Sustentabilidade

Por Calors Furtado, fundador da Porto de Ideias

A palavra que dá título a este artigo é seguramente das que mais têm sido usadas nos últimos tempos. E tem servido para tudo e para um par de botas. Sem dúvida nenhuma que a preocupação com o meio ambiente é importante e tem sido neste enquadramento que tem sido mais usada. Mas eu gostaria mesmo era falar de uma outra aplicação da palavra e dirigida aos gestores e empresários.

E sim, estou a falar de dinheiro, de ganhar dinheiro, de gerar riqueza. Não adianta andarmos todos preocupados com a sustentabilidade ambiental e obrigarmos as empresas a integrarem práticas sustentáveis na sua produção, ou nos seus serviços, e não nos preocuparmos com a sua sustentabilidade económica.

E não adianta andarmos a berrar aos quatro ventos que as empresas têm que ter práticas de sustentabilidade ambiental e esquecemos a carga fiscal que as empresas sofrem. E que muitas vezes são um entrave à sustentabilidade económica das mesmas. Qualquer empresário/gestor que faça as contas na contratação de um trabalhador fica assustado com o custo que ele representa. Quase desiste de contratar.

E um custo que não é para total benefício do individuo contratado. Por exemplo, um colaborador que representa um custo mensal de 3350 euros para uma empresa apenas leva para casa 1700 euros. 1650 euros vão para o Estado. Estado essa que o gasta com os serviços que nos presta, perfeito, e com a máquina que alimenta e da qual se alimenta. Está mal. (Deveríamos reflectir que modelo de Estado queremos. Mas fica para outra altura). É isto que chamamos sustentabilidade empresarial? Não. Mas para além destes custos existe toda uma série de impostos e de burocracia que causam entropias no processo de sustentabilidade das empresas.

Por exemplo, uma “luta” que deveríamos abraçar é o de facilitar o trabalho temporário dos nossos jovens estudantes. Sim, esses que passamos a vida a dizer que os estamos a formar para depois emigrarem. Quantos são os que vivem fora do seu agregado familiar e para conseguirem um rendimento que lhes permita ter o chamado pocket money não trabalham uma horas por dia?

Em Portugal, ou se inscrevem nas finanças e passam uns recibos que depois são taxados e nalguns casos criam problemas aos IRS dos pais, ou então andam a recolher despesas para ajudar empresas a justificar saídas de caixa. Em Inglaterra a coisa é mais simples. Mesmo que o estudante trabalhe umas horas certas, e não eventuais, mas não atinja determinado valor mensal, basta a empresa inscrevê-lo na segurança social e processar a despesa. O jovem estudante não é penalizado e a empresa justifica a saída de caixa. Parece um sistema muito mais sustentável.

Mas o nosso Estado olha para nós como se em cada um estivesse um potencial Alves dos Reis. E assim a coisa não é sustentável. Mas até quando iremos continuar a aceitar e dar palco a quem olha para o empresário como um explorador das classes oprimidas que apenas quer ter lucro? Por isso toca a aceitar que as empresas têm de ser economicamente sustentáveis ou não há sustentabilidade social e sem estas não há sustentabilidade ambiental que sirva para nada.

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