Saudades de um bom peixe? O Peixoco resolve com mestria

Se há algo em que os portugueses são exímios é na arte de para cada terra terem uma sugestão de restaurante. E nós não queremos ser excepção. Mas, por vezes, as propostas que trazemos são, chamemos-lhes, aspiracionais para os bolsos de muitos dos que nos leem (e para os nossos também, confessamos). Daí que quando descobrimos novos espaços que reúnem o pleno da qualidade dos produtos, da simpatia de quem nos atende e que quando chega a conta não nos obriga a deixar um rim ou ficar a lavar pratos, o que mais queremos, dizia, nesses casos, é espalhar aos quatro ventos a boa nova! Mesmo correndo o risco de que quando lá quisermos voltar esteja cheio com os leitores da Marketeer, o segredo que vos revelamos, hoje, dá pelo nome de Peixoco.

O nome dá já algumas pistas e não será difícil de perceber que, neste espaço, os reis são o peixe e o choco. Ou não estivéssemos a falar de um espaço que fez de Setúbal, mais propriamente da zona em frente à doca, a sua sala de estar.

Com vista para o rio Sado e com Troia a espreitar do lado de lá, o Peixoco não deixa créditos por mãos alheias. Ali pode contar apenas com os mais frescos produtos vindos do mar (há apenas uma opção de carne nas entradas, o pica-pau da vazia – 11,5€ – e duas nos pratos principais, também de vazia), apostando não só na qualidade como também na sazonalidade dos mesmos. Daí que Constance e André adaptem a carta três vezes por ano, de acordo com os ingredientes da época.

No dia da nossa visita a refeição começaria com a surpresa no couvert com uma manteiga de algas (0,95€), com verdadeiro sabor a mar e super cremosa, que acompanhámos com o pão que ia chegando à mesa (1,4€). Não demoraria a chegar aquele que é já um dos cartões de visita da casa: o croquete de choco (2 unidades) com maionese trufada e paprika (3,5€). Quentinhos, com pedacinhos de choco que se sentem a cada dentada e a tinta do mesmo, apetece, garantimos, sempre “provar” de novo. Contam-nos que esta entrada foi criada para utilizar partes do choco que não são tradicionalmente usadas, que são os pedaços que se sentem na boca, aproveitando ainda as partes menos nobres para fazer o bechamel do interior.

Ainda a recuperarmos da surpresa dos croquetes, senta-se à mesa a dose de mexilhões com manteiga de chouriço, cebolinho e limão (11,8€). Com o sabor do chouriço no molho, se for como nós, só a muito custo vai conseguir parar de o saborear com pequenos pedaços de pão.

A querer dar nas vistas, também, chegam as gambas grelhadas com molho de alho e limão (12,6€). E a frescura delas é tanta que quase as sentimos saltar da casca para a boca. Só a educação nos impediu de pedir reforço de dose. Afinal, estávamos a partilhar!

Seguir-se-iam as tostas de carapau com pesto de coentros e malagueta (6,1€) com os seus sabores super equilibrados. Mas aqui deixamos uma advertência àqueles que possam ser mais sensíveis porque pica um pouco.

Para rematar as entradas haveria ainda tempo para nos rendermos à alface grelhada com ovos de truta, creme fraîche e alga codium (7,3€). Não seria a nossa primeira opção ao olhar para a ementa, mas garantimos que quem o escolher não se arrependerá.

Os criadores do Peixoco – já o dissemos – pensam cada uma das propostas da carta tendo em consideração não só a sustentabilidade como também a redução ao mínimo do desperdício. E foi com esse foco que surgiram, entre as especialidades da casa, as salsichas de peixes (com 200 grama) com puré de batata e jus de legumes (15€). Da próxima vez que alguém vos disser que não come salsicha levem-no ao Peixoco. É que além de deliciosa, com os seus peixes brancos e azuis, também leva à letra o mantra do não desperdício alimentar já que muitos dos pedaços de peixe que, na generalidade dos espaços acabaria no contentor, aqui cabem numa salsicha que, garantidamente, nunca mais esquecerá!

Mas entre as especialidades há mais duas que fizeram balançar o nosso coração pelo efeito na papilas gustativas e pela conquista do selo – inventado agora – de “o melhor da refeição”: por um lado, temos o arroz de peixe (para duas pessoas, 27,5€) e que, apesar da demora em decidirmos a servir-nos, nunca deixou de ter molhinho com fartura; por outro, o arroz de choco com tinta (também para dois, 27€), onde não faltam os pedaços de choco e uma cremosidade no arroz que nos faz continuar a comer mesmo para lá do limite.

Antes de saltar para as sobremesas – e porque há que fazer um compasso de espera para ter espaço para as mesmas – contamos-lhe que este projecto setubalense foi criado pelo jovem casal André Lucas, português, e Constance Bauer, francesa, que se conheceram em 2016, em Portugal, quando André frequentava o curso de Economia, e Constance estava de visita ao País para aprender a língua. Foi durante a pandemia que o conceito do projecto se materializou, com Constance a assumir as rédeas da cozinha, e André da garrafeira.

Nas sobremesas foi criado um doce equilíbrio entre as mais adocicadas e as mais frutadas. Terá de escolher entre: o pudim da Nani (pudim de pão, doce e iogurte, 3,9€), uma especialidade da Nani, uma das colaboradoras da cozinha; a mousse de chocolate (3,8€); o iogurte, laranja e mashmellow (4,6€); e, não queremos ser tendenciosos, mas sendo, a deliciosa tarte de limão (5€).

Bom apetite e depois conte-nos se acha que vale ou não a pena dar um saltinho a Setúbal!

Morada

Av. José Mourinho 28, 2900-633 Setúbal

Texto de Maria João Lima

Fotos de Tiago de Paula Carvalho

Artigos relacionados