Opinião de Jorge Aguiar (Mercedes-Benz Portugal): “Digital is king, but physical experience is queen”
Por Jorge Aguiar, Director de Marketing e Comunicação da Mercedes-Benz Portugal
Num mundo cada vez mais digital, estou em crer que nos andamos todos a enganar… ou a ser enganados. Mas lá vamos vivendo felizes em torno das visualizações e likes.
Não me entendam mal, a internet, as redes sociais e os dispositivos móveis trouxeram inegavelmente um avanço gigante na forma como comunicamos, nos informamos e consumimos conteúdos. Uma infinidade de possibilidades. No entanto, este meu parágrafo é escrito na visão de alguém que tem vindo a investir milhões de euros em comunicação, consistentemente, no digital, na esperança de colher os frutos, que é como quem diz, fazer as marcas ganharem mais notoriedade, melhor imagem, mais leads e, no limite, mais vendas e mais clientes felizes.
Existem as famosas ferramentas de análise de dados, designadas de “Data Driven” e “Data Analytics” e mais um sem-fim de nomes sugestivos, que nos permitem saber onde estamos a investir e o retorno que estamos a ter. Então onde reside o problema? Se é que há algum.
O que me parece é que, se há uns anos afirmávamos que o digital ainda não estava suficientemente desenvolvido e era um território de aprendizagem, hoje, acho que aprendemos (e muito rapidamente) e seguimos todos a mesma estratégia. E as famosas cookies fazem milagres para os anunciantes. O problema é que os nossos potenciais clientes são uns gulosos e aceitam “comer’’ todas as bolachas (cookies), e, com isso, acabamos todos por estar a falar com a mesma “clientela’’.
O que comunicamos deixa de ser relevante, num mundo digital fragmentado e inundado por mensagens de todas as marcas (concorrentes) e onde o guloso das cookies não tem capacidade para absorver a mensagem. Apenas por microfracções de segundos algo passa pelo pequeno ecrã do telemóvel, mas contou no mapa do Data Driven como mais uma visualização. E tantos milhões de views que alcançamos! Às vezes, pergunto-me: mas qual é o objectivo? Alcançar muitas visualizações e/ou leads? Ou será que deveríamos estar mais focados nas vendas?
Não me entendam mal, o digital é fantástico, é rei. Mas, não pode viver sozinho, e tenho em mim a plena convicção de que o rei necessita da sua rainha, e as experiências físicas são cada vez mais fundamentais. Só aí nos podemos diferenciar, pelo produto, pela emoção injectada em cada potencial lead… desculpem, potencial cliente.
Por mais conectados que estejamos com o mundo virtual, somos seres humanos que valorizam a interacção pessoal, a sensação táctil e a imersão em ambientes reais com experiências físicas, que têm o poder único de nos envolver, emocionar e conectar. Nada substitui a alegria de estar presente num concerto ao vivo, a satisfação de saborear uma refeição ou a sensação de abraçar alguém.
Reafirmo a minha convicção de que, num mundo cada vez mais digital, as experiências físicas são fundamentais. O digital assume o trono, mas o físico ocupa o lugar da rainha. E é este equilíbrio que é fundamental encontrar. Já encontrou o seu?
Artigo publicado na revista Marketeer n.º 323 de Junho de 2023