Os desafios de ser Marketeer ontem e hoje
Texto de Lídia Moreira, diretora de Marketing, Comunicação & Sustentabilidadede de Soja Portugal
O que significa ser um hoje um marketeer? Há 20 anos, comunicar uma marca era um processo linear: anúncios em televisão, cartazes e campanhas impressas eram os pilares das estratégias. Criatividade e gestão eficiente de recursos eram as chaves para se destacar. Hoje, o cenário mudou radicalmente. A multiplicidade de canais, a transformação digital e a necessidade de adaptação constante trouxeram desafios únicos — e redefiniram o que significa trabalhar em marketing.
Se antes bastava uma boa ideia e um orçamento bem distribuído, hoje exige-se um conjunto de competências muito mais vasto. A capacidade analítica tornou-se indispensável, assim como a agilidade para lidar com ferramentas digitais que evoluem a uma velocidade vertiginosa. A pressão para estar sempre conectado e atualizado é constante, e a complexidade do comportamento do consumidor tornou a previsibilidade um luxo que já não existe.
Mas há um desafio que permanece intocado: a necessidade de provar, continuamente, o valor do marketing dentro das empresas. Em momentos de crise, quando seria natural que o marketing assumisse um papel estratégico para alavancar o negócio, muitas vezes é visto como um custo a cortar. A perceção errada de que os seus resultados não são imediatos leva a decisões míopes que comprometem o crescimento a longo prazo. No entanto, estudos mostram que as marcas que mantêm investimento em marketing durante períodos de instabilidade recuperam mais rápido e conquistam maior participação de mercado.
Outro entrave recorrente na profissão é o famoso “achómetro”: a ideia de que qualquer pessoa pode opinar sobre marketing sem base analítica. Apesar de ser uma área altamente estratégica, orientada por dados e métricas, ainda é comum encontrar decisões tomadas com base em intuições ou preferências individuais, sem considerar a realidade do mercado. Este cenário não só dificulta o trabalho dos marketeers como também prejudica a performance das marcas.
E, claro, o consumidor atual impõe desafios inéditos. Mais informado, exigente e menos fiel, tem um poder de voz amplificado pelas redes sociais. Já não aceita apenas ouvir marcas — exige diálogo, autenticidade e ação. Quer marcas com propósito, que entreguem valor real e que estejam dispostas a estabelecer uma relação transparente e duradoura.
Ainda assim, há algo que nunca mudou: a paixão pelo impacto que o marketing pode ter na sociedade. A criatividade continua a ser o coração da profissão, mas agora pulsa em sincronia com a tecnologia, os dados e a estratégia. Trabalhar em marketing nunca foi tão desafiante, especialmente quando os orçamentos são curtos. Mas também nunca tivemos tantas oportunidades para inovar e transformar crises em oportunidades.
Se há algo que aprendi nestes 20 anos, é que o marketing não é apenas uma ferramenta de comunicação — é um motor estratégico para qualquer negócio. Cabe a nós, profissionais da área, demonstrar o seu verdadeiro valor, garantindo que criatividade e dados trabalhem juntos para impulsionar marcas e criar conexões genuínas.