Que valor de marca há numa guerra?
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
E m criança, ouvi uma mão-cheia de histórias da minha avó. Da guerra e do que ela trouxe. Das crianças recebidas, da comida “escondida” e partilhada. Do medo.
Ao meu pai, acolhi “traumas” do Ultramar. Matar ou morrer. E sobreviver.
Sempre as entendi longe. Numa distância espacial que fez com que as tratasse como a um filme. Algo vivido por protagonistas num palco que, percebendo, tardei em perceber. Assim como, apesar do choque, mantive separação de equilíbrio com o Holocausto. E só quando há uns meses visitei os campos – de concentração e exterminação, como é repetido e repetido e repetido –, percorri o espaço e vi restos de vidas, chorei a dimensão real.
Tudo isto foi no século passado e, eu, acreditei na mudança. No aprender com o passado e o erro. No valor da História para seguir em frente e fazer melhor. Como um pai deseja a um filho: “Que seja melhor que eu!”
Mas não aprendemos, ou pouco. Tão-pouco que a história de perseguição, invasão, conflito, fome e morte se repete. Ao nosso lado. Dirão que tem vindo a repetir-se. Que o facto de os conflitos anteriores terem sido – ou estarem a ser – mais distantes, nos fez encolher ombros. Infelizmente, a sociologia explica-o, mas não devia.
Agora, o filme real passa perto. E, isso, fez-nos reagir e agir. A todos, indivíduos, organizações, empresas, marcas. As que saíram, as que fecharam, as que ajudam. A reacção é quase universal, como mostramos nas páginas desta edição. Assim como inevitável é a variação de cotação das duas marcas-país envolvidas e dos seus líderes, com Volodymyr Zelensky a sair vencedor claro em notoriedade, construção de perfil e alavancagem nas redes sociais.
À data deste editorial, os ataques continuam e a ameaça química é próxima. Mas, no final, que valor de marca terá sido capaz de resistir e se sobrepor à morte?
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 309 de Abril de 2022