Quais as megatendências para 2021?
Este ano, a pandemia de COVID-19 virou o Mundo e as nossas vidas do avesso. As empresas tiveram de se adaptar rapidamente para sobreviver (muitas sucumbiram) e as pessoas viram-se confinadas em casa, a trabalhar, longe dos amigos e família. Muito provavelmente, todas as previsões feitas para 2020 falharam redondamente.
Apesar de as vacinas estarem cada vez mais próximas, 2021 não será (ainda) um ano para grandes certezas. A incerteza económica mantém-se, pelo menos nesta fase, e o teletrabalho e os novos hábitos que adquirimos este ano também prometem durar. Mas será já o ano do regresso à normalidade?
Num webinar aberto à imprensa, Marian Salzman, trendspotter e senior VP of global Communications da Philip Morris International, deu algumas luzes sobre o que poderemos esperar para 2021. E muitas das suas previsões são bastante optimistas. «A pandemia alterou a nossa visão do Mundo e a minha expectativa é que esta pausa a que fomos obrigados nos leve a olhar para o Mundo de forma diferente. Esperemos que seja um ano muito “aborrecido”», vaticina a responsável.
Conheça as 11 tendências apontadas por Marian Salzman:
Ampliar (e reduzir)
Este ano, tivemos tempo e espaço mental para reflectir sobre a forma como vivemos até aqui – e se tem valido a pena. Em 2021, vamos focar-nos mais no que é fundamental nas nossas vidas, como a família ou o bem-estar. Vamos ampliar (como que com uma lupa) o que é realmente importante, ao nível pessoal e profissional, mas também nos vamos distanciar para perceber o impacto que queremos ter no mundo e na comunidade. «Não se admirem se virem as pessoas que conhecem a tomarem mudanças drásticas nas suas vidas, como mudar de trabalho ou mudar de casa para um sítio mais isolado», prevê Marian Salzman.
Misturando o tempo e o espaço
Já ouviu o termo “Blursday”? Tornou-se popular este ano para descrever aqueles dias que parecem ao mesmo tempo “entorpecidamente lentos e ardentemente rápidos”. A experiência do confinamento (sobretudo em teletrabalho) levou-nos, de facto, a experienciar mais dias assim. E isso faz-nos repensar o tempo e a linearidade da vida. Em termos profissionais, significa que haverá uma maior tendência para que os trabalhadores possam adaptar e personalizar os seus próprios horários laborais – com benefícios ao nível da produtividade.
O regresso do “nós”
Menos “mini me”, mais “we”? A pandemia tem-nos tornado mais dependentes da tecnologia, que nos ajuda a estar em contacto com os nossos amigos íntimos e familiares, a trabalhar à distância ou simplesmente a passar o tempo. Por outro lado, sentimos, mais do que nunca, a necessidade de estarmos junto de quem gostamos e de ajudarmos os outros à nossa volta. Será demasiado tarde para mudarmos para um mundo menos “egoísta”?
O real torna-se irreal (e vice-versa)
Na era dos deep fakes e das fake news, sentimo-nos atraídos pelos que é profundamente autêntico. Temos sempre algum receio de que o virtual seja menos real ou mais efémero (por exemplo, “será que um curso online tem o mesmo valor de um curso presencial?”). Este mindset está a mudar um pouco este ano, à medida que as nossas vidas migram cada vez mais para a realidade virtual. Em 2021, vamos assistir a uma reavaliação do que é real ou não.
A era dos drones (e dos droides)
Há algum tempo que tememos os perigos da automação/robótica. Mas, em todo o Mundo, os drones e os robôs estão a ser utilizados para o bem, para realizar entregas ao domicílio ou desinfectar áreas afectadas pela pandemia, por exemplo. As empresas e universidades vão ter de priorizar os seus investimentos para preparar as pessoas para as áreas de futuro, incluindo a automação.
Prontos para a batalha
Nos últimos anos, a mentalidade de “bunker” tem vindo a crescer. Com a pandemia de COVID-19 foi levada ao extremo: mais do que nunca, as pessoas prepararam-se para o “fim do mundo”, procurando fazer o armazenamento de bens essenciais, por exemplo. Há uma tendência/luta pela auto-suficiência, que se vai reflectir também a nível regional e mundial. E os negócios farão da segurança uma proposta de valor para convencer clientes.
Redefinir o essencial
O Mundo tem estado dividido entre “os que têm” e “os que não têm” – acesso à tecnologia, a tratamentos médicos, à educação, entre outros factores. A COVID-19 veio chamar a atenção para estas disparidades a nível mundial e o gap só tem tendência a aumentar. No próximo ano, deverão escalar as tensões sociais em torno de questões como a justiça económica e racial ou a partilha de recursos.
Salvos pela internet – mas a pagar os custos dos hábitos online
A pandemia obrigou as empresas a acelerarem os seus processos de digitalização e trabalho remoto, e muitas viram um aumento de produtividade. Muitas delas não vão voltar atrás. Mas, como em tudo há, um “yin” e “yang”: a questão vai ser perceber que impacto é que isto poderá ter nas pessoas, a nível psicológico, sobretudo nos mais jovens – ao nível da interacção social, da dependência das entregas de comida, entre outros hábitos.
As empresas como agentes de mudança
A pandemia intensificou a expectativa que os consumidores têm em relação à responsabilidade social das empresas. Em 2021, as empresas vão ter de reforçar o seu propósito. Têm aqui uma oportunidade única para mudar o Mundo! E as que não o fizerem serão “condenadas” pelos consumidores.
Repensar o espaço
A crise sanitária veio também intensificar o debate sobre as mais-valia de viver na cidade (com todos os constrangimentos de trânsito, poluição, entre outros) em relação aos locais mais isolados. Em 2021, é expectável que haja um crescimento do mercado imobiliário nas zonas periféricas (subúrbios), menos povoadas ou até mesmo rurais.
Esta é uma tendência que já se via antes da pandemia um pouco por todo o Mundo, mas agora este processo será mais intenso: as pessoas vão gravitar para novos ambientes, que não serão necessariamente as grandes metrópoles. Quanto aos grandes centros urbanos, vão ter de se reinventar, criando mais espaços verdes e mais condições para que as pessoas possam viver com algum distanciamento.
Tempo para fazer as pazes com a incerteza
Vai haver uma vacina em breve? E vai ser segura? Estas são perguntas feitas por milhares de milhões de pessoas em todo o Mundo. Há muitos “ses” neste momento. Não quer dizer que haja mais incerteza no Mundo, mas há uma sensação de maior incerteza porque todos os mecanismos e rotinas a que estávamos habituados foram alterados. E as pessoas são mais vulneráveis quando estão inseguras.
No próximo ano, vamos procurar maior estabilidade e segurança nas nossas vidas, poupando mais dinheiro, por exemplo. A saúde mental vai estar também no topo das preocupações. «Vamos ter de aprender a ser resilientes. Nas famílias, nas escolas, vamos tentar ensinar a tenacidade, tal como ensinamos outras competências», conclui Marian Salzman.
Texto de Daniel Almeida