
Publicidade em azulejo tornou-se a mais longa campanha da história ( e ainda hoje é visível em Portugal)
Os nitratos naturais sempre foram um recurso valioso, utilizado tanto na agricultura como na produção de explosivos. Durante séculos, a sua exploração foi um pilar económico na América do Sul, especialmente no território controlado pelo Império Inca e, mais tarde, pelos colonizadores espanhóis. No entanto, foi no século XIX que a exportação de nitrato, ou salitre, se tornou um negócio global, impulsionado pelas necessidades da indústria bélica e agrícola.
A Guerra do Pacífico (1879-1883) foi um marco na história desta indústria. O conflito, que envolveu Chile, Peru e Bolívia, resultou na anexação das principais zonas salitreiras por parte do Chile, permitindo ao país controlar a produção e exportação do valioso recurso. Já no final do século XIX, as empresas britânicas assumiram o domínio do setor, introduzindo inovações tecnológicas e estratégias de marketing que garantiram a popularidade do salitre chileno no mercado global.
Apesar da exploração do salitre ter trazido consigo uma realidade dura para os trabalhadores das oficinas salitreiras, que viviam em condições extremamente precárias, o negócio vingou. A revolta operária culminou na greve de 1907, que terminou de forma trágica com o massacre da Escola Santa María de Iquique, onde centenas de trabalhadores foram mortos.
E foi com o início do século XX que a indústria do salitre floresceu. O Chile beneficiou economicamente das exportações, financiando grandes obras públicas e a modernização do país. O monopólio chileno começou a enfraquecer com o desenvolvimento dos fertilizantes sintéticos, particularmente através do processo Haber-Bosch, criado na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial e a crise de 1929 veio agravar ainda mais a situação, acelerando o declínio da indústria.
Perante esta ameaça, os empresários chilenos lançaram, no final da década de 1920, uma ambiciosa campanha publicitária global para promover os Nitratos de Chile como fertilizante natural – que se tornou a mais longa da história -, tal como conta o site El Economista. Com décadas de experiência em marketing, desenvolveram estratégias adaptadas a cada mercado, tentando convencer os agricultores a manterem o uso do nitrato natural em vez das novas alternativas sintéticas.
A campanha em Portugal e Espanha
Na Península Ibérica, a campanha assumiu uma forma peculiar e memorável: a publicidade em cerâmica. Esta tendência começou em 1910 e prolongou-se até à Guerra Civil Espanhola. Os cartazes publicitários, produzidos em azulejo, exibiam um design simples e esquemático, influenciado pelo estilo Art Déco da época.
A campanha foi massiva, com anúncios em jornais, folhetos e cartazes espalhados por todo o país. Contudo, os painéis cerâmicos tornaram-se o elemento mais icónico da campanha. Em Portugal e Espanha, foram colocados em praças centrais, entradas e saídas de aldeias, edifícios públicos e até igrejas. Em Espanha, foram particularmente comuns na Estremadura, Andaluzia e Ilhas Canárias.
O design destes painéis foi obra de Adolfo López-Duran, um estudante de arquitetura, e a sua produção ficou a cargo das oficinas de cerâmica valenciana de Ramón Castelló. Ainda hoje, estas peças publicitárias sobrevivem em várias localidades, tornando-se parte do património histórico e visual das regiões onde foram instaladas.
Apesar do esforço publicitário, a indústria do salitre chileno não conseguiu resistir à ascensão dos fertilizantes sintéticos. No entanto, a campanha global dos Nitratos de Chile tornou-se um dos maiores exemplos de marketing agroindustrial do século XX e ainda hoje pode ser encontrada nestes painéis cerâmicos. Estes tornaram-se testemunhos de uma época de grande inovação no setor publicitário, deixando um legado que perdura nas ruas de muitas cidades e vilas da Península Ibérica.