“Portugal das constatações”

ricardo-florencio Ricardo Florêncio

Director Editorial Marketeer

Editorial publicado na edição de Outubro de 2012 da revista Marketeer

Portugal é o País das Constatações!

Fartamo-nos de constatar. Constatamos sobre tudo e todos. Constituímos e mandatamos comités e comissões para constatarem. Temos todos os dados necessários para que a constatação seja fundamentada. O problema é que apenas constatamos. Nada fazemos. Constatamos. E quando alguém quer fazer, imediatamente alguém vem boicotar, ou pelo menos dificultar!

Constatamos que é o aparelho do Estado um dos maiores responsáveis pela situação que vivemos hoje em dia. 50% do PIB vai para custear o aparelho do Estado. É unânime a constatação. E então?

Constatamos que, segundo uma série de estudos já elaborados, em 2050 vamos ter 30% da população acima dos 65 anos. E então? Nada, nem uma só política, incentivo à natalidade, como acontece na maioria dos países civilizados.

Constata-se que a situação em que hoje vivemos é resultado de um acumulado de más e erradas políticas. E?

Constata-se que as empresas do domínio do Estado são um buraco sem fundo. Constatou-se este ano que a derrapagem face ao orçamento já vai em mais de 2.000 milhões de euros. E então?

O Tribunal de Contas comunicou este ano que detectou uma série de anomalias na aquisição de bens e produtos por parte de ministérios, empresas e organismos do Estado, o que pode ter lesado o erário público em muitos milhões de euros. E?

Constatou-se que a austeridade e o sequencial aumento de impostos tem reduzido drasticamente o consumo, criando todos os problemas conhecidos na cadeia de produção e distribuição, e até mesmo no arrecadar de impostos, directos e indirectos. E então?

Constatou-se que existe uma série de situações de enriquecimento ilícito, sem explicação e justificação plausível, e muitas delas à custa do Estado, ou seja, à nossa conta. E?

Constatamos que neste momento a economia paralela, aquela que não paga imposto, já valerá 25% do PIB. E?

Constatamos que existe um número infindável de sujeitos (individuais e colectivos) que fogem aos impostos. E então?

Constatamos que o início do processo dos cortes para o equilíbrio das nossas contas deverá começar no Estado e nas suas despesas. E então?

Todos constatamos, incluindo a União Europeia, que sem economia, sem crescimento, apenas com austeridade, os resultados esperados não vão ser atingidos. E?

Constatamos que, para um país desta dimensão, o número de câmaras municipais, freguesias, fundações e associações, serviços e institutos públicos é ridiculamente exagerado e verdadeiro sorvedor de dinheiro. E? Todos concordamos com a constatação, mas tudo deverá começar no quintal do vizinho, não no meu.

Todos constatamos que o País continua a ter resquícios de rico, quando está na ruína. E? Diagnósticos são connosco. Falta-nos agora actuar.

De uma vez por todas, temos de deixar de pensar na nossa árvore, mas pensar na floresta. Temos de olhar para hoje, mas a pensar no amanhã. Não podemos continuar a ser umbilicais. Temos de idealizar, colaborar, agir. E aqui a sociedade civil também tem uma palavra a dizer. E a classe política, também tem de perceber isso, e deixar espaço para que tal aconteça.

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