Que cultura?
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Há uns dias, um amigo enviou-me o link de um artigo publicado num jornal português, com o título “Portugal entre os cinco países da União Europeia que menos investem em Cultura”. Nesse dia, por aqui, na Marketeer, dedicávamo-nos a escrever uma série de páginas precisamente sobre um “movimento”, a Arte Urbana, e que acabaram por dar capa à actual edição.
No citado artigo de jornal, que analisava um estudo do Eurostat, lia-se que a liderar a lista dos países que mais investem está a Hungria. E que, do outro lado, figura a Irlanda, Reino Unido, Grécia, Itália… e, por fim, Portugal! O que por aqui não se escrevia é que continuamos, também, a ser o quinto País europeu a cobrar mais IVA na Cultura, 13% contra uns 5 ou 6% vigentes na generalidade dos países.
Quando perguntava a esse meu amigo como se poderia dar a volta – porque um povo sem cultura é um povo sem futuro e história -, apontou-me três medidas à cabeça: criar hábitos desde muito jovem; desenvolver um verdadeiro mercado livre entre operadores e Estado; ou baixar o IVA dos bilhetes. Foram três, poderiam ser mais, ou outras!
Mas agora peguemos, precisamente, no exemplo trabalhado em várias páginas desta edição da Marketeer. A Arte Urbana tropeça nos nossos dias e rotinas, colorindo e preenchendo cidades. Não é preciso ter hábitos culturais para a ver, questionar, amar ou odiar. Assim como não é preciso pagar bilhete. É-nos oferecida, em jeito de presente. A maioria das vezes por livre iniciativa dos artistas. Outras, pela mão de marcas. De câmaras ou associações. De resto, há cada vez mais roteiros de Arte Urbana por todo o País, instalações e decorações de fábricas e edifícios.
Há Cultura e cultura? A Cultura em que se investe é que a traz retorno? E como é que se mede esse retorno se não se investe?
Há uns anos, lembro-me de entrar em museus portugueses e perceber que, ao contrário do que já acontecia lá fora, não tinham apoio mecenático, não investiam em merchandising, não piscavam o olho a novos clientes e não arriscavam a fugir do padrão.
Alguma coisa já mudou por aqui, mas haverá sempre mais a fazer. Como na Arte Urbana e em tantas outras manifestações culturais. Mas não façamos de conta. Porque um povo sem cultura é um povo que não questiona, que não lê. E o que seria de nós, Media impressa, se os hábitos se esfumassem?
Editorial publicado na edição de Setembro de 2018 da revista Marketeer