Oscar Pistorius já não é o homem-bala da Nike

Os mesmos patrocinadores que ajudaram Oscar Pistorius a sagrar-se o atleta paralímpico mais famoso e mais bem pago do mundo enfrentam agora a decisão de manter ou romper a sua ligação ao sul-africano, acusado de ter matado a tiro a namorada, a modelo Reeva Steenkamp, de 29 anos. A Nike foi uma das primeiras a reagir, ao retirar um anúncio que comparava o atleta a uma bala.

O alegado homicídio terá ocorrido ontem na casa do atleta, mas a acusação formal aconteceu hoje num tribunal de Pretória, África do Sul. Entretanto, a maioria das marcas que patrocinam Oscar Pistorius, de 26 anos, parece querer esperar mais algum tempo até tomar uma decisão definitiva.

A Nike, a principal patrocinadora do atleta, endereçou, por intermédio de um porta-voz, as “mais profundas condolências às famílias afectadas por este trágico incidente”, mas recusou-se a adiantar mais comentários por se tratar de um “caso de polícia”.

Porém, já depois de conhecida a acusação formal do tribunal, a marca decidiu esta manhã retirar um anúncio que estava desde ontem alojado no website oficial de Oscar Pistorius e que tinha a assinatura “I’m the bullet in the chamber” (“Eu sou a bala na câmara”) – a frase tem sido utilizada desde 2011 nas campanhas protagonizadas por Pistorius, sempre ao lado da assinatura da marca, “Just do it”, uma coincidência que terá precipitado a decisão de retirar o anúncio. A Nike decidiu ainda suspender a emissão do spot de TV integrado na campanha. De acordo com a Forbes, o contrato da Nike com Oscar Pistorius está avaliado em dois milhões de dólares (cerca de 1,5 milhões de euros) por ano.

A British Telecom, outro patrocinador de Oscar Pistorius, afirmou estar “chocada por esta terrível e trágica notícia”, mas irá “aguardar pelo desfecho da investigação da polícia sul-africana”.

Jon Sigurdsson, CEO da fabricante islandesa de próteses Ossur, outra empresa associada ao atleta, teve uma reacção idêntica. «Apenas posso afirmar que os meus pensamentos e orações estão com o Oscar [Pistorius] e com todas as famílias envolvidas nesta tragédia. Mas é totalmente prematuro discutir ou especular sobre a nossa relação comercial” com o atleta, declarou o responsável.

Já o canal televisivo sul-africano M-Net decidiu retirar do ar, “com efeitos imediatos”, a sua campanha para os Óscares, que era protagonizada por Oscar Pistorius.

O dilema de apoiar ou abandonar atletas envolvidos em escândalos, sejam desportivos ou pessoais, não é inédito para as marcas. O caso mais recente é o de Lance Armstrong, que em Outubro do ano passado perdeu os patrocínios da Nike, da cadeia de lojas de artigos electrónicos RadioShack, da cervejeira Anheuser-Busch, bem como das fabricantes das bicicletas Trek e dos capacetes Giro. As marcas decidiram quase todas em simultâneo, depois de a Agência Antidopagem Norte-Americana (USADA) ter acusado o ex-ciclista de doping durante a conquista dos seus sete títulos na Volta a França.

Pistorius, conhecido como “Blade Runner” devido às próteses de carbono com que corre, é atleta de 400 metros e campeão paralímpico. Foi o primeiro atleta amputado das duas pernas a participar nos Jogos Olímpicos, o que aconteceu no ano passado, em Londres.

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