Que posicionamento para o Turismo de Lisboa?

Em 2016, a região de Lisboa atingiu os 10 milhões de dormidas, meta que a autarquia apenas previa alcançar em 2019. O dado é apontado por Duarte Cordeiro, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, na intervenção de abertura do Fórum Turismo em Lisboa – Posicionamento e Sustentabilidade, evento organizado pelas revistas Marketeer e Viagens & Resorts.

Segundo o responsável, Lisboa apresenta um ritmo de crescimento no turismo superior ao do resto do mundo, sendo que este desenvolvimento tem um impacto profundo na construção, comércio, restauração e cultura. Duarte Cordeiro sublinha ainda que o turismo tem levado à reabilitação das zonas históricas, sendo «notável o efeito das sinergias geradas». O plano da Câmara Municipal de Lisboa é continuar a melhorar a estadia de quem visita a capital ao mesmo tempo que melhora a qualidade de vida de quem por lá vive.

No primeiro painel do evento, sob o mote “Qual o posicionamento que se pretende para o Turismo em Lisboa”, as palavras que mais se ouviram foram “alinhamento” e “dados”. Todos os intervenientes concordaram que é necessário construir uma estratégia integrada, em que todos os elementos que compõem o turismo da capital trabalhem em conjunto. Concordaram também que é fundamental obter mais dados sobre quem passa por Lisboa, sendo que Nuno Ferreira Pires, administrador do Pestana Hotel Group, considera mesmo que é impossível delinear um posicionamento ideal para Lisboa sem saber exactamente o que querem os turistas dos sítios que os acolhem.

O responsável sublinha que é necessário saber o que leva um turista a determinada cidade e que razões o levam a considerar voltar. Álvaro Covões, fundador da Everything is New, está convencido de que a oferta cultural tem um papel preponderante a desempenhar neste campo. É por isso que defende uma maior visibilidade para os espectáculos e eventos culturais a acontecer na cidade, tal como acontece noutras capitais como Madrid e Londres.

Seria importante também a reorganização da informação disponível sobre este tipo de oferta, nomeadamente actualizando as sugestões feitas aos turistas, sejam eles estrangeiros ou nacionais. Henrique Sá Pessoa está na mesma página que Álvaro Covões e sublinha que a informação disponibilizada à chegada a Lisboa não pode ser a mesma de há uma década. Para o chef português, não faz sentido que a principal opção dos turistas na hora de almoçar ou jantar seja uma cadeia de hambúrgueres ou pizzas. Caso escolham comer hambúrgueres, por exemplo, pelo menos que o façam num restaurante que represente de alguma forma o País.

Henrique Sá Pessoa aproveita ainda para criticar a posição que plataformas como o TripAdvisor e Zomato têm conquistado. Segundo o chef, as recomendações neste tipo de sites e aplicações não são, muitas vezes, fiáveis, desviando o turista de opções com mais qualidade.

Neste primeiro painel do fórum participou ainda Eduardo Cabrita, da MSC Cruzeiros, que representa uma outra forma de turismo. De acordo com o responsável, passam 500 mil pessoas, todos os anos, pelo Porto de Lisboa e 80% quer voltar à cidade para conhecer melhor. «Somos uma espécie de pré-turismo», refere, lembrando que existe ainda trabalho a fazer para garantir que os turistas que apenas passam algumas horas em Lisboa tenham vontade de regressar. Nesta altura, Duarte Cordeiro volta a intervir, assegurando que a autarquia está a desenvolver alguns projectos neste sentido, nomeadamente a reabilitação da zona ribeirinha e reforço das acessibilidades – o vice-presidente afirma que estão a trabalhar num elevador que ligue o Campo das Cebolas ao Castelo de São Jorge, por exemplo.

Nuno Ferreira Pires explica que a estratégia adoptada pelos hotéis Pestana também tem em vista este regresso dos turistas, que contribui para a sustentabilidade do sector. Segundo o responsável, o briefing comunicado aos colaboradores não passa por manter os hóspedes no hotel durante toda a sua estadia. O objectivo é maximizar a sua experiência na cidade, apontando outras actividades, restaurantes e locais para visitar. Henrique Sá Pessoa assegura, a este respeito, que parte dos clientes que recebe nos seus restaurantes chega precisamente através de referências de parceiros, incluindo da indústria hoteleira.

O chef, responsável por restaurantes como Alma e Tapisco, considera que é necessária uma abordagem integrada à comunicação da cultura e avança que está a ser desenvolvido um projecto que une vários nomes conhecidos da gastronomia portuguesa. Henrique Sá Pessoa conta que deverá ser semelhante, pelo menos no espírito, ao Grupo Nove, conjunto de chefs da região espanhola da Corunha. O objectivo será comunicar a cozinha portuguesa como um todo e não cada chef individualmente. Mais novidades deverão chegar ainda este ano.

Os quatro intervenientes foram ainda convidados, pela moderadora e directora de Redacção da Marketeer, Maria João Vieira Pinto, a descrever qual o posicionamento que ambicionam para Lisboa, enquanto marca de turismo. Neste exercício final, Henrique Sá Pessoa reiterou que a cidade não é, pelo menos actualmente, um destino de luxo e que seria necessário nivelar a forma como se apresenta.

Álvaro Covões considera que é preciso apostar num posicionamento conjunto, que englobe outras regiões e países, deixando de comunicar Lisboa como um destino isolado. O responsável aproveitar para avançar ainda que é isso mesmo que está a fazer com um novo produto que deverá chegar em breve ao público: venda de um pack para festivais de música que inclui bilhetes para um concerto em Lisboa e outro em Madrid.

Por seu turno, Eduardo Cabrita resume o posicionamento ideal de Lisboa como «cidade-boutique», acautelando que é necessário ter cuidado com a descaracterização para que não se torne num destino sem autenticidade.

Por fim, Nuno Ferreira Pires, afirma que não consegue responder à questão do posicionamento dada a insuficiência de informações sobre aquilo que os turistas de facto que querem e reitera que é crítico apostar neste caminho. O administrador do Pestana Hotel Group sugere que seja criada uma base de dados com pelo menos dois dados básicos sobre os turistas: nome e email. Desta forma, será possível criar campanhas dirigidas especificamente a quem já esteve em Lisboa, convidando-os a regressar.

Texto de Filipa Almeida

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