pessoas. Quanto maior a ideia, maior a quantidade e o volume de cabeças que lá está. No backoffice está sempre uma quantidade enorme de pessoas. Um copo de água com uma gota de água não mata a sede a ninguém, mas se juntarmos outra gota, e mais outra, e mais outra… de repente temos um copo de água que satisfaz uma necessidade concreta e operativa.

Veja o vídeo da segunda Tip Talks:

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