Precisamos de tempo para não fazer nada

Por Mariana Vaz, head of Marketing & Communication na IMBS – Consulting

Parece assustador dizer isto a alguém. Bater à porta de um superior e dizer “hoje preciso mesmo de não fazer nada”.

Não digo literalmente, mas quase.

Uma das características que mais se espera de um profissional de marketing é a criatividade. O problema é que, ao contrário de características ou tarefas técnicas, que frequentemente seguem procedimentos definidos e regras claras, a criatividade tem uma natureza muito subjectiva: varia de acordo com a experiência, perspectiva, personalidade e, por último e não menos importante, do tempo que cada um tem para desenvolver essa parte, já que muitas vezes é impulsionada por inspiração, que pode vir de diversas fontes e de momentos inesperados. Não é algo que pode facilmente ser controlado ou agendado. Era bom, termos todos um tempo na agenda onde ligávamos o botão para a “hora criativa”.

Quem nunca ouviu falar em bloqueios criativos? A criatividade surge maioritariamente quando estamos relaxados e livres da lista de tarefas que definimos para nós mesmos, ou que alguém define por nós. No mundo acelerado do marketing, onde a pressão para inovar e entregar resultados é constante, a noção de que precisamos de tempo para nos inspirarmos pode parecer um luxo desnecessário quando, na verdade, é absolutamente o contrário. O argumento é simples: é precisamente esse tempo, livre de imposições, prazos e pressão, que alimenta a criatividade de quem faz disto a sua vida e o seu trabalho. Temos de entender a importância do tempo para quem desenvolve conteúdo, para quem cria formas diferentes de abordar o mesmo tema, o mesmo serviço, o mesmo produto. Temos de ter empatia com o tempo.

Se todos sabemos que a criatividade é o coração de qualquer campanha, post, artigo, vídeo, anúncio e por aí fora, deveria ser fácil compreender que não pode ser forçado. Não dá. A realidade é que, muitas vezes, esta inspiração advém de momentos em que a mente não está ocupada, momentos esses que permitem fazer scroll, olhar de fora para outros projectos, outras marcas, para a concorrência e formar conexões inesperadas que nos trazem ideias “do nada”. Lá está, “do nada”.

Pode parecer contraditório, mas reservar este tempo vai aumentar a produtividade. Quando temos a liberdade de desacelerar e fugir do planeamento intensivo de tarefas diárias, conseguimos oferecer este “nada” ao nosso espaço mental, que vai fazer com que a nossa criatividade seja impulsionada.

É por isso que é importante sabermos bater à porta da pessoa certa e pedir este tempo. E do outro lado é necessária uma abertura e sensibilidade a este tema, de forma a reconhecer que este pedido não é apenas uma questão de indulgência pessoal. É uma estratégia inteligente para promover a inovação, a eficácia e o bem-estar dos profissionais de marketing, resultando em benefícios tangíveis para a empresa como um todo.

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