Porque all we need is more than love
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Vivemos dois anos sem gastar. Estivemos confinados, portas “fechadas”, com os restaurantes a chegarem-nos a casa, teatros e cinemas por abrir e aviões em terra! Eu sei. Também lá estive. Assim como sei que a vontade de sair, de viver, de partilhar, rir e voltar a estar, experimentar, comer, beber e dançar era mais que muita! E continua a ser. Não querendo fazer aqui o papel do diabo ou o da chata do primeiro andar, confesso, contudo, que me preocupa a “leveza” com que os portugueses vão a tudo, compram tudo, querem tudo.
A gasolina subiu, desceu e voltou a subir e está incomparavelmente mais cara. Não há volta a dar. O preço da água foi pelo mesmo caminho. O do gás idem e o da luz idem, idem. Há legumes que duplicaram de valor, já para não falar do pão e carne, do peixe e da fruta. E, isto, olhando apenas ao cabaz essencial. Uma ida ao supermercado já voltou a ser um trabalho de Excel, onde se avaliam promoções da semana ou do dia e se cruzam as mesmas com o que falta lá por casa.
Diríamos, então vamos voltar a poupar, a cortar no acessório, a planear saídas, a definir viagens, compras… Pois, nada disso. Nunca se consumiu tanta música como nos últimos tempos, com concertos e festivais a esgotar em horas. As viagens de avião estão o dobro para muitos destinos, mas vá lá tentar marcar um voo para a semana… Ir jantar fora está pelo dobro, mas são raros os restaurantes que aceitam reservas para o próprio dia.
Claro que uma economia sem consumo é uma economia deprimida. Claro que eu, enquanto responsável de duas revistas com presença em banca – pelo que dependentes de quem compra e das marcas que investem –, tenho que apelar ao investimento. Pelo futuro. Mas o futuro sustentado também se faz com um presente equilibrado. Até me podem dizer que “all we need is love”. Só que, no final, temos contas para pagar. E ninguém as quer inflacionadas.
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 314 de Setembro de 2022