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85% das empresas portuguesas priorizam a sustentabilidade, mas só 39% têm um plano de ação
A sustentabilidade é uma prioridade estratégica para a maioria das empresas portuguesas estando a sua implementação ainda numa fase inicial da Jornada 2030.
Este é o resultado do relatório “Jornada 2030: Maturidade em Sustentabilidade das Empresas em Portugal – Retrato Agregado 2021-2023” realizado pelo BCSD Portugal, que apresenta a evolução de 143 das 245 empresas portuguesas signatárias da Carta de Princípios e Jornada 2030 do BCSD Portugal, em matéria de sustentabilidade, ao longo de 3 anos.
Ainda assim, destacam-se desafios estruturais: a maioria das empresas carece de estratégias robustas, nomeadamente, na definição de planos de ação concretos, no envolvimento da cadeia de valor e na implementação de sistemas eficazes de reporte e monitorização.
O Retrato Agregado 2021-2023 reflete uma adesão crescente, em termos de número de participantes (considerando que as respostas das empresas se referem, sempre, ao ano transato): o Retrato Agregado de 2022 contou com o contributo de 67 empresas, num universo de 185 (36,1%); em 2023 com 80 empresas, num universo de 207 (38,6%) e em 2024 com 96 empresas, num universo de 143 (67,1%).
Este retrato compara tendências gerais, uma vez que, das 143 empresas, foram 29 as que contribuíram com respostas em 3 anos completos, e é assente em três eixos principais: posicionamento nas etapas de maturidade da jornada de sustentabilidade, práticas de gestão da sustentabilidade e temas ESG.
No que respeita à maturidade das empresas em sustentabilidade, a maioria (75%) encontra-se nas fases iniciais da Jornada 2030 (Conhecer e Construir), com 9% na fase prévia de reconhecimento da importância do tema (Despertar).
Nestas fases concentram-se especialmente micro, pequenas e médias empresas. As restantes – maioritariamente empresas de grande dimensão – estão em estágios mais maduros (Comunicar, Consolidar e Coliderar). Verifica-se também um aumento do número de empresas que transitaram para estas fases mais avançadas.
Relativamente à incorporação da sustentabilidade na cultura e estratégia empresariais, 96% das empresas reconhece a sustentabilidade como área estratégica, 91% tem a sua missão e visão alinhadas com os compromissos de sustentabilidade, e 75% desenvolve e monitoriza a sua estratégia de sustentabilidade.
Quanto à gestão e estruturas internas, 89% das empresas possuem equipas ou departamentos dedicados exclusivamente à gestão da sustentabilidade, sendo que 63% já nomearam um administrador responsável pela área.
A distribuição dos temas ESG trabalhados mostra que as empresas estão a dar prioridade à descarbonização e economia circular. Analisando cada pilar ESG em detalhe, resíduos e água são os temas ambientais mais trabalhados, saúde e segurança e conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal são os temas sociais em destaque, e ética e conformidade legal são os temas prioritários de governança.
A implementação de estratégias sustentáveis ainda apresenta desafios: apesar de 85% das empresas já terem definido prioridades estratégicas, apenas 39% têm um plano de ação e monitorização. A análise de materialidade é realizada por 49% das empresas, o que significa que menos de metade avalia sistematicamente quais os temas ESG mais críticos para a sua estratégia e impacto.
Quanto ao envolvimento com os stakeholders, 48% das empresas tem uma abordagem estruturada para envolver partes interessadas (clientes e colaboradores são os stakeholders prioritários), e 81% adotaram medidas concretas para responder às preocupações identificadas por estes.
Relativamente à comunicação de sustentabilidade, o aumento da preocupação com a transparência e o greenwashing poderá estar a gerar alterações na gestão da comunicação: 66% das empresas produzem relatórios de sustentabilidade e 19% fá-lo recorrendo a todas as boas práticas identificadas pela iniciativa .
Finalmente, 58% das empresas desenvolvem projetos de inovação sustentável, porém de forma incremental, através da melhoria de processos já existentes, em vez de mudanças disruptivas.
“O caminho para uma gestão sustentável mais madura exige um maior compromisso da liderança, melhor planeamento estratégico e implementação de ações concretas que efetivem a transformação sustentável do tecido empresarial português, rumo a uma economia sustentável e de baixo carbono”, refere Filipa Pantaleão, Secretária-Geral do BCSD Portugal.