Real Content is the King
Por Duarte Correia da Silva, Content team leader da Boost Your Digital, Grupo Republica45
“Content is king”! Este é um chavão repetido e repetido por marketeers de todo o mundo que – para o caso de não ter acesso à internet há cerca de 25 anos – foi celebrizado pelo empresário e magnata Bill Gates, num artigo publicado em Janeiro de 1996 no site da Microsoft. Que coincidência.
Nesse mesmo artigo, o autor destacou a importância da produção de conteúdo para o sucesso da e na internet. Já na altura vaticinou grande sucesso para os criadores de conteúdo. Não sei se é um conceito que de alguma forma vos é familiar, este de pessoas que fazem dinheiro na internet com conteúdo criado por elas próprias. Sei lá, comer pastilhas para a máquina da roupa, por exemplo.
Olhando para trás, passados estes anos todos podemos constatar que esta frase acaba por estar certa em mais do que uma dimensão. Em primeiro lugar, é notório que, com a digitalização do mundo inteiro, o consumo da internet acabou por levar pessoas a especializar-se nessa área de comunicação e a fazer efectivamente fortunas com vídeos, blogs, fotografias, música sem um middle man.
Em segundo lugar, porque, como em qualquer oportunidade de fazer dinheiro, todos os utilizadores dos quatro cantos do planeta querem fazer o seu quinhão e, como tal, neste momento a internet foi inundada de pessoas que produzem conteúdo. De todo o género. Desde informativo a entretenimento. Tanto é possível encontrar a cura para a tuberculose feita em casa como, com a mesma facilidade, se encontram trinta e sete coreografias para a “Bem Bom” das Doce.
Há quem defenda que a abundância de conteúdo nos dias que correm é a censura dos tempos modernos. Não há ninguém que impeça o que quer que seja de ser publicado – pelo menos que se saiba, no mundo ocidental moderno – mas a informação é tanta, tanta, e as pessoas estão tão atoladas de conteúdo até aos olhos que facilmente não vêem algo que realmente interesse. Veja-se a simples acção de ir para a casa de banho com o telefone de atrelado. Consome-se conteúdo desde que se sai da cama até ao deitar, e mesmo depois.
Outra hipótese de isto acontecer é a dos poderes instalados fazerem esquecer uma polémica com uma nova história que prenda a atenção do público com o mais velho truque do mundo do ilusionismo: olhar para um lado, para o coelho aparecer de outro. Normalmente é da cartola, não sei se já viram este truque. Desculpem se estraguei.
A terceira dimensão em que Bill Gates acerta é com a previsão da crescente relevância do marketing de conteúdo. O marketing de conteúdo, seja ele qual for – Redes sociais, SEO, E-mail Marketing, Publicidade… – é a melhor forma de agregar valor às marcas. Todas as marcas têm uma identidade – aliás, já a tinham antes de chegarem ao Instagram, apenas não era percepcionada da mesma forma pelos consumidores, uma vez que só com a chegada às redes sociais começaram a falar na primeira pessoa. Ser original, funny ou ter uma voz própria são ferramentas recorrentemente utilizadas como veículo para chamar à atenção. Nem sempre com sucesso e nem sempre a atenção pelas razões certas, mas isso seria assunto para outro artigo.
Transportando para os dias de hoje a realidade apresentada em 1986, a frase teria de ir um bocadinho mais longe para um “Real Content is King”.
Com o excesso de oferta de conteúdo que já estabeleci, as pessoas começam agora a escolher o que consumir. Nos tempos que correm, os utilizadores procuram conteúdo real com o qual se possam relacionar ou confiar. Histórias reais de pessoas, por oposição a influenciadoras giríssimas com vidas glamorosas, roupa sem fim e festas diárias. Querem, isso sim, mães com três filhos, com dias e noites difíceis e que, no fim disso tudo, ainda as consigam fazer rir. Ou no caso das marcas, já não procuram hotéis com as fotografias mais bem tiradas ou restaurantes com a comida que pareça mais apetitosa. Querem ir a um hotel e encontrar exactamente aquilo que viram no site ou encomendar um hambúrguer e que ele chegue a Xabregas tal e qual está no Facebook.
A ideia é manter a expectativa criada, sem tirar nem pôr.
Não me faz sentido seguir a menina que vai às Maldivas porque eu agora não vou às Maldivas; nem ir a um hotel pela sua sessão fotográfica se quando chegar lá vou ficar desiludido. Passamos de uma fase em que se usavam filtros em fotografias e se consumia sem filtro para o inverso. O conteúdo online é neste momento o contrário da mulher de César: não precisa de parecer, basta-lhe ser.
Com a agravante de cada vez mais as pessoas confiarem nas críticas e reviews umas das outras. Uma má experiência em qualquer negócio pode custar muitos clientes. Os utilizadores acreditam que, apesar das diferenças de gosto, ninguém quer comer sola de sapato, nem dormir numa tábua de madeira e por isso aceitam com facilidade as opiniões alheias.
A internet tornou-se um mercado de ideias, experiências e produtos – um mercado de conteúdo, que tendencialmente se tornará o mercado mais considerado por toda a gente. O Content realmente acabou por ser o King deste gigante universo, mas com uma camada muito grande de realidade à mistura.
De onde estou sentado, parece-me que neste momento estamos a caminhar mais na direcção de uma virtualidade real do que da realidade virtual.