Portugal: Mais do que Sol e Praias
Texto por Ricardo Pereira, Diretor de Marketing do Grupo Synere
Já está na hora de expandir a nossa imagem global
Recentemente, a nova campanha internacional do Turismo de Portugal, “Portugal is Art,” destacou o país como um destino turístico onde arte e cultura estão profundamente enraizadas no quotidiano. A campanha promove Portugal para mercados como o Reino Unido, EUA e Brasil, e é um apelo atraente para visitar e experienciar o país, celebrando a nossa identidade cultural.
No entanto, ao focar exclusivamente a nossa imagem internacional no turismo, ficamos áquem da nossa capacidade económica. Será que esta é a imagem mais completa que queremos passar para o mundo? Este foco singular numa faceta do país levanta uma questão crucial: até que ponto Portugal é percebido como um player global nos sectores da tecnologia, inovação e indústria?
Um Novo Branding para Portugal
Portugal tem mostrado um forte potencial em setores como a metalomecânica, energias renováveis, e tecnologia, o que sugere uma robusta capacidade de inovação. Estes são aspetos que muitas vezes ficam na sombra das campanhas de promoção de Portugal fora de portas, mas que também merecem uma plataforma de destaque. O país é mais do que um lugar de sol e mar; somos também um centro de criação e execução onde empresas locais e internacionais investem em produtos e serviços de qualidade.
Chegou a altura de expandirmos a nossa marca nacional para incluir esta versatilidade económica. Países como a Alemanha e a Coreia do Sul souberam transformar a perceção externa do seu perfil económico, passando de destinos focados no turismo e na cultura para nações reconhecidas pela sua indústria e inovação. Portugal poderia beneficiar de uma estratégia de branding semelhante, que amplifique não só a nossa imagem cultural, mas também a nossa capacidade técnica e industrial.
Conseguimos imaginar o impacto que esta mudança de foco poderá fazer pelo nosso país?
Ao associarmos o país exclusivamente ao turismo, arriscamo-nos a criar um posicionamento limitado e estereotipado. Esta visão coloca-nos, de certo modo, numa posição de vulnerabilidade, dependendo demasiado da perceção externa do país como um local de férias. Se enfrentarmos uma recessão global ou alterações nas tendências turísticas, poderemos enfrentar dificuldades económicas. Uma aposta mais ampla numa campanha de branding, focada nas competências de produção e inovação do país, poderia servir como uma forma de diversificação que protege a economia nacional de flutuações externas.
Reconheçamos que o branding de um país é um desafio complexo. A nossa imagem está fortemente vinculada ao turismo, e quebrar essa perceção requer investimento e empenho continuado. No entanto, as oportunidades são consideráveis. Portugal conta com inúmeras startups tecnológicas, empresas industriais e hubs de inovação que mostram ao mundo a nossa competência. Imagine uma campanha de branding que destacasse a nossa capacidade de produção tecnológica e industrial em feiras internacionais de inovação e negócios.
Empresas nacionais, em setores como a metalomecânica, já têm vindo a afirmar-se em mercados competitivos com altos padrões de qualidade, provando que Portugal consegue posicionar-se com excelência em diferentes áreas. Mas este trabalho precisa de um apoio estratégico e de campanhas que criem uma marca sólida em torno destas capacidades, tornando-nos conhecidos não só pelas nossas praias, mas também pela nossa capacidade de criar e inovar. Enquanto país, temos de ter a coragem e a ousadia de ir além do “País que acolhe” pessoas ou eventos “fancy”, com por exemplo a Web Summit.
A Importância de Um Posicionamento Equilibrado
Claro que o turismo continuará a ser um pilar económico relevante para o país. Contudo, um posicionamento equilibrado poderia fazer toda a diferença na nossa estratégia de internacionalização, trazendo uma base sólida de crescimento e desenvolvimento económico sustentável. Em vez de limitar a nossa identidade nacional a um país que serve à mesa, Portugal poderia tornar-se um exemplo de versatilidade e resiliência, reconhecido tanto pela sua cultura como pela sua capacidade de inovação e industrialização.
Portugal é, sem dúvida, um destino turístico notável, mas também somos um país de inovação e talento industrial. É tempo de expandirmos a narrativa e criarmos campanhas que mostrem ao mundo o potencial que temos para oferecer em múltiplos sectores. O desafio agora é perder a timidez e apostar numa marca nacional que valorize todas as facetas da nossa economia e cultura.