O Valor Maior da Diversidade
Por Margarida Partidário, fundadora e CEO da Arboreall, Empowering Uniqueness
A diversidade é a nossa maior fortaleza, individual e colectiva. É ela que equilibra e potencia os ecossistemas orgânicos, como as sociedades ou as empresas que são em si organizações vivas. No entanto, não existe ainda uma consciência global interiorizada. Estranhamente, parece até que não existe sequer memória dos milhares de anos de evolução. É que este não é um tema novo: no Egipto (3.100 a.C) e Grécia (1.100 a.C.) Antigos existiam já diferentes ideologias, religiões, raças, géneros, orientações sexuais, entre outros, que, ainda hoje, em pleno séc. XXI, servem para hierarquizar, estratificar, fragmentar e enfraquecer.
A gestão pela superioridade de oligopólios de poder e a privação da educação não têm permitido o entendimento das massas de que todas estas diferenças são mais-valias necessárias e compatíveis entre si. Assim, enquanto o conhecimento técnico dos mais variados ramos avança à velocidade da luz, a realização da diversidade como um dos valores centrais da nossa identidade universal não acontece. Quem diz a diversidade diz outros aspectos inerentes à génese humana que são os que parecem custar-nos especialmente. O caminho palmilhado deveria ter-nos levado já mais longe. Pode ser que estejamos agora diante da oportunidade de ultrapassar a questão da diversidade desde a valorização do indivíduo que o humanismo liberal nos trouxe.
Para surfar esta onda, as empresas estão a abandeirar o valor da diversidade como nunca antes e começam a tomar a inclusão como estratégia de comunicação na tentativa de desencadear a afinidade dos seus consumidores/utilizadores e acenar um argumento sonante aos seus actuais e futuros colaboradores. É de notar que as empresas têm vivido das massas pois são estas que lhes dão volume de negócios para a sua subsistência. Por sua vez, as massas agregam-se em função de padrões de comportamento resultantes das mesmas frustrações e aspirações humanas. No entanto, estas massas são compostas por uma grande variedade de perfis que têm vindo a ser empoderados nas suas múltiplas singularidades e mundivisões e a comunicação que era generalizada começou a ferir as susceptibilidades de uma sociedade que, depois de tantos anos oprimida, agarrou a liberdade de ser diversa e onde uma comunicação alargada cada vez é menos adequada.
Desta feita, assistimos a mais e mais marcas a segmentar as suas acções de modo a ir ao encontro das respectivas comunidades-alvo, uma por uma. ;Mas estamos ainda, em boa medida, a ser vítimas da nossa ingenuidade, desconhecimento e desinteresse. Quero com isto dizer que, actualmente, é fácil depararmo-nos com algum dos seguintes casos: uma minoria ou grupo pouco representado que, na tentativa de se fazer representar reclamando inclusão, promove a exclusão; grupos privilegiados, sem real compreensão do/s problema/s, a liderar campanhas, eventos e/ou actividades que pretendem ser inclusivas, mas que acabam por acentuar a exclusão; e,grandes instituições internacionais que podem, e devem, marcar uma posição mas não assumem uma responsabilidade social.
Temos vários casos recentes a comprová-lo e este é um assunto importante, que sendo mal conduzido alimentará um mundo hipersensível com repercussões na vida de tod@s. Na minha opinião, há três erros recorrentes que nos impedem de avançar: por um lado, a desvalorização do/s problema/s, que acontece facilmente pela maioria daqueles que não são vítimas de exclusão, dada a sua incapacidade de se colocarem do outro lado. Como um grande amigo meu diz “Basta uma única pessoa não se sentir incluída para não ser inclusivo”; a falta de representatividade de diversos perfis nas equipas de trabalho; e, por fim, a adesão às causas como se de uma moda se tratassem. Enquanto soam, soamos com elas, porque vende ou fica bem. Há todo um discurso na ponta da língua sendo que, na verdade, na grande maior parte dos casos, pouco pesa na tomada de decisão dos directores que conduzem a vida diária dos negócios (um viva àqueles que sim, estão a fazê-lo bem!). Mas esta hipocrisia e compromisso superficial não se verifica só no que à diversidade diz respeito, também está presente em muitos outros campos como a sustentabilidade, protecção de dados, etc.
A grande maior parte das empresas ainda não compreendeu que o único motivo da sua existência são as pessoas (e o planeta). Quando se fala em modelos de negócio Human2Human (H2H) é disso mesmo que se trata: o princípio, meio e fim do negócio, os seus serviços e produtos são os seus clientes, utilizadores e/ou consumidores. É uma lide altruísta e não egocêntrica, se quisermos. Como um outro amigo meu diz “Se não conecta com tod@s, não é para tod@s”, portanto, o ponto de partida e de chegada tem que ser: todas as pessoas.
A questão é que só chegaremos a tod@s quando existir diversidade (e gestão dessa diversidade) nos organismos, entidades e empresas públicas e privadas. Mas a diversidade dá muito trabalho e, por sua vez, não existe ainda o conhecimento nem as ferramentas apropriadas para facilitar este trabalho. Começam a surgir, aos poucos. No dia em que as empresas e as marcas estiverem preparadas para tratar a diversidade, provavelmente, já não terão que recorrer à dita promoção para chamar a atenção pois nesse dia perceberemos tod@s a riqueza da nossa diversidade (que é, afinal de contas, a característica mais humana que temos) e já a teremos colocado a nosso favor. Nesse dia, estaremos já no capítulo seguinte da agenda da sociedade.