Quais são as consequências de “ficar viral” nas redes sociais?

Em 2021, o Instagram permitiu aos seus utilizadores ocultar o número de “gostos” nas próprias publicações, assim como em todas as outras da aplicação. Contudo, este passo pode não ser suficiente para eliminar o sentimento que algumas pessoas têm de que precisam de atingir determinadas metas para serem “populares” – tal como o número de comentários ou o número de seguidores.

Numa era em que as redes sociais ocupam cada vez mais espaço e tempo e em que “ficar viral” pode acontecer a qualquer um, e por qualquer motivo, quais serão as consequências a nível da saúde mental? Embora a investigação nesta área esteja apenas nos seus primórdios, alguns profissionais ligados à psicologia revelam os potenciais efeitos que o digital pode ter nas pessoas.

Por exemplo, os níveis de dopamina, a “molécula da motivação”, no cérebro aumentam sempre que uma publicação recebe interacções, de acordo com a Courtney Tracy, especialista em adição, que gere uma página no TikTok e no Instagram chamada The Truth Doctor.

«A pessoa sente-se satisfeita, completa. A dopamina é um dos químicos que motiva a continuar a fazer aquilo que a desperta. O que antes estava desenhado para nos ajudar a comer e dormir bem foi interceptado pelo espaço das redes sociais para nos manter agarrados às plataformas durante tanto tempo quanto possível», refere a especialista em declarações ao Mashable.

Os gostos, as partilhas e os comentários dão, assim, uma sensação de bem-estar emocional, que, no fundo, é ancorada pela aprovação social. «Tornar-se viral equivale a validação e, normalmente, a validação de quem somos e do que fazemos é uma necessidade humana natural», acrescenta a especialista. «Uma vez que tornar-se viral dura mais tempo do que receber um ‘gosto’, é como se uma grande festa estivesse a acontecer na nossa cabeça.»

Este sentimento é o que pode levar muitas vezes à publicação excessiva e ao recurso a métodos mais extremos nas redes sociais. «Quando tentamos ser virais, normalmente é porque estamos motivados pela memória da validação anterior. Os níveis de dopamina disparam só de pensar em como podemos alcançar mais validação. Contudo, quando as publicações não se tornam virais, essa dopamina desaparece.»

Os efeitos nefastos que o desmoronar de expectativas podem ter está visível nas taxas de suicídio registadas nos EUA recentemente. De acordo com o CDC (Centre for Disease Control), entre 2007 e 2017, a taxa de suicídio nas pessoas entre os 10 e os 24 anos aumentou 56%, fazendo desta a segunda maior causa de morte no país entre os jovens, logo a seguir aos acidentes. E alguns especialistas apontam as redes sociais como um dos motivos por detrás deste aumento, já que, segundo o Pew Research Centre, mais do dobro dos adolescentes em 2018 afirma utilizar a internet quase constantemente, quando comparado com 2014.

Ainda assim, nem toda a utilização das plataformas digitais e das redes sociais tem efeitos negativos. Um estudo de 2020 da Universidade de Harvard revela que o uso quotidiano das redes sociais está associado de forma positiva ao bem-estar social e à saúde mental. Porém, salienta o relatório, verificar constantemente as aplicações “por receio de perder alguma coisa importante ou sentir-se desconectado dos amigos quando não se está nas redes sociais” tem o efeito contrário.

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