Medicamento português constituído por células estaminais

Recentemente, a Crioestaminal concluiu a primeira fase de desenvolvimento de um medicamento experimental à base de células estaminais mesenquimais (sigla inglesa MSCs), constituído por doses de 100 milhões de MSCs do tecido do cordão umbilical. Nesta primeira fase foi produzida a primeira dose, com os necessários controlos de qualidade que permitirão a validação de todo o processo e a qualificação deste medicamento inovador como terapia experimental que poderá ser testada em doentes com Covid- 19 em condição mais grave.

A utilização deste tipo de células para tratar doentes com pneumonias graves associadas à Covid-19 tem vindo a ser testada na China, EUA e alguns países europeus, estando já em curso mais de 20 ensaios clínicos para estudar de forma alargada a segurança e eficácias desta terapia.

Resultados de estudos recentes, conduzidos na China e nos EUA, que investigaram se as MSCs seriam capazes de tratar a pneumonia associada à Covid-19, com base nas propriedades imunomoduladoras e reparadoras conhecidas destas células, revelaram uma reversão notável dos sintomas, mesmo em condições críticas.

A função pulmonar e os sintomas destes doentes melhoraram significativamente após a administração de MSCs, tendo-se observado um reequilíbrio nas populações de células do sistema imunitário destes doentes, bem como do perfil de moléculas pró e anti-inflamatórias. Os resultados publicados permitiram observar que a terapia com MSCs foi capaz de inibir a hiperactivação do sistema imunitário e de promover a reparação celular endógena, melhorando o microambiente pulmonar e permitindo a recuperação destes doentes.

Apesar destes estudos terem sido conduzidos num número ainda restrito de doentes, os resultados favoráveis obtidos sugerem que as MSCs podem constituir uma nova estratégia terapêutica para o tratamento desta doença.

«Nos últimos meses, perante a urgência da situação, tal como muitos outros grupos de investigação e empresas em todo o mundo, dedicamos todos os nossos esforços a tentar ajudar no combate a esta pandemia. Tirando partido de mais de 15 anos de experiência em projectos de investigação com células estaminais, em colaboração com hospitais e centros de I&D em Portugal, e da nossa equipa de técnicos e investigadores altamente qualificados, criámos uma equipa de trabalho que tem vindo a desenvolver este projecto com uma dedicação e esforço notáveis», refere André Gomes, director-geral da Crioestaminal.

André Gomes referiu ainda que «o desenvolvimento deste medicamento em tempo recorde só foi possível graças ao investimento recente da empresa em instalações únicas em Portugal para a produção de terapias avançadas à base de células. Outro factor decisivo foi o know-how e apoio dos nossos parceiros CNC, CHUC e IST, no âmbito do projecto MSCellProduction».

Com a conclusão deste projecto, nas próximas semanas, o laboratório estará em condições de disponibilizar as primeiras doses de MSCs para o tratamento de doentes com Covid-19 em condições mais graves. De acordo com os resultados obtidos nestas primeiras utilizações, nos próximos meses um grupo mais alargado de doentes poderá ser tratado com esta terapia celular experimental.

Sobre a Crioestaminal

A Crioestaminal, fundada em 2003, foi pioneira na criopreservação de células estaminais em Portugal, sendo o maior banco da Península Ibérica e integrando actualmente o maior grupo europeu da área, Grupo Famicord. Sediada no Biocant Park – o maior parque de Biotecnologia português – emprega mais de 80 colaboradores altamente qualificados sobretudo nas áreas da ciência da vida.

O grupo que integra tem mais de 400 mil amostras recolhidas e criopreservadas desde a sua fundação, tendo ainda o maior número de amostras resgatadas e transplantes realizados, com 74 utilizações de amostras de sangue do cordão umbilical, 10 das quais em crianças portuguesas. Promove um trabalho de referência na terapêutica com células estaminais, com quatro patentes internacionais registadas e vários projectos de investigação em curso. Investe, anualmente, cerca de 10% do seu volume de negócios em Investigação & Desenvolvimento.

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