Quer um belo arroz de carabineiro? Vá ao Bougain

Está bem no centro da vila de Cascais, tem um jardim magnífico, serviço como se quer e o belo do arroz é de rapar o prato.

Há memórias, lugares, cheiros e sabores que nos ficam. No centro de Cascais, desde há anos e anos que teimei em parar em frente a uma casa, a olhar para o jardim e as suas janelas (tenho esta mania, de gostar de portas e janelas). Há algum tempo que por ali não passava. Mas agora, não só voltei, como passei o portão, passeei por entre as buganvílias e sentei-me à sombra, bem ao lado da fonte de água cuja música me acompanhou ao longo de todo o almoço. O dia estava de Verão, mas o calor, ali, consegue ficar ameno, e foi o melhor casamento para aquela que terá sido a minha primeira experiência no Bougain Restaurant & Garden Bar (só porque vou voltar, note-se!).

E foi memorável, também. Todo o ambiente para almoçar, o conforto, o serviço, o cuidado na escolha de quem serve e como se serve… ah, e o arroz de carabineiro. Talvez o melhor – pronto, no top 3 – dos que já tive a felicidade de provar até agora.

Miguel Garcia é o grande culpado disto tudo estar a acontecer. Ele, que durante anos se entregou à hotelaria – em particular no Grupo Minor, entre Portugal e o Brasil onde esteve 10 anos – quis voltar a casa e entregar-se a um dos seus amores de sempre, a restauração. Começou por comprar e relançar um espaço que sempre lhe foi caro e icónico, o Café de São Bento. Até que tropeçou na disponibilidade daquela que (também a ele) durante muitos anos o tinha conquistado: a casa histórica e conhecida pelas suas janelas e portas em vermelho, bem no centro da vila, para onde olhou ao longo de décadas. Assim que soube que o ´rés-do-chão – onde funcionava o restaurante do pequeno hotel ali entretanto instalado – estava a precisar de novo dono, não tardou dar o passo. A seguir, foi buscar Diana Roque, a chef com quem cozinhou o menu e que foi a sua primeira contratação, Manuel Frazão para o bar que instalou no exterior e Carlos Silva para a sala.

Todo o espaço foi idealizado por Miguel Garcia, que desafiou a arquitecta Inês Moura a projectar este restaurante, naquilo que quis que fosse uma comunhão total entre o interior e o exterior, o jardim. Uma obra que se estendeu ao longo de quatro meses, com as portas do Bougain a abrirem a 13 de Abril, depois de um mês em testes para afinar sabores e ingredientes.

Mas Miguel quis mais: quis que a ementa assentasse em cozinha internacional, contemplando alguns dos seus pratos de eleição, entre ostras de Setúbal, carpaccio de novilho ou gaspacho andaluz. «90% dos pratos que vê aqui, já os viu em algum lado, de alguma forma. É uma carta clássica», descreve. Por isso, ali se encontra desde um linguado à meunière, o arroz de carabineiro e citrinos, um pato confitado ou um carré de borrego. «Quis que a carta fosse clássica e que trouxesse um pouco de países como Itália, França, Espanha e, claro, Portugal», refere, explicando que o que pretendeu foi uma integração com o espaço em si. «Não quis que fosse muito complicado e que fosse uma cozinha intemporal para que o Bougain também se torne intemporal em Cascais e, não, um restaurante de moda!

O dito arroz e o entrecôte são os reis do pedido, até à data, enquanto que o líder destacado nas sobremesas é o tiramisu, mas os cannelés de chocolate também já reclamam clientes fiéis. Para breve, adianta que haverá algum ajuste em 30% da carta, para trazer pratos e sabores mais quente, da estação.

«De todos os restaurantes que já fiz é o que teve maior retorno imediato por parte dos clientes. Não só pela nossa oferta, mas, também, porque continua a haver poucos restaurantes em Cascais.»

No total, são 75 lugares entre a sala interior e os espaços exteriores, numa casa aberta sete dias por semana. Ah, e mesmo que chova, há lugares no exterior que se quiseram bem protegidos e onde se pode almoçar ou jantar com o maior conforto. «Este é o sitio ideal para se vir almoçar num dia de inverno», garante, enquanto conta que Bougain não foi o primeiro nome. Em homenagem às bouganvílias que enchem de cor o jardim e a frontaria da casa, seria essa marca eleita, mas a impossibilidade de a registar levou a que, juntamente com Mário Mandacaru – responsável pela brand identity – fossem obrigados a pensar em novo nome. Assim ficou Bougain, uma marca que não foi pensada para ser exportada, se bem que Miguel Garcia não descarta a hipótese, caso encontre algum «sítio espectactular onde o mesmo encaixe», que o possa vir a fazer. Sendo que o jardim terá, sempre, que ser o actor principal, sublinha.

A acontecer, será eventualmente em Lisboa, ou não considerasse ter esta que ser «uma gestão de proximidade!»

Miguel e a cozinha

Entra na hotelaria e restauração via cozinha. Mas cedo percebe que o que percebe mesmo é da gestão da mesma. «Gostava muito de cozinhar, cheguei a ir cozinhar a casa de amigos, mas soube rapidamente que a minha experiência não passava do patamar de hobby. Não era uma profissão.» A verdade, olhando para trás, é que o que faz chegar onde está hoje é precisamente a cozinha.

Gosta de comer bem, diz saber reconhecer coisas bem e mal feitas, adora fazer cartas e confessa gostar particularmente de pratos clássicos: «São um desafio porque quase toda a gente já provou algum e estamos sempre à prova…»!

Como prato preferido elege, da carta do Bougain, o dito arroz de carabineiro, o carré de borrego… sendo que em quase todos provou, opinou, ajudou a “cozinhar”. Mas a receita do arroz é mesmo da Diana. «Quando o provei não tive dúvidas, tínhamos que o ter na carta!»

Texto de M.ª Jão Vieira Pinto

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