Português que intermediou vinda da coleção que traz banana milionária a Serralves diz foi “um dever e direito patriótico”

O português Nuno Luzio, que intermediou a vinda de parte do acervo do colecionador Christian Duerckheim para a Fundação de Serralves, no Porto, considerou que a sua ação se tratou de “um dever e direito patriótico”.

Em entrevista à Lusa, o português que trabalha no gabinete do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), em Viena, revela que a sua motivação para atuar como intermediário entre a família Duerckheim e Serralves foi “um dever e um direito patriótico”, “sem nenhuma pretensão nacionalista”.

“Eu estou fora há mais de 20 anos, continuo a acompanhar as notícias do meu país diariamente e sou um cidadão interessado, e, portanto, achei que era um dever e um direito patriótico de tentar trazer esta grande coleção de arte contemporânea para Portugal”, contou à Lusa.

Na quinta-feira, a Fundação de Serralves anunciou um acordo para receber em depósito 37 obras de 19 artistas provenientes da Coleção Duerckheim, que prevê ainda a doação de uma peça de Anselm Kiefer à instituição portuguesa.

Em causa está o depósito de peças de Darren Almond, Georg Baselitz, Isaak Brodsky, Roman Buxbaum, Jake e Dinos Chapman, Theaster Gates, Gilbert & George, Antony Gormley, Damien Hirst, Zhang Huan, Stefan Hunstein, Anselm Kiefer, Michael Landy, Mamedov, Haralampi Oroschakoff, Sam Taylor-Wood, Matthias Wähner, Cerith Wyn Evans e Remy Zaugg.

Frisando que “não há nenhuma contrapartida, nem financeira nem em género” pela intermediação, Nuno Luzio vincou que a única compensação que dela adveio foi “ter este feito, contribuir, mas também ter um desafio que se consegue”.

“Muitas vezes, a satisfação de conseguir alguma coisa não tem que ter um significado monetário. Para além disso, obviamente, devido às minhas funções profissionais, não posso nem devo, e sou extremamente respeitador das regras, receber nenhum tipo de compensação pecuniária”, explicou.

Aproveitando o facto de ser amigo da família de Christian Duerckheim – um dos “mais significativos colecionadores da Europa”, segundo Serralves – Nuno Luzio, que também trabalhou vários anos na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), incluindo no Kosovo e Ucrânia, sugeriu Portugal como destino possível de parte do acervo do colecionador.

Revelando que a filha de Christian Duerckheim lhe contou que os seus argumentos tinham colhido a simpatia do pai – industrial alemão nascido em 1944 e conde descendente da aristocracia da Saxónia – Nuno Luzio iniciou então o processo que culminou no anúncio da semana passada por parte da Fundação de Serralves.

“É um processo longo, e isso é um ponto que eu quero realçar. Muitas vezes as pessoas pensam, ou têm como adquirido – ou algumas pessoas – que ter uma rede de contactos é suficiente para se conseguir alguma coisa”, mas Nuno Luzio considera que tal “depende muito de como se mobiliza essa rede de contactos”.

Primeiro através do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva e depois através do Ministério da Cultura, o processo foi avançando, desde reuniões em tempos de pandemia até à ida de Delfim Sardo, especialista enviado pelo Estado à Suíça (onde reside Duerckheim) para ver a coleção.

O processo durou cerca de três anos e acompanhou duas mudanças de Governo em Portugal, o que segundo Nuno Luzio também influenciou os acontecimentos em termos temporais, e lhe criou alguma pressão, ainda que assumidamente autoimposta.

Perante as sucessivas mudanças de executivo, acabou por ir “diretamente a Serralves” e encontrou no Porto “parceiros absolutamente magníficos”, tanto a presidente do conselho de administração da Fundação, Ana Pinho, como o diretor Philippe Vergne.

Após visitas de Vergne à Suíça e de Duerckheim a Serralves, foi firmado o acordo.

“O que eu queria sublinhar é que Serralves soube fazer isto também de uma maneira muito profissional. Nós temos, de facto, seja a sul seja a norte, ilhas de excelência e há é que continuar que elas destilem as suas raízes por outras partes da sociedade e do país”, vincou.