Mãe, pai, tenho medo! (e agora?)

Todos sentimos medo, o que é normal no ser humano e absolutamente essencial para a sua sobrevivência. Mas o que é exactamente o medo? Trata-se de uma emoção desconfortável que traz consigo componentes fisiológicas, cognitivas e comportamentais. Acontece como uma reacção e/ou resposta a algo (causa/motivo) que representa um perigo, seja real ou imaginário. De acordo com vários estudos, cerca de 50% das crianças sentem medo, sendo que as meninas são mais expressivas em relação a esta emoção do que os meninos. Tal pode ficar a dever- -se ao facto de os meninos se mostrarem mais reservados na demonstração. A faixa etária compreendida entre os dois e seis anos é aquela em que incide mais esta emoção.

Apesar de causar desconforto e ser uma emoção desagradável, é importante e saudável sentir medo. Para começar, evita que nos coloquemos, constantemente, em situações de perigo; no caso das crianças, o medo assume um papel protector, no sentido em que faz os mais pequenos reagir à presença de estranhos e que permaneçam ao pé dos pais em locais que não conhecem. Mais: evita que se aproximem de animais, sem as devidas precauções, assim como entrem em locais escuros, por exemplo.

Transmitir informação

O lar é o primeiro local onde as crianças experienciam o medo ou revelam que o sentiram e, por essa razão, os pais são as primeiras pessoas a quem solicitam apoio e protecção. É então importante que os pais estejam preparados para ajudar os filhos a lidar com o desconforto da situação em causa. Antes de mais, há que salientar que a maior parte dos medos são normais e passageiros, não sendo sinónimo de problemas. Os mais pequenos misturam a realidade com a fantasia e, por essa razão, para eles o “bicho-papão” é real e assustador.

O medo que a criança sente deve ser respeitado, mas não exacerbado, ou seja, não deve ter uma relevância exagerada no seio da família. Muitas vezes, também, os medos infantis não têm uma lógica racional, por isso os adultos terão que recorrer a determinadas explicações “criativas” para tranquilizar as crianças. Por exemplo, para o medo do monstro do armário, pode ser utilizada a explicação de que “a nossa casa tem uma protecção especial contra monstros, por isso eles não conseguem cá entrar”.

É crucial transmitir muita informação à criança. Explicar, numa linguagem acessível e adequada à sua idade, a forma de funcionamento do mundo e como acontecem ou o que são as coisas que a criança acha assustadoras. Se a criança tiver informação suficiente vai sentir-se mais confiante e o alvo/motivo assustador torna-se previsível e natural. Por exemplo, quando um cão ladra, devemos explicar-lhes que é desta forma que o animal fala e que diz aquilo que quer e sente.

Respeitar o ritmo

No mesmo sentido, é importante chamar os medos pelos nomes, até porque para os ultrapassar, é preciso primeiro reconhecer a sua existência. A criança deve ter espaço e tempo para revelar as suas preocupações e ansiedades e, quando tal acontecer, os adultos devem ajudá- la a dar nome ao que a inquieta. É igualmente fundamental que o ritmo dos mais pequenos seja respeitado, porque cada criança é única. As mais extrovertidas e conversadoras podem necessitar de mais tempo dos pais para explicar o que sentem, enquanto as crianças mais introvertidas têm mais tendência para se isolar e demoram mais tempo a revelar as suas ansiedades. Deixe o seu filho revelar o seu próprio ritmo e acompanhe-o a par e passo.

Também não devem ser evitados os alvos de medo. Por outras palavras, os pais não devem deixar a criança faltar à escola por este local criar ansiedade. Se o fizerem, ainda que inconscientemente, estão a reforçar a ideia de que o perigo é real. E, neste caso, não é uma questão de forçar a criança a enfrentar o medo, mas antes explicar-lhe, de forma tranquila, que existem situações na vida que não são negociáveis. O que pode fazer é ajudar as crianças a explorar o motivo de medo, de forma segura e sempre ao ritmo que os mais pequenos ditarem. Se pedir à criança ideias ou ajuda para explorar o medo, vai surpreender-se com a velocidade com que a criança vai avançar.

Construir uma plataforma segura

Por fim, comemore com a criança todas as tentativas para ultrapassar o medo, quer sejam tentativas bem-sucedidas ou não. É crucial que a criança sinta o apoio dos pais e que veja os progenitores a valorizarem todos os esforços que faz. Ao fazê-lo, está a construir com a criança uma plataforma segura, que será a base de todas as tentativas futuras para vencer o medo. Esta estratégia, como todas as outras referidas anteriormente, tem como objectivo ajudar a criança a desenvolver confiança e segurança para enfrentar os seus medos com tranquilidade e de uma forma saudável. Por outro lado, funcionam também como uma forma de os pais aprenderem a lidar com as preocupações e ansiedades dos filhos, de uma forma descontraída. Lembre-se sempre de que o medo é uma emoção normal e essencial à sobrevivência do ser humano, por isso não devemos ficar assustados com o “monstro do medo”.

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