Que boa comida, bom vinho e boa movida neste Oficio

Sempre fui feliz com o Hugo. Salvo seja, claro. Mas sempre que me sentei em qualquer restaurante liderado pelo chef Hugo Candeias fiz uma viagem com boas curvas e melhores rectas. E assim foi, sem derrapagens, o regresso ao Oficio, na Rua Nova da Trindade em Lisboa.

O Oficio apresenta-se como tasco atípico. Porque de tasca tem pouco e muito. Há ambiente feliz, boa música, há ritmo e conversas altas e, claro, boa comida. Não propriamente comida de tasca, mas de profundas influências do que de melhor por cá se fez e faz. Como as línguas de bacalhau, os pezinhos de porco ou a cabidela, só que, lá está, com a reinvenção de Hugo Candeias e a sua equipa.

Hugo trabalhou em restaurantes de alguns dos melhores hotéis de Portugal e lá fora, nomeadamente Barcelona. Depois de anos, regressou a Portugal para assumir a chefia executiva do Grupo Paradigma que detém vários projectos como o Lota. Conheci o Hugo tinha o Grupo acabado de abrir o The Art Gate, um projecto hoteleiro no Chiado, de meia dúzia de quartos e onde o design e a arte se cruzavam com a gastronomia e o bom gosto. Na altura, foi um momento de memória o que por ali tive.

Com a pandemia, o The Art Gate fechou. Mas os projectos de restauração do Grupo mantiveram-se e Hugo Candeias fez do Oficio um espaço onde a comida é levada muito a sério, com muito sabor, numa cozinha que se quer portuguesa contemporânea.

E, sim, foram horas em que o palato se deliciou com as criações que nos foram sendo trazidas à mesa. Em jeito de experimentação e experienciação, foram desfilando o taco vegetal do mar que é de uma frescura imensa (e terá alguma inspiração dos tempos em que Hugo trabalhou lado a lado com Albert Adriá nos seus restaurantes mexicanos de Barcelona) e as belas ostras de Setúbal. Isso, na secção Para Picar.

Seguimos para os Frios onde nos surpreendemos com a cavala com vinagrete de alface, ao ponto de perdermos a vergonha e pedirmos pão para que o resto do molho não se perdesse ou estragasse…! E continuámos com umas gambas à guilho desconstruídas, em ponto cru, mas com um bisque das mesmas que lhes conferiu todo o sabor e mais algum do prato tradicional.

Já nos Quentes, o chef propôs – e bem – que se experimentasse a couve coração com bróculos, estragão e stracciatella, assim com as línguas de bacalhau, que trazem todo o sabor da consoada de Natal. Fecharíamos com tamboril com molho de noz pecan.

Quer dizer, mais ou menos que as doses ainda permitiram que nos esticássemos até aos doces. E aqui, bem aqui, seria impensável sair sem voltar a pecar com a Dona, a tarte de queijo basca, uma versão do chef Hugo Candeias da clássica tarte La Viña. Porque este é um pecado que cometo algumas vezes. Se não for fã de queijo, então atire-se ao bolo de bolacha coberto com chocolate branco tostado que, garanto, não vai deixar rasto no prato.

Foi bom voltar a este tasco, tão atípico.

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