O trabalho define-nos, o perfeccionismo trava-nos
Por Francisco Rio, Portugal Retail Manager – Salesland Portugal
Nos últimos anos, observamos uma mudança significativa na maneira como o trabalho é encarado pelas novas gerações. Com cerca de uma década de experiência no mercado de trabalho, noto que o trabalho deixou de ser apenas uma fonte de rendimento e passou a ser uma parte essencial da nossa identidade e propósito de vida. Somos a geração que busca significado e impacto em tudo o que faz, mas, paradoxalmente, muitas vezes encontramo-nos paralisados pelo perfeccionismo.
A cultura de alta performance que permeia o mundo corporativo incentiva a busca incessante pela excelência. Queremos ser os melhores, inovar constantemente e superar as expectativas. No entanto, essa busca pode rapidamente transformar-se numa armadilha. O perfeccionismo, que à primeira vista parece ser uma virtude, pode tornar-se um bloqueio, impedindo-nos de avançar e de alcançar o nosso potencial máximo de uma forma natural e paulatina.
Como profissionais, enfrentamos o desafio de equilibrar a procura pela excelência com a necessidade de um progresso contínuo. Dessa forma, o ambiente de trabalho que valoriza a evolução e a inovação deve permitir a tentativa e o erro. Sem espaço para falhar, acabamos por desencorajar a criatividade e a ousadia, ingredientes estes que são essenciais para a inovação e o crescimento sustentado de qualquer ser humano.
Percebo que as pessoas da minha geração, especialmente os que agora dão os primeiros passos na carreira profissional, carregam um medo profundo de falhar. Esse medo, alimentado por uma cultura que glorifica o sucesso e estigmatiza o erro, pode ser debilitante. A pressão para alcançar resultados perfeitos desde o início frequentemente leva à procrastinação, ao esgotamento e, em casos extremos, ao burnout.
É fundamental, portanto, que os líderes de hoje, promovam uma cultura que valorize o processo tanto quanto o resultado final. Devem incentivar a experimentação, celebrar as pequenas vitórias e, acima de tudo, normalizar o erro como parte do caminho para o sucesso. Isso não significa baixar os padrões, mas sim redefinir a forma como medimos o sucesso e a excelência.
Adoptar uma mentalidade de crescimento é crucial. Apreciar o esforço e a aprendizagem contínua, em vez de focar apenas nos resultados finais, pode transformar a nossa abordagem ao trabalho. Quando os colaboradores sentem que têm a liberdade de experimentar e aprender com os erros, tornam-se mais empenhados, criativos e resilientes e, seguramente, irão evoluir e enriquecer o seu eu profissional.
Um exemplo prático dessa abordagem é a implementação de ciclos de feedback regulares e construtivos. Feedbacks que destacam não só o que precisa ser melhorado, mas também o que foi bem feito, ajudando assim a construir uma confiança saudável na relação entre os diferentes interlocutores profissionais. Além disso, promover o desenvolvimento pessoal e profissional através de formações e oportunidades de crescimento interno pode reforçar a ideia de que o progresso é um processo contínuo.
No final das contas, o objectivo é criar um ambiente onde todos se sintam motivados a dar o seu melhor, sem o medo paralisante de falhar. Quando se consegue colocar isso em prática, não só vamos melhorar o bem-estar dos nossos colaboradores, mas também impulsionamos a inovação e o crescimento sustentáveis da nossa organização.
Em resumo, o trabalho define a nossa geração, mas o perfeccionismo pode bloquear-nos. Cabe a todos nós, criar condições para que o talento possa florescer sem as amarras do medo de errar. Só assim poderemos alcançar um equilíbrio saudável entre a busca pela excelência e a aceitação do erro como parte do nosso caminho para o sucesso.