Sozinhos em casa, os consumidores mais velhos reúnem-se no Facebook

Por Martin Henkel, fundador da SeniorLab – Mercado & Consumo 60+ , professor da Fundação Getúlio Vargas no Brasil, parceiro da especialista em negócios da longevidade Ana Sepúlveda para negócios entre Brasil e Portugal e co-criador da Certificação Funcional

Para os adultos mais velhos, as redes sociais têm funcionado como um local de encontro, conversas, trocas de ideias, apreciação dos acontecimentos dos familiares, das vitórias dos miúdos e dos seus amigos. Recolhidos às suas casas e com o mínimo contacto externo possíve,l as pessoas mais velhas estão a perder o medo de utilizar seus telemóveis para, num primeiro olhar ocupar o tempo, mas rapidamente transformar aquela pequena tela numa “porta” para visitar um familiar ou uma janela para conhecer coisas novas.

Num estudo recente realizado pela SeniorLab em Portugal, descobrimos que os mais velhos de facto estão invadindo a internet. Para termos uma ideia, a rede social Facebook tem 7,4 milhões de perfis activos em Portugal. Destes, 1,02 milhões têm como titular da conta uma pessoa com 60 anos ou mais, o que equivale a 13% dos perfis da rede social.

Segundo dados da Pordata, Portugal tem 10,2 milhões de habitantes. Destes, 3 milhões de habitantes têm 60 anos ou mais, o que equivale a 28,5% da população. Quando comparamos os “habitantes” mais velhos do mundo digital com os habitantes mais velhos do mundo real, os dados mostram-se ainda mais interessantes, pois 34,7% da população com 60 anos ou mais já tem perfil no Facebook.

O que buscam os 60+ no Facebook?

As nossas observações identificaram as principais interacções dos adultos mais velhos com a rede social. As motivações são as mais diversas, mas encontramos pontos em comum:

· Acompanhar os familiares que estão distantes ou afastados por conta da pandemia do novo coronavírus;

· Interacção social com amigos e conhecidos através do ecrã;

· Bisbilhotar o que as pessoas que conhecem estão a fazer nas suas vidas;

· Sentem-se incluídos tecnologicamente ao utilizarem a ferramenta;

· Informar-se dos principais acontecimentos através dos links de notícias de veículos de imprensa;

· Buscam opiniões ou recomendações de amigos para necessidades específicas, como encontrar um bom canalizador;

· Fazem uso da rede para criticar serviços ou produtos com problemas;

· Esperar o inusitado. A timeline do Facebook sempre busca uma surpresa para aumentar o tempo de permanência;

· A melhor parte são os ciclos de um ou mais anos onde o Facebook relembra alguma imagem ou publicação que foi importante.

As conversas pelo WhatsApp ou pelo telemóvel não começam mais pelo “O que você tem feito?” e já entram objectivamente numa publicação realizada com um tema familiar, link de notícia ou até reclamações a respeito de produtos ou serviços. Os intervalos do distanciamento foram preenchidos por uma espécie de diário. Encontramos situações de tanta sensibilidade entre as amizades nas redes sociais que, dependendo do tema publicado ou do que escreveu, as amigas percebem a tensão ou angústia e entendem que é hora de dar aquele telefonema para uma boa conversa e risadas. As redes sociais viraram uma espécie de termómetro do estado de espírito das pessoas. No quesito relações pessoais isto pode ser um precioso aliado.

Os temas que mais mobilizam são aqueles que ligam as pessoas a um determinado momento da vida. A foto desbotada da turma de formandos de 1975, algum acontecimento importante em que várias pessoas estavam juntas ou algum lugar popular, o resgate das boas lembranças é assunto que rende dias de comentários em numa publicação.

A pandemia criou os 60+ 2.0

Os 60+ versão 2.0 já estão entre nós. Seja por necessidade ou curiosidade, eles aproveitaram a pandemia para experimentar. É a hora da verdade para as marcas. Testando navegabilidade, aprovando algumas aplicações e desaprovando a maioria, os 60+ enfrentam soluções pouco intuitivas ou que não conversam com eles.

Quando a vacina chegar e a pandemia terminar, eles voltarão às ruas e a sua vida quase normal. Continuarão a utilizar soluções que facilitem de facto sua vida e que tenham uma UI60+ (user interface 60+) adequada. O meu recado às marcas e serviços: coloquem o olhar de Aging in Market o quanto antes nas suas soluções. Menos é mais.

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