Recorde o anúncio da Nestlé que encantou Portugal há 40 Anos. Conheça o protagonista

Há anúncios que marcam a infância. Que o diga Mário Faria, protagonista de um dos anúncios de maior sucesso dos anos 80, em Portugal, o País do Chocolate, da Nestlé.

Tem dúvidas? Então veja se se recorda. Um comboio, numa linha férrea de brincar, atravessa montanhas e cidades, como se a ação se passasse nas paisagens de cortar a respiração dos Alpes suíços. O comboio vai avançando pela paisagem de brincar e um menino, extasiado com aquele “pouca-terra” em ponto pequeno, vai degustando quadradinhos de chocolate Nestlé. Lembra-se?

A história não podia ser mais simples, mas o resultado foi um caso sério de sucesso. Na época, Portugal tinha somente dois canais, o canal 1 e o 2 da RTP. Tudo o que era emitido era consumido vorazmente pela população, como se não existisse mais nada. E, na realidade, não existia.

Mário Faria, Marinho para os amigos, era um miúdo reguila, uma criança típica dos anos oitenta. Brincava na rua com o skate, a “bicla”, os carrinhos de rolamentos, jogava à bola, etc. Até que um dia a vida lhe trocou as voltas. “Estava a brincar em casa de um amigo e a mãe dele perguntou-me se eu não queria ir com eles – só para acompanhar – ver uns estúdios, porque ele ia fazer um casting para um anúncio. Quando lá chegámos, perguntaram-me se eu também não queria fazer. Não estava nada à espera, muito menos quando, uma semana depois, ligaram para a minha mãe a dizer que quem tinha sido escolhido era eu!”, recorda.

Passaram 40 anos. Hoje, o menino é um homem, mas, naturalmente, não esquece aquela experiência.  “Para mim, que tinha 11 anos, era mágico ver aquele equipamento, luzes, câmaras e toda a produção à minha volta. Lembro-me de ficar embaraçado e de só me conseguir soltar quando me puseram a brincar com o comboio. Era uma maquete gigantesca que recriava, ao pormenor, uma cidade suíça.” Um brinquedo daqueles que estava na moda. Todos os miúdos tinham ou sonhava ter um comboio em miniatura que, quando ligado à corrente, andava como os “de verdade”. A Nestlé, atenta à tendência, fez com que todos os miúdos pedissem aos pais “uma linha de comboio como a do anúncio dos chocolates Nestlé”

O Marinho não era exceção. Mas, por outro lado, era um privilegiado  pois tinha o brinquedo mesmo ali à frente. Ainda assim, recorda que não aproveitou o brinquedo como seria de esperar porque estava bastante nervoso: “Era maior do que o meu quarto! Lembro-me de repetir takes, vezes sem conta, a partir os quadradinhos do chocolate. Já estava a ficar nervoso porque não sabia se era eu que falhava ou se era outra coisa qualquer. Como o anúncio era a chocolates, essa foi a parte melhor: Não me importava nada de repetir porque sabia que ia comer mais um quadradinho. Pediam-me para não engolir e cuspir de seguida, mas eu engolia quase sempre. No fim, deram-me umas caixas de chocolate, para levar para casa. Aí, sim, já estava a enjoar tanto chocolate e essas caixas devem ter durado meses”.

Há 40 anos, a edição e pós-produção não era tão célere como nos dias de hoje e nem sequer se sabia quando a publicidade iria para o ar e, por isso, a ansiedade de “passar na televisão” foi crescendo: “Nunca nos disseram ao certo, apenas avisaram que talvez daí a um mês o anúncio estivesse a passar na televisão”.

É preciso dizer que, nos anos 80, a imagem era algo que nada tem que ver com os dias de hoje. Aparecer na televisão, todos viam, era um acontecimento de destaque.  “Tinha sido tudo preparado e até me lembro dos meus pais me terem comprado uns ténis novos para eu ir todo ‘pimpão’ para as filmagens. Por isso, tinha curiosidade de saber como ia aparecer! Afinal de contas, não é todos os dias que se aparece na televisão, especialmente naquela altura. Quando, finalmente, passou, ficámos doidos de alegria. A minha mãe telefonou para toda a gente e os meus irmãos gozaram comigo.”

E na escola? “Recordo-me que, no dia seguinte, ao entrar na escola, os meus amigos vieram ter comigo a perguntar se eu tinha chocolates para dar. Muita gente vinha dizer que me tinha visto na televisão. Todos me começaram a tratar por Marinho da Nestlé.”

Lá está, a criançada só tinha mesmo dois canais de televisão para ver e, de repente, havia um amigo que estava dentro da “caixinha da sala”. Coincidência, ou não, mais tarde Mário Faria acabou por ser editor de imagem de filmes de publicidade.

Um percurso profissional cujo “bichinho” nasce precisamente com a experiência do anúncio da Nestlé e que acabou por ser a porta de entrada para o mercado de trabalho. “Embora a minha grande paixão tenha sido sempre o desporto [é cinturão negro de karaté], a verdade é que acabei por especializar-me na área da pós-produção. Quando terminei o curso, resolvi bater à porta da Nova Imagem [o estúdio do anúncio da infância] e fui muito bem recebido. Lembravam-se perfeitamente de mim, acabando por me proporcionar um estágio e, mais tarde, emprego.”

 

 

 

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