Os vegetais não são apenas um acompanhamento no novo Jardim de Lisboa

Acha que não gosta de couve-flor? Pense de novo. E ainda acredita que os vegetais são meros acompanhamentos? Aquela saladinha para dar um toque de leveza à refeição? Nesse caso, tem mesmo de pensar de novo. Ou, então, visitar O Jardim.

Das mesmas mentes por detrás do Sr. Lisboa, Francisco Breyner e Pedro de Sousa, chega um novo conceito totalmente diferente. Se no primeiro, na Rua de São José, encontramos clássicos da gastronomia nacional reinventados, no segundo somos brindados com uma ode ao lado mais verde da cozinha. E, atenção, O Jardim não é um restaurante vegetariano, mas, sim, um espaço onde os legumes e vegetais são protagonistas em vez de meros figurantes.

Na Rua de São Bento, mesmo junto à Assembleia da República, O Jardim distingue-se do irmão mais novo também pela dimensão: é muito maior, o que se afigura um desafio tendo em conta o facto de a carta ser mais arriscada – leia-se, fugir ao tradicional.

Abriu só para jantares no início de Setembro e agora está também a servir almoços. E foi precisamente à hora de almoço que visitámos O Jardim, na companhia do chef executivo Pedro de Sousa (também à frente da cozinha do Sr. Lisboa), que descreve o espaço como um refúgio na cidade. «Não deixámos nada ao acaso», conta-nos, referindo-se ao cuidado com as ementas elaboradas à mão e com toda a loiça e decoração escolhida tendo em mente o conceito do restaurante.

Para dar início à função, provamos o pão de fermentação lenta natural da Marquise (um dos pequenos negócios/produtores com os quais O Jardim colabora), manteiga de levedura e miso (não sabíamos bem o que esperar e continuamos sem conseguir descrever sem ser com “uau”) e azeitonas do Douro marinadas e algas da nossa costa.

Seguimos para o Confronto do mar ao jardim, uma das receitas mais especiais do menu: flat bread de kombu, mexilhões, tomates coração de boi semi-desidratados e flores do Jardim. Tudo isto sobre uma espécie de aquário que traz o mar para a mesa e que lembra os riscos que o mesmo enfrenta. Por entre grãos de areia, surgem beatas de cigarro, por exemplo, num alerta muito claro de que é preciso fazer algo para garantir que os mexilhões aqui servidos (e não só) continuarão a existir.

Logo depois, chegam as tarteletes de cogumelos, manteiga castanha e ervas do Jardim – também designadas Pede-me isto! – e os croquetes de beringela e molho de gemas e whiskey – ou Venham mais cinco, mas não paga o Zeca. Uma excelente preparação para o que sairía da cozinha de seguida: couve-flor frita como se se tratassem de chicken wings. Se quiser descobrir que, afinal, gosta de couve-flor (como aconteceu connosco), é favor pedir Esta flor não se cheira, frita-se.

Para terminar a etapa salgada, uma trilogia imbatível: Miss Batata, que é como quem diz espuma de batata, alcaparras, café, óleo de salsa e pimenta rosa; Não se fala de boca cheia, ou couve portuguesa e o seu cabrito (e não cabrito com couve!); e, ainda, Do café lá da casa, prato composto tão-somente por cogumelos ostra no carvão, facilmente um dos pontos altos de toda a experiência.

Por fim, O nosso pastel de nata, um velho conhecido do Sr. Lisboa e que consiste em creme de pastel de nata, molho de canela e gelado de café, acompanhado por Cuidado que o Figo Pica. Se nos dissessem que íamos sair de casa nesse dia para comer cactos talvez não tivessemos acreditado. Ou, então, teríamos, pelo menos, levado algum tipo de protecção. Mas a verdade é que não é preciso: o cacto que aqui provamos é inofensivo e, além disso, surge sobre uma pavlova de maçã verde. Diz que ou se odeia, ou se adora. Nós ficámos a meio caminho, até porque já se sabe que no meio é que está a virtude.

Debaixo de olho ficaram ainda as ostras servidas nos pratos mais bonitos que alguma vez vimos, criados pela Pratos Prates, o peixe de lota em salmoura com texturas de tomate e flores do Jardim (Tomatas-me) e o brunch, disponível apenas aos sábados e domingos, entre as 9h e as 16h, e com propostas como tosta aberta de camarão salteado, óleo de rosas, molho de tártaro, agrião e pesto e, ainda, panquecas com ovo estrelado, bacon crocante e granola salgada (Castor).

No copo, as opções são mais que muitas. Uma das grandes apostas d’O Jardim é a carta de vinhos, composta em 70% por vinhos naturais, mas há também cocktails assinados por Constança Cordeiro da Toca da Raposa (olá, Magnólia com sabor a cornetto de Morango), cerveja artesanal Piquenique, entre outras sugestões mais clássicas.

Tudo isto pode mudar em breve, uma vez que a ambição do chef Pedro de Sousa será introduzir novos pratos a cada dois ou três meses, retirando outros, nomeadamente por questões de sazonalidade.

P.S. Para quem considera a banda sonora um elemento essencial da experiência à mesa, O Jardim não descurou esse pormenor e apresenta uma playlist de música portuguesa com nomes como Sam The Kid ou Lena D’Água. Um pormenor que apreciámos!

Texto de Filipa Almeid lisboa, 

Artigos relacionados