
Tempus Fugit: A Guerra pelo Tempo do Consumidor
Por Francisco Rio, Portugal Retail Manager Salesland Group
“Tempus fugit” (uma expressão em latim que significa “o tempo voa”). O tempo escapa-nos por entre os dedos, como grãos de areia ao vento. Na minha família, o tempo sempre foi algo mais do que um simples conceito – foi uma arte. O Avô Manuel, relojoeiro de profissão, ensinou-nos a importância do tempo. Para ele, trabalhar com o tempo não se limitava a ajustar ponteiros ou engrenagens, mas a entender que, em cada movimento, o tempo era moldado, controlado e respeitado. O tempo era, literalmente, o seu trabalho, e lidar com ele era uma responsabilidade tremenda. O Avô costumava dizer que “o tempo não espera por ninguém” e passava horas ajustando pequenos mecanismos, com paciência e precisão. Naquela época, o tempo era medido por relógios, e os relógios dependiam da habilidade e dedicação de alguém como ele. Para o Avô, o tempo não era apenas contado, mas cuidado. A habilidade de “lidar” com tempo era a sua mestria.
Do ponto de vista do marketing e do seu propósito junto dos consumidores, as marcas lutam ferozmente pela atenção do público, numa guerra sem tréguas, em que cada segundo conta. Num mundo de informações fragmentadas e distrações constantes, as marcas enfrentam um desafio colossal: como captar e, mais importante, manter a atenção do consumidor. Se antes o tempo era medido em ponteiros e engrenagens, hoje a competição é avassaladora, com cada plataforma e cada formato a tentar roubar um pedaço do nosso tempo. A atenção do consumidor nunca foi tão disputada.
Neste cenário, a relevância tornou-se a chave. Não basta ser visível: – é imperativo ser relevante. Face ao exposto, o marketing digital precisa ser mais do que uma sequência de anúncios impessoais; as marcas devem oferecer experiências personalizadas que se conectem com o público de forma genuína. Utilizar dados para segmentar de forma precisa e construir uma narrativa autêntica, são agora os pilares de qualquer estratégia de sucesso. As campanhas precisam de se adaptar às necessidades e preferências de cada consumidor, de forma a gerar um impacto real e permanente.
A personalização, apoiada pela inteligência artificial e pelo machine learning, oferece uma vantagem determinante. Com essas ferramentas, as marcas conseguem criar uma comunicação mais próxima, adaptando-se em tempo real às preferências do consumidor e criando interações mais significativas. Mas, mais importante do que a tecnologia, é a forma como as marcas comunicam: com transparência, autenticidade e um propósito claro.
Num mundo saturado de informação, a verdadeira inovação não está apenas na adoção de novas tecnologias, mas na capacidade de utilizar essas ferramentas de modo a oferecer experiências mais envolventes. O storytelling, quando bem executado, torna-se um poderoso aliado, criando uma ligação emocional que vai além da transação.
Para conquistar o tempo do consumidor, as marcas precisam de ir além das interrupções constantes e das táticas convencionais. Estas devem apostar numa abordagem que respeite o tempo do público, oferecendo algo relevante, autêntico e eficaz. As marcas que conseguem comunicar com propósito e inovação, sem perder de vista as necessidades do consumidor, são as que irão não só captar a atenção, mas também construir relações duradouras e de confiança.
Assim, tal como o Avô Manuel moldava o tempo, as marcas devem aprender a moldar a experiência do consumidor. O tempo é, sem dúvida, o maior ativo da Era digital, e aqueles que souberem valorizá-lo, com autenticidade, transparência e inovação, conseguirão conquistar o mais precioso dos bens: a lealdade do consumidor.
O tempo, tal como antes, continua a ser insuperável, mas agora, mais do que nunca, é a nossa atenção que as marcas devem conquistar e preservar, com o mesmo respeito e cuidado com que o Avô honrava cada segundo dos “seus” relógios.