Pequeno-almoço debate
Cimentando-se como um sector estratégico na economia, o turismo tem vindo a captar atenções, fazendo com que novos players se unam aos tradicionais no incremento e desenvolvimento do sector. A macroeconomia do turismo, a criação de conteúdos e o desenvolvimento de eventos foram os temas que serviram de umbrella à discussão de ideias no decurso do último pequeno-almoço debate da Marketeer.
Com um peso e preponderância crescente na economia portuguesa, o turismo tem vindo a desempenhar um papel de suma importância no cômputo geral da evolução do País. De acordo com dados recentes, o turismo em Portugal contribui com cerca de 46% das exportações de serviços e mais de 14% das exportações totais, números que o revelam como um sector estratégico para a economia portuguesa. Uma evidência por todos reconhecida é a necessidade do turismo ganhar mais peso na agenda política, o qual deve corresponder à efectiva importância que o sector representa, distanciando- se das variações estratégicas que os ciclos políticos acabam por impor. Por outro lado, o papel da sociedade civil, através da intervenção dos mais variados players, é cada vez mais importante. Na introdução do seu know-how, ou na inserção de novas áreas de inovação, o papel a desempenhar por todos é de suma importância. Com esta premissa, a Marketeer deu início a um ciclo de pequenos-almoços com um grupo de profissionais de topo, responsáveis pela estratégia, marketing e comunicação de empresas que actuam em diferentes áreas relacionadas com o turismo. O objectivo desta iniciativa passa pela criação de um fórum independente onde possam ser debatidos temas interessantes e transversais aos diferentes players do turismo nacional.
Neste pequeno-almoço, que teve lugar no Hotel Dom Pedro Palace, em Lisboa, estiveram presentes Pedro Ribeiro (diretor de Marketing e Comercial do Grupo Dom Pedro Hotels), Nuno Ferreira Pires (administrador do Grupo Pestana), António Monteiro (director de Comunicação e Relações Públicas da TAP), Eduardo Cabrita (director-geral da MSC Cruzeiros em Portugal), Álvaro Covões (director da Everything is New) e Rogério Cardoso (director de Marketing da ES Viagens).
Com a finalidade de se alcançar um debate mais aprofundado por parte de todos, foi decidido que nenhuma das intervenções seria atribuída directamente no texto.
A importância dos eventos e dos conteúdos
Um dos temas debatidos, no decurso de cerca de uma hora e meia de conversa, foi a macroeconomia no turismo, chegando-se à conclusão da extrema importância de um debate deste género, pois o turismo movimenta um sem-número de outros sectores da economia nacional, trazendo para o seio do sector empresas e áreas de actividade que, numa primeira análise, não estariam a ele ligadas. Muito para além dos números ou do seu valor real no PIB do País, o turismo serve de alavancagem a muitas outras actividades geradoras de conteúdos e eventos. Por outro lado, a importância dada a actividades que, numa primeira abordagem, não são devidamente valorizadas, como o património ou o turismo religioso, deverá ser cada vez maior. Uma das premissas que obteve o acordo de todos é a falta da criação de conteúdos para Portugal, pois é preciso arranjar motivos para que quem nos visita o torne a fazer e para que quem não nos conheça deseje fazê-lo. Em suma, falta uma linha de orientação que sirva de fio condutor ao turismo nacional.
Foi defendido que «devia existir um agregador nacional daquilo que o País tem como bom. Assim, seria possível a realização de situações de “cross target”, que o País possui de norte a sul, de maneira a torná-los atractivos para quem nos visita, captando desde os “young adults” aos “silver segments”». Por outro lado, houve quem defendesse que o País não tem de ter um posicionamento em termos de produto, «Portugal surge como um conjunto de produtos que atrai uma multiplicidade de segmentos, estando já bastante consolidado. O que falta é criar motivos para que as pessoas venham, algo que a maior parte dos nossos concorrentes consegue fazer através da promoção de eventos, o que não tem sido feito, pois limitamo-nos a apoiar os eventos dos outros, que já existem a nível mundial mas que captam poucos fluxos turísticos».
Uma das soluções apontadas para se conseguir captar este fluxo turístico regular será a organização de eventos que se desenvolvam ao longo do ano, ou que se realizem num curto espaço de tempo e que sejam eles próprios agregadores da intervenção das mais variadas áreas. «Mas essa organização deverá sempre estar assente naquilo que o País tem de melhor, porque senão corremos o risco de ficar dependentes dos eventos», foi contraposto, «queremos que as pessoas venham, conheçam, gostam e regressem». Uma das questões debatidas foi a necessidade de gerar notícia, ou seja, que existam iniciativas que façam os outros falar de nós, pondo Portugal turisticamente nas bocas do mundo, para que o número de pessoas que nos visita actualmente, «cerca de 14 milhões e meio», aumente para «os 20 milhões, número que já deveria ter sido alcançado». Soluções poderão ser várias, mas para este grupo de debate uma delas passa impreterivelmente pela criação de mais conteúdos, pois «são esses conteúdos diferenciadores que Portugal pode oferecer que vão gerar um maior fluxo de turistas. São os conteúdos que marcam a diferença», foi referido. Com a facilidade que existe hoje nas deslocações, a tentação é ir sempre a destinos diferentes, pelo que são esses conteúdos que vão fazer com que os turistas nos visitem uma, duas ou mais vezes, pois «o viajante actual quase que cria um currículo de viagens, e o facto de possuirmos qualquer coisa que crie a vontade de voltar é essencial, para as pessoas repetirem a visita, porque há algo a acontecer».
Todos os intervenientes se mostraram de acordo relativamente ao grande desafio que se coloca a Portugal: a organização dos conteúdos que já existem. «Não se pode reduzir Portugal a um país de surf e golfe, como faz hoje o Turismo de Portugal», foi referido, pois um país com a dimensão do nosso, com as acessibilidades que possui, devia trabalhar para cruzar as pessoas, ou seja, para que quem nos visita vá de um sítio para outro e conheça do país mais do que a cidade onde o avião aterrou.
«Entre os players temos que trabalhar como um todo, em conjunto, e temos que aproveitar mais o que já existe», afirmação que teve o acordo de todos, «não podemos continuar a funcionar num sistema de “quintinhas”», foi defendido. Hoje em dia, o turismo consiste na criação de memórias diferenciadoras e ter a percepção dessa necessidade é importante para se conseguir cativar mais visitantes, seja criando conteúdos novos ou reorganizando os que já existem, para que quem já nos conhece volte. A realização de eventos foi apontada como o chamariz de atracção de mais turistas, «o “click”, a vontade de nos visitar tem de surgir com qualquer coisa que acontece de novo». Depois compete a cada um dos intervenientes no sector cativar quem chega com o que de melhor tem para oferecer, para gerar a vontade de regressar. A urgência da criação de um calendário de eventos nacional foi outra necessidade apontada por todos, assim como, à semelhança do que acontece nas grandes capitais europeias, haver uma maior publicidade dos eventos culturais, sejam eles exposições, concertos, peças de teatro, entre outros. Simultaneamente, foi referida a importância do segmento corporate para o turismo nacional, sendo este «gerador de um elevado número de visitas e estadias, que muitas vezes se prolongam para permanências de lazer».
Uma das conclusões assentou na efectiva e transversal importância dos diferentes players e das suas actividades no crescimento do turismo, sendo o desenvolvimento do trabalho conjunto essencial para a valorização económica do sector.
Artigo publicado na edição n.º 214 de Maio de 2014.