Tempo para um novo coffee break
Roberto Mulassano, chief Troublemaker e co-fundador da Daily Coffee, adquiriu, em 2017, a maior operadora da marca Lavazza da região de Lisboa, no sector Business e Vending. Cinco anos depois, em que ponto se encontra?
uando a Marketeer o entrevistou, em 2017, Roberto Mulassano tinha 27 anos e tinha acabado de chegar a um mercado que estava já consolidado, na área de venda de café e acessórios. Hoje, aos 33 anos, e sendo um dos maiores representantes da marca Lavazza na capital portuguesa, como reflecte sobre o estado da empresa depois de uma pandemia e numa fase em que o mundo está à porta de uma provável recessão? Como tem corrido esta experiência, o que mudou e quais as perspectivas para o futuro?
A hora do “coffee break” continua a ser um momento que o fascina?
Em qualquer área de trabalho é importante valorizarmos as pausas, de forma a criarmos uma boa relação com o ambiente que nos rodeia, para partilhar ideias e experiências de trabalho com os colegas, assim como trabalhar a “relação” que temos connosco próprios. Temos de ter noção que somos seres humanos e que precisamos de respeitar o nosso corpo e o nosso cérebro. No final do dia, vamos sentir que fomos mais produtivos, estaremos menos cansados, física e psicologicamente, e seremos, certamente, mais felizes no local de trabalho.
Em cinco anos, a forma como se olha para um “coffee break”, assim como as conversas que se cruzam, durante o mesmo, também mudaram?
A questão do “coffee break” era, e continua a ser, fundamental, mas claro que há coisas que mudaram. Principalmente no pós-pandemia. Muitos jovens experienciaram o trabalho remoto e, além de ser mais confortável, acharam, muitas vezes, que era mais rentável a nível de produtividade. Chegamos a um ponto em que temos entre 30% e 40% das pessoas a fazer trabalho presencial, sendo que a restante equipa está em casa. Posto isto, e em conjunto com os nossos clientes, temos trabalhado este novo conceito de “coffee break”, em que nos dias em que os colaboradores vão ao escritório parece haver uma maior vontade de conversar e de ver os colegas. Se antes a conversa num “coffee break” era aquela regular do dia–a-dia, hoje, é mais produtiva e as pessoas valorizam mais este reencontro. Aproveitam para fazer os pontos de situação que remotamente não se consegue. Portanto, diria que os momentos de “coffee break” hoje em dia são menos, mas mais longos e mais produtivos, tanto a nível profissional como na criação de relações pessoais entre colegas.
Pode dizer-se que o “coffee break” nunca foi tão fundamental na produtividade das equipas e das empresas?
Actualmente, assim como uma empresa de comércio deve ter uma loja online, qualquer empresa necessita de valorizar momentos de “coffee break”, pelas razões que já mencionei. Mas cada empresa é uma empresa e cada colaborador é um colaborador, e nós, como entusiastas do “coffee break”, não podemos ditar o que é um bom “coffee break”. Na Daily Coffee trabalhamos individualmente com cada cliente para perceber como é que podemos criar o “coffee break” ideal para cada um dos nossos clientes.
Nos últimos anos, como é que conseguiram oferecer o melhor “coffee break” às empresas com que trabalham?
Antes da pandemia já tínhamos o nosso famoso carrinho da Lavazza, um coffee corner ambulante, criado para as empresas que pretendem surpreender os seus colaboradores com um “coffee break, made in Italy”, no qual apresentamos todo o tipo de lotes de café, em cápsula ou em grão, desde os clássicos, aos novos produtos biológicos, fruto de projectos de sustentabilidade da Lavazza. Criámos, ainda, o nosso serviço de pequenos-almoços para empresas, para o qual fizemos uma parceria com actuais clientes de pastelaria e que, promovendo a economia circular, nos ajudam a servir os melhores pequenos- -almoços com produtos sem açúcares refinados, sem gorduras hidrogenadas e sem pastelaria industrial. Oferecemos produtos feitos com farinhas integrais, farinhas de aveia e com mel, em substituição do açúcar, e o óleo de coco em substituição das gorduras hidrogenadas.
Ao longo destes anos, gostámos de acompanhar os nossos clientes e seguir de perto as tendências de mercado. Por exemplo, existem empresas que sofreram reestruturações e os novos colaboradores têm uma idade média mais baixa do que a anterior e passam a preferir outras bebidas que não apenas café. Por isso, tentamos instalar uma máquina que lhes ofereça também lattes, chocolate quente, chá, etc. Todas estas questões são importantíssimas para a Daily Coffee e, por isso, ano após ano, fazemos visitas pontuais aos nossos clientes, de forma a experienciarmos de perto as suas necessidades, satisfações/insatisfações, hábitos de consumo e, dessa forma, melhorar ou alterar as nossas soluções.
Recentemente, registaram também algumas alterações nos segmentos onde actuam, não foi?
Durante estes cinco anos, a Daily Coffee teve de tornar-se um pouco menos fiel ao seu mote de partida, no sentido em que quando comprámos a carteira de clientes da antiga representante da Lavazza, o nosso foco era realmente oferecer o melhor “coffee break”.
Foi precisamente o que fizemos. Alargámos ao máximo a linha de produtos nessa área, até que chegámos à conclusão que devíamos abrir horizontes, partindo para outras áreas de negócio. Passámos, assim, a ter como foco estar presente em todo o lado, com a marca que representamos, a Lavazza, seja em casa, no escritó- MARKETEER # 313 AGOSTO DE 2022 87 rio, no dentista ou num restaurante. Um dos primeiros passos foi passar do foco apenas na cápsula de café empresarial para o café em grão, pois a Lavazza decidiu lançar uma linha de lotes para máquinas de café automáticas, com café em grão, pensado exclusivamente para este efeito. Portanto, logo aqui tínhamos condições para apresentar uma solução melhor do que as que existiam no mercado e apresentávamos a solução em grão aos nossos clientes, não por ser uma solução mais barata, mas também pelo seu valor ecológico. Isto foi antes de apresentarmos as cápsulas compostáveis, as primeiras cápsulas profissionais biodegradáveis, um lançamento recente da Lavazza, durante a pandemia.
Passámos, depois, para o segmento de vending, que continuamos a desenvolver, apresentando uma solução de café em cápsula para máquinas de vending, para acabar com a ideia de que o café das máquinas de vending é “mau”.
As soluções de dispensadores de água apareceram depois, ao trabalharmos com alguns fornecedores, e hoje representamos a Borg & Overstrom em exclusivo para Portugal, uma marca inglesa premium de fontes de água filtrada para empresas, que aposta no design e qualidade.
Completo o projecto empresarial, apresentámos à Lavazza uma proposta para ser a loja online oficial da marca em Portugal e começámos a vender toda a linha doméstica da Lavazza, desde café, a máquinas e acessórios. Na pandemia, este foi um dos segmentos que mais nos ajudou enquanto empresa. No pós-pandemia, a loja online veio para ficar. Por último, e para fechar (risos), abraçámos o segmento de Horeca, em parceria com um outro distribuidor da marca em Portugal, no qual nos focámos essencialmente na zona de Cascais e Lisboa, tendo fechado recentemente o fornecimento exclusivo do novo hotel Hilton de Lisboa.
Chegamos a 2022 com a “base” montada para começarmos a crescer em todas as áreas de mercado em que existe café. Desde 2018, o nosso volume de negócios quadruplicou, portanto, não só nos focamos em abrir todas as áreas de negócio, como também mantivemos o foco em tornar todas as existentes rentáveis.
Em 2017, falava sobre a Daily Coffee ter uma imagem demasiado alegre. Como evoluiu a imagem da marca?
A nível de imagem parece-nos óbvio que quando crescemos e amadurecemos, os nossos projectos crescem e amadurecem connosco. Tinha 27 anos na altura e hoje tenho 33. Cresci, amadureci e, naturalmente, a Daily Coffee tinha de me acompanhar nesse percurso. Foi uma vontade nossa, do mercado e da própria Lavazza fazer um rebranding e um novo logótipo. Sendo nós uma empresa rápida, dinâmica e ágil, o nosso logo tinha também de ser muito rápido e fácil de absorver. A segunda grande mudança teve a ver com o nosso site e loja online, que se tornou a loja oficial da Lavazza e, portanto, tivemos que fazer um co-branding com a Lavazza e daí a adaptação das cores, mais próximas ao azul da Lavazza, mas mantendo o azul-claro que nos era característico. Para explicar melhor, digamos que a Daily Coffee passou de teenager para uma jovem adulta (risos).
Que novidades ou grandes lançamentos se aproximam?
Uma empresa com mais de 126 anos de história, que vai na 5.ª geração da família, e que continua anualmente a surpreender os mercados internacionais pela sua inovação, dedicação e paixão, tinha de ser nossa parceira. A Lavazza mantém-se fiel a este desejo de inovação constante, sendo que as últimas novidades são as cápsulas compostáveis, as Ecocaps, que se degradam ao fim de 180 dias; a parceria entre a Lavazza e a SMEG, com a primeira e única máquina SMEG com cápsulas; e máquinas de café de vending com café em grão ou cápsula dentro da mesma máquina, entre outros.
A Daily Coffee irá apresentar as suas novidades, em parceria com a Lavazza, de uma forma consolidada, numa área de negócio em específico. Posso adiantar que, pela primeira vez, existirá um cross-selling entre as marcas do grupo – a Whittinghton, para chás, e a Eraclea, de chocolate quente – que darão origem a produtos muito promissores e com o nosso selo de qualidade.
Em termos de sustentabilidade, o que mudou na vossa oferta?
Já em 2017 falávamos sobre este tema da sustentabilidade, apresentando os acessórios em papel e madeira, que passaríamos a vender ao cliente. Também já referi outras soluções eco-friendly. Mas há um limite muito curto para as empresas serem 100% eco-friendly. Quando apresentamos um produto em que os benefícios para o ambiente são notórios, como é o caso das Ecocaps, em que a cápsula se biodegrada em 180 dias, que o próprio café é biológico e que a Lavazza ainda compensa todas as emissões de CO2 em toda a cadeia de valor deste produto, é lógico que o preço do produto vai ser diferente. Mas em Portugal e para a maioria das empresas, o preço ainda é mais importante do que o factor sustentabilidade.
No entanto, não deixámos de apostar nestes produtos e reduzimos até a nossa margem, para conseguir ter uma maior penetração de mercado. Percebemos, por outro lado, que a Daily Coffee tem também de adoptar comportamentos mais sustentáveis dentro de casa. Assim, decidimos utilizar energia 100% verde nas nossas instalações, escritórios e armazém, e começar a alterar a nossa frota de veículos, com os quais fazemos distribuição de encomendas diariamente, com veículos 100% eléctricos carregados com essa mesma energia. Começámos, ainda, a recolher as borras de café das nossas máquinas de vending para aproveitamento em agricultura na região de Lisboa.
E para o futuro, o que podemos esperar da vossa marca?
Estamos a preparar uma grande novidade para um dos segmentos de negócio em que trabalhamos, o nosso core business, que alterará, para melhor, toda a experiência do consumidor, aliando o co-branding que já referi às restantes marcas do grupo. Por isso, não me vou adiantar muito nesta temática e é esperar para ver.