Portugal mal preparado para o teletrabalho: compras de informática acima da Europa
António Salvador, managing director da GfK Portugal, não tem dúvidas sobre o caminho tecnológico que Portugal está a fazer. Na 25.ª Conferência Web da GfK, sobre o comportamento do mercado de bens tecnológicos em tempo de pandemia, o responsável sublinhou que «se espera uma nova aceleração na modernização do País», considerando projectos como “Empresas 4.0”, “Escola Digital” ou “Mobilidade Sustentável”.
Os resultados verificados no ano passado, a nível global, apontam para esta tendência, já que a tecnologia acabou por se tornar a solução para as grandes necessidades que atingiram as diferentes áreas da sociedade em 2020. E isso reflecte-se nas compras: verificou-se uma subida em praticamente todas as categorias de produtos analisadas, incluindo Notebooks (+31%), Tablets (+41%) Headsets (+34%) e TVs (+10%).
Destaque ainda para o salto de 24% relativamente a produtos inteligentes, evidenciando a necessidade de os consumidores digitalizarem as suas actividades e melhorarem o tempo passado em casa. Portugal e Holanda foram os países que apresentaram maiores crescimentos em 2020 (+29% e +35%, respectivamente).
Segundo a GfK, as vendas online cresceram 35% entre 2019 e 2020 e toda a experiência multicanal online foi alavancada devido às restrições impostas pela Covid-19. As redes sociais, por exemplo, ganharam um papel mais relevante na jornada de compra.
Portugueses compraram mais electrodomésticos
“No cômputo geral do ano de 2020 em Portugal, a maior permanência em casa beneficiou o mercado dos Electrodomésticos, com subidas em todas as categorias”, adianta a GFK. De acordo com a empresa de estudos de mercado, o segmento de Cuidado Pessoal foi impulsionado pelos Aparadores de Cabelo (+80%), Kits de Multigrooming (+38%) e Aparadores de Barba (+37%).
Na área dos Pequenos Electrodomésticos, destaque para os robôs de cozinha (+62%), máquinas de café (+20%), liquidificadoras (+31%) e batedeiras (+33%). A tendência positiva verificou-se também nos Grandes Electrodomésticos, particularmente nos frigoríficos com capacidade superior a 500L (+29%), máquinas de lavar roupa com capacidade superior a 9kg (+26%) e fornos com capacidade superior a 70L (+16%).
“A procura por produtos premium, ao contrário do que seria de esperar por causa da pandemia, continua com crescimentos positivos, sendo que 47% dos consumidores concorda com a premissa de que é importante cuidarem de si regularmente”, revela a mesma análise.
A preocupação com a limpeza estendeu-se também aos produtos electrónicos, com os robôs a crescerem 81% e os aspiradores verticais 66%.
Telecomunicações quase estagnada mas Informática dispara
A categoria das Telecomunicações foi afectada pelo início do confinamento porque o consumidor mudou o seu foco para aquilo que considerava realmente essencial e urgente. Desta forma, o crescimento foi de apenas 1% em Portugal face a 2019, ficando abaixo da média europeia.
Os maiores aumentos dizem respeito a Wearables (+51%) e Headsets (+38%), impulsionados pela prática de exercício físico em casa. Na Electrónica de Consumo, Portugal terminou 2020 com um volume de negócio na ordem dos 446 milhões de euros, em linha com o ano anterior. “Esta variação não é negativa graças ao ensino à distância através da televisão. A televisão reforçou a sua importância dentro do sector, através de um crescimento de 7%”, explica a GfK, adiantando que a TV foi responsável por 83% do total da facturação da Electrónica de Consumo.
No sentido oposto, categorias que dependiam do ar livre, feiras ou eventos, como é o caso da Fotografia e Vídeo, apresentam quedas acima dos 30%.
Já no campo da Informática, os números mostram que Portugal seria um dos países menos preparados para a transformação digital que veio com a pandemia. Este sector registou crescimentos de 80%, “muito acima da média dos cinco principais países da Europa e China”, de forma a dar resposta à telescola e ao teletrabalho.
“No final de 2020, Portugal registou um volume de 660 milhões de euros, com um impressionante crescimento de 31%”, indica a GfK.