Rebranding da Casa Real Inglesa

Por João Jacinto Freitas Ferreira, Project director do site The Gentleman

Rebranding é o nome que se dá ao processo de criação de um novo nome, logótipo, identidade (visual ou sonora) ou a combinação de todos estes elementos de uma determinada marca, seja de um produto, de um serviço ou mesmo de uma empresa.

A entrevista, de mais de duas horas, concedida pelos Duques de Sussex a Oprah Winfrey, transmitida no horário nobre televisivo da emissora norte-americana CBS, a 7 de Março, gerou controvérsia e, desde logo, criou em muitos telespectadores e, acredito, em todos os profissionais de Comunicação, Relações Públicas e Imagem, uma expectativa da gestão de crise de imagem da Casa de Windsor. Contudo, logo a 9 de Março, o palácio de Buckingham emitiu um comunicado sobre a mesma entrevista, em nome da rainha Isabel II.

Esta gestão de imagem e de “marca” na Casa Real Britânica não foi a primeira, pois, no século XX, em plena Grande Guerra, deu-se aquilo a que chamaríamos, hoje, de rebranding. A rainha Vitória, cujo reinado foi longo, mas superado pelo da actual rainha Isabel II, nasce de mãe alemã e de um príncipe britânico, o duque de Kent, filho de Jorge III. Foi chamada para a corte inglesa, de seu tio Jorge IV, devido ao facto de não haver herdeiros directos ao trono. O rei e seus irmãos não possuíam descendência legítima.

Casou-se com o seu primo direito, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gotha, em 1840, e foram um casal apaixonado que gerou vários filhos que herdaram, como era habitual, o nome do pai. Podemos afirmar que nascia uma “dinastia” Saxe-Coburgo-Gotha a reinar em Inglaterra. Curiosamente, a nossa D. Maria II casou-se com o primo direito de Alberto, D. Fernando. Os seus nove filhos, e 26 dos seus 42 netos casaram-se com outros membros da realeza e famílias nobres por todo o continente europeu, unindo-as entre si. Dos nove filhos de Vitória, seis casaram com príncipes e princesas alemães, tornando a Casa Real Alemã parente directa. Quando a rainha Vitória morre em 1901, sucede-lhe Eduardo VII e o rei seguinte, seu filho Jorge V – que se casa com Maria de Teck – também ela de origem alemã.

A situação na Europa é um barril prestes a explodir, o que acontece a 28 de Julho de 1914 para sermos mais precisos. Os contornos das causas do conflito – a Grande Guerra (1914-18) – foram mais complexos, com muitas disputas sobre as colónias de cada potência. Para nós, interessa que, de um lado, esteve o Império Inglês e, do outro, o Império Alemão. Sendo o rei Jorge V primo direito do kaiser Guilherme II da Alemanha.

Mal começou o conflito no continente europeu, a opinião pública britânica voltou-se contra tudo o que era alemão no seu território – comerciantes, marcas e pessoas. A mera referência a uma origem germânica era o suficiente para o descrédito de alguém. E a família real trazia consigo um apelido alemão!

Aqui paramos a narrativa para perceber quais os motivos de um rebranding:

– Necessidade de reposicionamento da marca;

– Urgência da mudança, isto é, quando a marca transmite uma conotação negativa devido a diversas situações que afectam desfavoravelmente a sua imagem podendo, nestes casos, o processo de rebranding atenuar a conotação atribuída à marca;

– Necessidade de efectuar um rebranding após uma fusão ou aquisição para que exista uma harmonização da estratégia de comunicação da empresa ou da marca;

– Uma nova liderança que sente, também, necessidade de alterar a linha de comunicação, de forma a vincar a nova identidade da empresa.

No caso da Casa Real Britânica, houve sensibilidade da mesma relativamente aos sentimentos dos súbditos face à proximidade de parentesco com o Kaiser Guilherme II da Alemanha – o nome e as raízes germânicas não ajudavam a uma opinião pública favorável. A situação afectava pejorativamente a imagem da Casa Real e as palavras “temos alemães no trono inglês” foram repetidas por muitos jornais da época. Por essa razão, o monarca, juntamente com o primeiro-ministro David Lloyd George, decidiram mudar o nome da linhagem. Diz-se que foi numa audiência que se lembraram do título de Windsor. Estariam no Castelo de Windsor, uma das principais residências reais desde o Séc. XI Em 1917, a Casa Real deixa de ser alemã – Saxe-Coburgo-Gotha – para tornar-se a Casa Real de Windsor, inglesa. Uma autêntica acção de rebranding, com efeitos até aos dias de hoje.

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