Recordati: A cuidar das pessoas dentro e fora de casa

Desde 2014 que a Recordati se dedica aos temas de sustentabilidade e responsabilidade social com o programa “Recordati Quer”, embora, «a nível internacional, já o faça há muito mais tempo», explica Nelson Ferreira Pires, general manager da empresa do sector farmacêutico. Aliás, este é um factor de decisão estratégica fundamental, quer a nível da felicidade interna dos colaboradores, quer através do benefício que acrescenta à sociedade. O general manager da Recordati acredita que são já vários os milhares de pessoas cujas vidas a organização conseguiu tocar com este programa e «a quem de alguma forma acrescentámos um motivo para sorrir».

Em Portugal, a Recordati criou soluções e momentos de apoio a pessoas e à comunidade como, por exemplo, o patrocínio da ida de muitas crianças de famílias de baixo rendimento ao Jardim Zoológico, pela primeira vez, o apoio a várias famílias com cabazes de Natal, o fornecimento de material e mão-de-obra dos colaboradores para pintura de instituições de apoio a crianças e idosos, o patrocínio de bolsas de estudo, e a oferta de medicamentos em Portugal e no estrangeiro, entre outras acções. «Fizemos um esforço sincero de devolver à sociedade o tanto que esta nos proporcionou.»

Na opinião de Nelson Ferreira Pires, o que levou a Recordati a enveredar por este caminho foi a consciência social individual e colectiva, mas também a decisão estratégica de que as marcas que sobreviverão «são aquelas cujo valor aumentado está relacionado com os valores ESG (Environment, Social e Governance) e o respeito pelos direitos das pessoas, do planeta e a forma como se faz negócio», enumera. E acrescenta que «ninguém quer ficar associado a valores que não ESG. Os valores da marca são fundamentais, mas também a consciência de que não temos outro planeta para viver e que todos temos de contribuir para que a sustentabilidade seja um dos factores geradores de bem-estar social e lucro empresarial».

A Recordati tem mecanismos formais que potenciam a formação, o conhecimento e a implementação de níveis elevados de compromisso dos colaboradores, mas também dos seus gestores. «Investimos bastante nesta vertente, quer ao nível do conhecimento, mas também do processo de aculturação da organização com esta missão. A walk the talk é uma prática que temos e julgo ser muito importante, pois os exemplos são fundamentais para moldar comportamentos.» A Recordati está cotada em bolsa, e por isso tem uma visibilidade acrescida, além de ser sujeita a mais critérios de transparência e rigor. Mesmo assim, tem tido inúmeros reconhecimentos externos, tanto a nível nacional, como internacional. Já ganhou alguns prémios na área da responsabilidade social e, em 2021, foi classificada com rating A pelo MSCI ESG. «A inclusão da Recordati no primeiro “MIB ESG Index”, lançado pela Borsa Italiana, ou ter atingido o “Gold” rating na análise feita pela “Ecovadis”, demonstra um reconhecimento interno e externo muito positivo», comenta Nelson Ferreira Pires.

O plano de sustentabilidade da Recordati assenta em cinco pilares: “patient care”, “people care”, “environmental protection”, “responsible sourcing” e “ethics and integraty”, ou seja, a preocupação em investigar e desenvolver soluções terapêuticas que acrescentem mais e melhor vida aos doentes, permitindo o desenvolvimento de talento e empreendedorismo em comunicação permanente com a comunidade. «A preocupação com o nosso planeta e com a sustentabilidade para preservar a biodiversidade e os nossos recursos naturais, minimizando a nossa pegada carbónica.»

A MUDANÇA COMEÇA EM CASA

Em 2025, a Recordati pretende ter toda a energia consumida nas suas instalações, incluindo fabris, proveniente de fontes de energia renovável. Irá também iniciar o processo de autonomia energética em duas unidades fabris com a instalação de painéis solares. Além disso, a partir de 2023, a frota automóvel será bastante exigente ao nível do máximo de emissões de carbono. Um requisito que será alargado a todos os parceiros de negócio. No mesmo âmbito, Nelson Ferreira Pires salienta que «queremos construir relações baseadas na transparência e confiança com todos os nossos stakeholders, contribuindo para construir uma cadeia de valor acrescentado no nosso modelo de negócio».

Recentemente, a empresa mudou de instalações, em primeiro lugar porque desejava que todos os colaboradores tivessem um local de trabalho com luz directa, e depois porque o trânsito até aos escritórios estava a tornar-se insuportável, e daí a opção por um local mais acessível. Além disso, foi possível introduzir mecanismos de iluminação mais sustentável, plantas naturais e um estacionamento que permite o abastecimento eléctrico dos veículos da companhia – híbridos, na sua maioria.

Para Nelson Ferreira Pires, a sustentabilidade no sector farmacêutico caminhará na mesma direcção do percurso que a Recordati está a trilhar, ou seja, com o mesmo objectivo de neutralidade carbónica e economia circular nesta actividade. Na sua opinião, o ponto a melhorar poderá ser ao nível da embalagem de medicamentos, com a utilização de produtos recicláveis. «Seria um contributo bastante positivo, desde que se garantisse a segurança.» Quanto a Portugal, Nelson Ferreira Pires acredita que as companhias portuguesas partilham deste objectivo e que estão a fazer de tudo para atingir os mesmos patamares de sustentabilidade. «Seria bom criar, como existe a nível internacional, um ranking de avaliação nas organizações a este nível ESG. Iria certamente contribuir para responsabilizar mais as organizações e os gestores.»

ÉTICA E GOVERNANCE

A indústria farmacêutica é reconhecida como uma das mais regulamentadas, talvez a seguir à aeroespacial, sendo que a legislação e os códigos ético-deontológicos em vigor, desde as fases mais precoces do desenvolvimento de medicamentos, constituem o garante do controlo dos processos, cujos resultados visam disponibilizar terapêuticas que permitam o tratamento mais adequado dos doentes e a melhoria global em termos de Saúde Pública. Nelson Ferreira Pires fala na ética como o quinto pilar da estratégia de sustentabilidade da Recordati. «Temos formação obrigatória para todos os colaboradores duas vezes por ano, canais de “whistblowing”, subscrevemos o código de conduta da Apifarma (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica) e o código de conduta interno da Recordati. Também os nossos parceiros têm de seguir estas regras. Por outro lado, fazemos auditoria “ongoing” de todas as nossas actividades e nunca encontramos situações de irregularidade, o que nos satisfaz bastante.»

Ao nível de Governance, como a empresa opera e actua, quer internamente, quer no mercado, Nelson Ferreira Pires acredita que é um sentimento, antes mesmo da organização, comum de top down e bottom-up. «É uma preocupação de todos e todos sabem que, mesmo com pequenas acções, podem contribuir para um planeta e uma sociedade melhores. Depois, temos a formalização deste sentimento, existindo uma equipa responsável pelo programa de responsabilidade social e colaboradores internos responsáveis a nível nacional e internacional pelo programa de sustentabilidade. Mas também um processo de auditoria interno e outro externo sobre estes processos para validação das melhores práticas.»

Os fornecedores da Recordati têm também de seguir os mesmos valores, «exigência, transparência e justiça».

PESSOAS: O ACTIVO MAIS IMPORTANTE

A Recordati já foi eleita o melhor empregador do ano. «Somos genuínos na nossa preocupação com o valor mais importante que existe dentro de uma organização: as pessoas. Temos uma política de individualismo corporativo em que existem regras da companhia, mas tentamos sempre adaptar às necessidades individuais de cada colaborador», conta Nelson Ferreira Pires. «Uma das formas de desenvolver o talento é através do programa de desenvolvimento interno com uma pós-graduação interna anual com o ISCTE», mas, na sua opinião, um dos vectores mais importantes é o sentimento de justiça que todos os colaboradores têm, assim como o acesso à gestão. «Temos uma política de porta aberta, ou seja, além de fringe benefits e salários equilibrados, temos uma série de outros benefícios intangíveis que nos permitem proporcionar “bem-estar” na nossa organização.»

Os tempos são difíceis, por isso, a Recordati tem ainda alguns programas de apoio aos colaboradores que proporcionam recursos para que vivam com melhor qualidade, como é o caso de um reforço do apoio para despesas de deslocação ou um concurso interno para os filhos dos colaboradores na elaboração do postal de Natal com a oferta de prémios para todos os participantes poderem adquirir material escolar. «Proporcionámos a uma colaboradora um ano sabático, com todas as condições mantidas como se estivesse a trabalhar, para apoiar o cônjuge que foi infelizmente diagnosticado com um problema oncológico. As pessoas são o activo mais importante e, por isso, cuidamos muito de cada uma.»

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e Responsabilidade Social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 317) da Marketeer.

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