Objectivos de Desenvolvimento Sustentável: uma realidade ou ficção?

Por Cláudia Ribau, docente no ISCA-UA; António Moreira, docente no DEGEIT-UA; e Carolina Rodrigues, mestre em Gestão pela Universidade de Aveiro (UA)

A sustentabilidade e marketing verde, ou marketing ambiental, têm sido temas muito abordados. Talvez pelas piores ou, quem sabe, melhores razões. A presença dos plásticos no ambiente tem vindo a aumentar de forma assustadora; os indicadores de poluição reflectem aumentos impactantes para a saúde humana e ambiental; o efeito de estufa, as mudanças das condições climatéricas, a finitude assustadora dos recursos naturais e a sua lenta regeneração levam a que estes conceitos se traduzam em práticas urgentes com um posicionamento de consciência ecológica e uma postura eco-friendly, que devem ser práticas quer individuais quer grupais, também em ambiente industrial, numa óptica de responsabilidade social, prevendo o equilíbrio ecológico.

Por isso, quisemos perceber que impactos é que as práticas de sustentabilidade na cadeia de abastecimento e as práticas de responsabilidade ambiental das compras têm nos indicadores de desempenho das empresas. Fomos ainda mais longe. Como a matéria plástica é um dos principais poluentes, este estudo foi dirigido ao sector industrial dos plásticos, onde se identificam os maiores desafios actuais, com foco na utilização racional dos recursos e no seu reaproveitamento, quer por parte da indústria, quer por parte do utilizador final, num consumo consciente e no encaminhamento correcto para uma reutilização (infindável).

Os resultados deste estudo não foram muito animadores. Ainda há muito para investir em políticas estratégicas com vista a uma maior sustentabilidade. É crucial que se dê importância à utilização sustentável dos recursos, numa perspetiva proactiva e de longo prazo, com impacto directo não só nos indicadores de desempenho, como também no futuro do universo.

A sustentabilidade refere-se à conservação de longo prazo e, estando muito associada ao ambiente, tem como objectivo a preservação dos recursos naturais que, sendo finitos, merecem a atenção e um comportamento humano cuidado para que sejam realidade amanhã. Tanto assim é que a Agenda 2030 definida pelas Nações Unidas aborda várias dimensões do desenvolvimento sustentável (social, ambiental e económico), constituída por 17 objectivos (ODS).

Os ODS resultam de um trabalho concertado entre governos e cidadãos de todo o mundo. Definem uma espécie de ‘lista de boas práticas a desenvolver’ em nome do amanhã do planeta, com vista a acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o ambiente e combater as alterações climáticas (Fig. 1).

Fig 1: ODS

As campanhas de sensibilização para a urgência na preservação dos recursos naturais não chegam. Cada pessoa e cada entidade têm que implementar práticas socialmente responsáveis em nome de um equilíbrio ambiental. É comum associarmos estas práticas a uma imagem e a uma reputação positiva, o que ajuda não só a adopção das mesmas (como indivíduos e como empresas), como também a alcançarmos os ODS. Alavancamos, assim, compromissos nas diversas empresas a adoptar estratégias orientadas para uma consciência social e ambiental, integradas no conceito de Marketing socialmente responsável que entronca com o mais ‘recente’ conceito de Marketing Verde.

A finitude dos recursos naturais, as prementes preocupações ambientais e a utilização sustentável de recursos têm um impacto directo nos vários sectores industriais. As empresas podem adoptar uma estratégia reactiva – respeitando e reagindo apenas à legislação que regula as questões ambientais – ou, por outro lado, podem optar por uma estratégia proactiva – focando-se na redução do seu impacto ambiental. Uma grande parte da degradação ambiental advém das cadeias de abastecimento das empresas, onde existe um grande potencial para a melhoria de indicadores de desempenho. É aqui que se verifica uma crescente pressão sobre as empresas para encontrar formas de melhoria da sua atuação, que prevejam compromissos sustentáveis e estratégias de responsabilidade social.

Numa época em que a sustentabilidade se tornou uma das maiores preocupações a nível global, a indústria dos plásticos encontra-se no foco de todas as manifestações de defesa do meio ambiente. A adopção de práticas sustentáveis, fundamentais e imperativas numa sociedade moderna e que se rege por um novo paradigma ambiental, que dá primazia à relação do ser humano com o meio ambiente, representa para este sector industrial um desafio de grande importância, não só por parecer à primeira vista uma contradição com o seu próprio core business, como também constitui um activo reprovável pela opinião pública.

A produção e o uso de plástico têm vindo a aumentar, principalmente devido à capacidade de substituir outros materiais como o papel, metais, madeira e vidro. O plástico é considerado um material poluente principalmente devido ao mau uso e má conduta em relação ao desperdício, tanto da parte do consumidor final, como da parte do sector industrial. A forma como é direccionado após a utilização, quotidiana ou industrial, e os lugares onde o seu depósito tem vindo a ser efectuado prejudicam o planeta. A economia circular da gestão da cadeia de abastecimento foi identificada como uma das principais áreas de sucesso para melhorar a eficácia das indústrias dos plásticos, por ter na sua base o conceito de ‘ciclo fechado’, ideal para um material que tem um grande potencial de reciclagem (sem fim) e uma infindável variedade de utilizações (Fig. 2).

Nesta óptica, a Gestão Sustentável da Cadeia de Abastecimento (GSCA) é crucial, uma vez que se trata da gestão de informação, materiais e capital, bem como da cooperação entre empresas, integrando de forma dinâmica objectivos relacionados com as três dimensões do desenvolvimento sustentável (ODS) que derivam das exigências dos clientes, stakeholders, entre outros. Fomos, então, estudar como o sector industrial dos plásticos está a lidar com esta temática, nomeadamente como se comporta face à GSCA, onde o aprovisionamento é fulcral, pelo que também se procurou perceber como este sector reage à Gestão Ambientalmente Responsável das Compras (GARC).

Fig 2 – Representação das embalagens de plástico

As grandes conclusões deste estudo demonstram que a actividade deste sector face à sustentabilidade é muito reduzida, sendo que muitas práticas e soluções a este nível ainda não estão a ser implementadas ou valorizadas. A mudança para paradigmas sustentáveis está ainda numa fase muito precoce.

Este estudo deixou, ainda, evidente que estas empresas tomam decisões normalmente de curto prazo e reactivas ao invés de decisões planeadas a longo prazo e proactivas, que abracem claramente uma estratégia ambientalmente responsável. Isto é, o investimento ainda é direccionado para soluções operacionais imediatas, de forma a obterem uma rentabilidade imediata e não para soluções sustentáveis no futuro. É igualmente importante compreender que este sector é essencialmente constituído por PME, havendo por isso uma clara necessidade de repensar os apoios a estas empresas, cujos recursos escassos poderão não ser suficientes para enfrentarem o paradigma de mudança incontornável, de uma economia circular.

A mudança de paradigma é imperativa para garantir o bem-estar das gerações futuras. A solução para esta renovação assenta em consciencializar os empresários a tomar medidas estratégicas mais evidentes. Se o plástico é um material ‘poluidor’ para o grande público, as entidades, como um todo, têm de tomar medidas de longo prazo para adaptar as suas práticas à ‘nova’ realidade, assentes em estratégias socialmente responsáveis numa óptica de marketing verde. Certamente, cabe também ao Estado impor estas mudanças, de forma urgente, com uma perspectiva mais proactiva, incentivando a que as empresas criem e implementem políticas de ecocentricidade, rastreabilidade, cultura ambiental e responsabilidade social, com o objectivo de criar um ambiente mais propício a práticas evidentes de sustentabilidade ambiental.

É de realçar a importância dos gestores de topo na adopção de práticas sustentáveis na área das compras. É importante que as empresas cultivem a consciência e responsabilidade ecológica dos seus colaboradores, aumentando os seus conhecimentos e competências técnicas na área da sustentabilidade, fundamentais na mudança de paradigma de uma sociedade que se pretende mais verde.

O desafio da sustentabilidade é de todos. Veio para ficar. As empresas terão tudo a ganhar se trabalharem em conjunto ao longo da cadeia de abastecimento.

 

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