
Sabe o que são os “ninjas da pechincha”? Consumidores brasileiros adaptam-se à inflação
Num cenário de inflação crescente e consumidores cada vez mais atentos ao valor do dinheiro, Roney Ferrer Lima Carneiro se destaca como um verdadeiro estratega da economia doméstica. Conhecido como o “rei das pechinchas” no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), onde trabalha, ele não apenas procura os melhores preços para si, mas também partilha as suas descobertas com uma rede de mais de 400 pessoas no WhatsApp.
“Às vezes estou deitado e a minha esposa diz: ‘Roney, sai desse telemóvel!’ Ela acha que eu estou conversando no WhatsApp, mas eu estou a pesquisar preços nas aplicações”, conta Roney.
A prática de monitorizar preços e comparar ofertas tornou-se tão essencial para sua rotina que, em 2022, assumiu o cargo de chefe da seção de análise e pesquisa de preços do TRE-CE, ajudando a balizar as licitações do órgão. O seu método envolve o uso diário de aplicações de supermercados e marketplaces, além da troca de informações em grupos especializados.
Além disso, o fenómeno não é isolado. Um estudo da Valecard aponta um aumento de 55% nos gastos com supermercados e uma queda de 29% em restaurantes, evidenciando a mudança de hábitos do consumidor brasileiro. O uso de smartphones para comparar preços enquanto se faz compras físicas já é prática comum: segundo uma pesquisa global da PwC, 51% dos brasileiros adotam essa estratégia, contra uma média global de 36%.
Para especialistas, o desafio é equilibrar a economia com eficiência de tempo. “Senão torna-se escravo do centavo [cêntimos]”, alerta o consultor financeiro Genésio Vasconcelos. Ainda assim, para consumidores como Roney, a busca pelo melhor preço tornou-se quase um jogo. “Para mim, é como se eu estivesse a jogar um videojogo. O vilão é o preço alto. Ele vem para cima de mim, eu vou para outro canto e consigo escapar”, brinca.