7 grandes desafios da Mango na nova fase sem Isak Andic
A Mango está ainda em estado de choque após a perda súbita do fundador Isak Andic Ermay, acionista maioritário e presidente não executivo da empresa têxtil, que morreu aos 71 anos de forma inesperada num acidente de montanha. A marca, que celebrou, este ano, 4O anos de existência, enfrenta agora uma nova etapa, sem poder contar com o carácter visionário e inspirador de Andic, mas determinados a zelar pelo seu legado, como afirmou no sábado o seu CEO, Toni Ruiz. O futuro imediato passa por enfrentar sete grandes desafios.
Acionistas
O primeiro e inevitável movimento que ocorrerá na empresa com sede em Palau-solità i Plegamans (Barcelona) tem a ver com a sua estrutura acionista. Noventa e cinco por cento do capital estava nas mãos de Isak Andic através da empresa Punta Na Holding. Há alguns meses, o diretor-geral recebeu os restantes 5% da Mango, por vontade expressa do fundador, que pretendia assim recompensar o trabalho de Ruiz, mas também ligar o seu futuro ao da empresa a longo prazo. A grande incógnita agora é saber quem herdará as acções da Punta Na Holding e, por conseguinte, 95% da Mango. Andic deixa três filhos, Jonathan, Judith e Sara, do seu casamento com Neus Raig. A sua atual esposa era Stephanie Knuth. O seu afilhado Henry e o seu irmão Nahman, bem como os respectivos cônjuges e os cônjuges dos filhos do empresário, fazem igualmente parte da família próxima do falecido. Andic tinha ainda duas sobrinhas e uma neta.
Governação
A reconfiguração da estrutura acionista da Mango influenciará necessariamente a recomposição dos órgãos sociais da empresa, incluindo a nomeação de um novo presidente e a possibilidade de, para além de Jonathan Andic, que já faz parte do conselho de administração, outros membros da família do fundador do grupo virem a integrar o conselho.
O facto de o CEO, até agora o braço direito do fundador, ter visto o seu papel reforçado ao tornar-se também acionista pode favorecer um processo de transição harmonioso. Em todo o caso, a manutenção de uma boa harmonia entre a direção, a cargo do CEO, e a propriedade é um aspeto fundamental para o futuro da Mango.
Uma questão pendente no conselho de administração, reconhecida pelo próprio Toni Ruiz, é a incorporação de mulheres neste órgão. Atualmente, existe apenas uma mulher no conselho de administração, Margarita Salvans, diretora financeira, num total de oito membros.
Plano estratégico
O grupo têxtil está prestes a concluir o primeiro ano do seu plano estratégico 2024-2026. Os objectivos fixados pela Mango são ambiciosos. No final do plano trienal, a empresa espera ultrapassar os 4.000 milhões de euros de volume de negócios, mais 29% do que no ano passado, quando atingiu o valor recorde de 3.104 milhões. O desafio é fazer com que este crescimento não afecte a rentabilidade da empresa. A previsão é que o lucro líquido em 2026 duplique o registado em 2023, que foi de 172 milhões de euros. O plano estratégico prevê também a abertura de 500 lojas em três anos, que se juntariam às 2700 lojas próprias e franchisadas da empresa no final de 2023. No primeiro semestre deste ano, a Mango abriu 57 novas lojas, elevando o número total para 2743 pontos de venda. É de salientar que, paralelamente às aberturas, se registaram alguns encerramentos. A empresa mantém uma confiança inabalável no modelo de loja física, que considera perfeitamente compatível com a aposta no negócio online, que gera um terço das vendas totais.
A fórmula do franchising continuará a desempenhar um papel fundamental na internacionalização do grupo, como ferramenta para ganhar capilaridade em mercados já maduros ou para entrar num novo país com um parceiro local, como salientou Toni Ruiz em março passado. Atualmente, 70% das lojas Mango são franchisadas e 30% são próprias. Para além das aberturas previstas, o plano estratégico prevê a remodelação de cerca de 150 lojas da cadeia até 2026.
Os Estados Unidos
Este é o mercado em que a Mango aposta com mais ímpeto no âmbito do seu atual roteiro. A ofensiva no país começou em 2022 com a abertura de uma loja na Quinta Avenida de Nova Iorque e o desafio do grupo é que os EUA se tornem um dos três principais mercados da marca em termos de volume de negócios até 2026. A Mango começou este ano com 22 pontos de venda no mercado americano e planeia terminar com uma rede de 42 lojas. Para além disso, tem como objetivo abrir duas lojas por mês no próximo ano. Em 2025, a marca quer reforçar a sua presença na Califórnia e no Texas e entrar nos estados de Washington, Illinois, Nevada, Connecticut, Arizona, Ohio e Oregon. “É um mercado-chave para nós, que está a crescer a dois dígitos”, declarou em novembro Daniel López, diretor de expansão e franchising do grupo. Na América do Norte, a Mango tem também como objetivo crescer no Canadá e no México, dois outros países prioritários.
Europa e Ásia
Outro desafio do ponto de vista dos mercados geográficos é o reforço da cadeia na Europa, sendo a França, a Itália, a Alemanha, o Reino Unido e a Polónia os principais países onde se pretende lançar novas lojas. A Mango também não esqueceu o mercado espanhol, onde planeia terminar 2024 com 20 aberturas. O CEO sublinhou que a quota de mercado da marca em Espanha é de 3%, o que oferece um forte potencial de crescimento no país. Na Ásia, o único país prioritário é a Índia, onde a empresa tem uma aliança com o grupo local Myntra. Se as previsões forem cumpridas, a Mango atingirá 110 lojas no mercado indiano este ano. Por outro lado, a China não está atualmente no centro das atenções da empresa espanhola. Trata-se de um “mercado complexo”, nas palavras do diretor.
Diversificação
Com 81% das receitas provenientes da roupa de senhora, outro dos desafios da Mango é consolidar as outras linhas da marca, nomeadamente a roupa de homem, a roupa de criança e adolescente, bem como a linha de homewear, uma categoria mais recente.
“Gostaria que estas linhas tivessem uma maior quota no negócio do grupo”, disse o CEO após a apresentação dos resultados de 2023. A Mango Man, liderada por Jonathan Andic, contribuiu com 11% do volume de negócios no ano passado, em comparação com 8% para a Mango Kids e Mango Teen.
Novo roteiro
Agora que Isak Andic já não está envolvido, a direção do grupo terá de elaborar um novo roteiro com vista para além de 2026. “O próximo plano será muito mais ambicioso em termos de conquista de quota de mercado e de novos clientes”, afirma Ruiz, que sublinha que estes desafios estarão sujeitos ao cumprimento do plano estratégico atual. “O plano de 2024-2026 dar-nos-á uma medida interessante de até onde podemos ir”, afirmou.