Onde deve estar o nosso foco?

Por Pedro Miguel Garcia, head of Brand Bet Entertainment Technologies Limited

Confesso que embora tenha passado grande parte da minha vida do lado das agências, sempre tive curiosidade em estar no lado do cliente. Como se aqui fosse o lado negro da força. Estar do lado onde realmente são tomadas as decisões, onde se consegue falar de forma mais directa com os consumidores e onde, sobretudo, se pensa o que faz ou não sentido para a marca. O grande problema é quando depois nos deixamos prender em demasia por aquilo que queremos comunicar e perdemos o foco. E a verdade é que cada vez mais vemos marcas sem foco e sem rumo, comunicando algo que não faz sentido.

Sejamos honestos – nunca devemos parar de o repetir -, vivemos numa era de ruído onde a luta pela atenção é uma batalha sem fim. As marcas para além de competirem entre si, têm também influenciadores, meios de comunicação e produtores de conteúdos como adversários por um espaço na mente das pessoas. E isto é facto do qual todos temos conhecimento. O problema com esta situação é que as marcas ao saberem disto, em vez de comunicarem algo que seja relevante e que os seus clientes e consumidores querem ouvir, preferem comunicar algo totalmente diferente. E isso não faz sentido.

Recentemente Jalin Wu, CMO da Uniqlo na China, comentava que no final do dia os clientes são a nossa maior necessidade e, que como tal, não nos devemos apresentar apenas como um produto ou um serviço, mas sim como uma solução para uma necessidade. E esta é uma das grandes verdades que nós, marcas, temos vindo a negligenciar diariamente. Com cada vez menos espaço de atenção, as marcas tentam ser mais criativas e encontrar novas formas de comunicar, esquecendo-se que o mais importante é a mensagem. Esquecemo-nos de qual o nosso papel na sociedade e os benefícios que trazemos. Esquecemo-nos de que um carro para além de tudo mais é uma forma de ir do ponto A ao ponto B. Se a esta solução que oferecemos conseguirmos juntar um emocional que acrescente valor através de uma mensagem relevante ficamos mais próximos do sucesso.

As agências têm aqui um papel fundamental. O papel de impedir que a criatividade seja a única forma de chamar a atenção. As agências têm, na minha opinião, a obrigação de trazer as marcas à terra e de não as deixar comunicar tudo como querem e desejam, sendo os guardiões do interesse das pessoas. Sem dúvida que criatividade é importante. É fundamental encontrar novas formas de comunicar, mas é também mandatário ter em conta que no final do dia trabalhamos para os nossos consumidores/clientes e que eles são o nosso foco.

Depois de ter vindo de agência e de estar no lado de marca, apercebo-me que muitas agências se preocupam com prémios enquanto outras se preocupam em ganhar clientes para a agência. Há ainda as marcas que se preocupam com aquilo que querem dizer e aquilo que vai ser engraçado para a marca. Infelizmente há cada vez menos agências e marcas que se preocupam realmente com as necessidades dos seus clientes finais, com os seus problemas e com aquilo que procuram.

Que sejamos todos, em 2019, capazes de evoluir para este caminho. Por melhores agências e marcas com maior foco nos seus clientes.

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